Clarice Lispector, fotografada
por uma amiga em Paris
no final da década de 40.
Cortesia de wikipedia e jdact
Resumo
Este trabalho aponta as
relações interartísticas entre o livro Água
Viva (1973) de Clarice Lispector e as artes plásticas.
Podemos dizer que essa obra é composta por fragmentos que dialogam com a música
e, em especial, com a pintura. Inicialmente foi realizado um estudo sobre a
vida e a obra de Clarice Lispector
e, para tanto utilizamos dois estudos biográficos, o primeiro de Nádia
Battella Gotlib (1995) e o segundo
de Benjamim Moser (2009),
além de alguns comentários de Benedito Nunes e Berta Waldman.
Para que pudéssemos estabelecer o contraponto entre essa narrativa e as artes
plásticas foram realizadas algumas leituras em torno dos estudos comparados,
apoiando-nos em textos de Henry Levin, Tânia Franco Carvalhal e
outros. Teóricos foram lidos para compreender como se dá o intercâmbio entre as
artes. Percebemos que procedimentos empregados no impressionismo, no expressionismo,
no cubismo e, de um modo geral, na
pintura moderna podem ser evidenciados na composição de Água Viva. Num movimento que vai da expressão poética à
expressão plástica, Clarice se
entrega à pintura por meio da palavra.
A partir de uma leitura atenta da obra foram seleccionados trechos que se
correspondem com a pintura.
Notamos que além de
transitar por diferentes estéticas, Clarice
faz, nesse livro, referências às telas que produziu entre 60 e 70, período que
culmina com a composição de Água Viva, o que amplia as
possibilidades de correlacção entre o processo de criação artística do escritor
e do pintor.
Os pintores e os
poetas sempre gozaram da mesma forma do poder de ousarem o que quisessem. In Horácio
Introdução
A literatura comparada é
a disciplina base deste trabalho e, diante do desequilíbrio existente entre a
teoria e a prática dessa disciplina, é preciso lembrar o pensamento de Harry
Levin, 1994, justamente por consistir numa forma de conscientização em
torno da crise da literatura
comparada:
- Debatemos interminavelmente sobre problemas puramente esquemáticos. [...] Resumindo, a substância de nossa busca comum é comprometida por um excesso de ênfase na organização e na metodologia.
Ao compor essa
narrativa, a escritora emprega técnicas que são próprias da pintura impressionista,
cubista, surrealista, entre outras. Além disso, é possível estabelecermos uma relação
entre essa obra e as telas da própria escritora, pintadas entre as décadas de
60 e 70, período em que a mesma escreveu o livro. Benjamim Moser com
pertinência afirma que Água Viva
pode ser aberto em qualquer
página, assim como uma pintura pode ser observada de qualquer ângulo, e pulsa
com uma sensualidade que lhe dá um apelo emocional directo e inigualado.
Clarice comparou a obra com as
imagens de um caleidoscópio. Essa comparação nos faz pensar no diálogo entre
palavra, imagem e movimento que perpassa a obra. Além disso, o próprio título, Água Viva, exprime esse
movimento presente no livro. Essa noção de movimento que se verifica na obra
nos chama atenção, uma vez que os artistas plásticos, como pintores e
escultores, também desejaram transmitir a ideia de movimento por intermédio de
suas obras.
Esse livro de Clarice, apesar de pouco lido, é muito
particular, pois possui uma estrutura diferenciada das demais obras da
escritora, sendo rica em poeticidade e plasticidade o que o torna tão
importante quanto os seus romances mais conhecidos como A hora da Estrela (1977), ou os mais bem estruturados, como A maçã no Escuro (1961). A maior fonte da riqueza de Água Viva são exactamente os atributos poéticos e
plásticos utilizados por Clarice ao
compor essa narrativa». In Joyce Alves,
Palavras que Queimam, As Imagens de Clarice Lispector em Água Viva, Universidade Estadual do
Mato Grosso do Sul, UEMS, Orientação de Maria Helena Queiroz, A479p, Dourados-ms, CDD 20.ed. 800, 2010.
Cortesia da UEMS/JDACT