quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Escravos e Traficantes no império português. O Comércio Negreiro. Séculos XV a XIX Arlindo M. Caldeira. «Em 1949, a Assembleia Geral da ONU adoptou a convenção para a repressão do tráfico de seres humanos e da exploração da prostituição, que, no entanto, mais de sessenta anos depois, em 2011,…»

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Tráfico e Tráficos. Os navios negreiros não param de passar
«(…) No resto do Mundo, a situação é ainda mais preocupante, sendo particularmente grave no sul da Ásia e em África. Além do rápido crescimento de formas diversas de trabalho forçado, a que se passou a chamar escravatura moderna, subsiste ainda, apesar de oficialmente abolida, a escravatura tradicional. Diga-se de passagem que essa abolição é, por vezes, muito recente: a Arábia Saudita, por exemplo, só o fez em 1963, e a Mauritânia em 1980. Fala-se mesmo que, nos nossos dias, no Sudão, na Mauritânia e em alguns países do golfo Pérsico, continuariam a funcionar mercados de escravos, sobre os quais se procura manter uma pesada cortina de silêncio. A Amnistia Internacional denunciava, em Agosto de 2011, a prisão na Mauritânia de quatro activistas da recém criada Iniciativa pata o Ressurgimento do Movimento Abolicionista.
Em 2005, calculava-se que existissem, no Mundo, 27 milhões de pessoas submetidas à escravatura tradicional e entre 250 milhões e 300 milhões de menores (dos 5 aos 17 anos) obrigados a trabalho escravo (doméstico, fabril...), dos quais perto de um milhão (raparigas na sua maioria) lançados anualmente na prostituição. Ao longo do tempo, as organizações internacionais têm procurado, sem muito sucesso, acabar com o que sobra de formas tradicionais de escravatura ou evitar o desenvolvimento de novas modalidades. Em 1926, quando muitos Estados não tinham ainda ilegalizado a compra e venda de pessoas, a Sociedade das Nações aprovou a Convenção Internacional sobre a Escravidão. Tratava-se de um tratado internacional que se esperava que fosse subscrito por todos os países, aos quais era deixada a iniciativa de criar as medidas necessárias e suficientes para acabar definitivamente com a escravatura. Essas medidas foram sendo acompanhadas e aprofundadas pela Sociedade das Nações mas os esforços abolicionistas acabaram por ser interrompidos com a II Guerra Mundial.
O facho dessa luta passará depois para as mãos da Organização das Nações Unidas e dos seus organismos especializados. Em 1949, a Assembleia Geral da ONU adoptou a convenção para a repressão do tráfico de seres humanos e da exploração da prostituição, que, no entanto, mais de sessenta anos depois (em 2011) ainda só tinha sido assinada por 93 países e ratificada por 80. Apesar disso, em 1956, foi aprovada uma convenção suplementar à de 1926, tendo em vista a abolição da escravatura e do tráfico de escravos e das instituições e práticas análogas à escravatura, como a servidão por dívidas, os casamentos forçados, e todas as formas de cedência de menores a terceiros com o fim de os explorar». In Arlindo Manuel Caldeira, Escravos e Traficantes no império português, O Comércio Negreiro no Atlântico durante os séculos XV a XIX, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-478-9.

Cortesia Esfera dos Livros/JDACT