quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Para mim… Poesia. Alexandre O’Neill. «Vai ter capitais, países suspeitas como toda a gente, muitíssimos amigos, beijos namorados esverdeados amantes silenciosos ardente e angustiados»

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Fala!
«Fala a sério e fá-la no gozo
fá-la p’la calada e fala claro
fala deveras saboroso
fala barato e fala caro.

Fala ao ouvido fala ao coração
falinhas mansas ou palavrão.

Fala à miúda mas fá-la bem
fala ao teu pai mas ouve a tua mãe.

Fala franciú fala béu-béu.

Fala fininho e fala grosso
desentulha a garganta levanta o pescoço.

Fala como se falar fosse andar
fala com elegância muita e devagar».


De porta em porta
« - Quem? O infinito?
Diz-lhe que entre.
Faz bem ao infinito
estar entre gente.

 - Uma esmola? Coxeia?
Ao que ele chegou!
Podes dar-lhe a bengala
que era do avô.

 - Dinheiro? Isso não!
Já sei, pobrezinho,
que em vez de pão
ia comprar vinho…

 - Teima? Que topete!
Quem se julga ele
se um tigre acabou
nesta sala em tapete?

 - Para ir ver a mãe?
Essa é muito forte!
Ele não tem mãe
e não é do Norte…

 - Vítima de quê?
O dito está dito.
Se não tinha estofo
quem o mandou ser
infinito?»
Poemas de Alexandre O’Neill, in ‘Poesias Completas, 1951 / 1986

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