quarta-feira, 3 de abril de 2013

Poesia. Os Lusíadas. Episódio de Inês de Castro. «Quando se fala de poesia de amor, Camões vem sempre primeiro. E se alguém pensa que “Os Lusíadas” são apenas, apenas? - Um poema de feitos guerreiros, ficará desenganado…»

Cortesia de costapinheiro

Os Lusíadas. Episódio de Inês de Castro
Tu só, tu, puro Amor, com força crua,
que os corações humanos tanto obriga,
deste causa à molesta morte sua,
como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
nem com lágrimas tristes se mitiga,
é porque queres, áspero e tirano,
tuas aras banhar em sangue humano.

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
de teus anos colhendo doce fruto,
naquele engano de alma, ledo e cego,
que a fortuna não deixa durar muito,
nos saudosos campos do Mondego,
de teus fermosos olhos nunca enxuto,
aos montes ensinando e às ervinhas
o nome que no peito escrito tinhas.

Do teu Príncipe ali te respondiam
as lembranças que na alma lhe moravam,
que sempre ante teus olhos te traziam,
quando dos teus fermosos se apartavam;
de noite, em doces sonhos que mentiam,
de dia, em pensamentos que voavam;
e quanto, enfim, cuidava e quanto via
eram tudo memórias de alegria.

De outras belas senhoras e Princesas
os desejados tálamos enjeita,
que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas
quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
o velho pai sisudo, que respeita
o murmurar do povo e a fantasia
do filho, que casar-se não queria,
[…]

Poema de Luís de Camões, in ‘Os Lusíadas

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