A
criação. Koguis, Colômbia
«Primeiro
estava o mar. Tudo estava escuro.
Não
havia sol, nem lua, nem gente, nem animais, nem plantas.
Só
o mar estava em toda a parte.
O
mar era a Mãe.
Ela
era água e água por toda a parte
e
ela era rio, lagoa, cascata e mar
e
assim ela estava em toda a parte.
Assim,
primeiro, só estava a Mãe.
Chamava-se
Gaulchovang.
A
Mãe não era gente, nem nada, nem coisa alguma.
Ela
era Aluna [pensamento ou
ideia].
Ela
era espírito do que estava para vir
e
ela era pensamento e memória.
Assim
a Mãe existiu só em aluna no mundo
mais baixo,
na
profundidade,
só.
Então
quando existiu assim a Mãe,
formaram-se
em cima as terras, os mundos, até onde está hoje
nosso
mundo.
Eram
nove mundos e formaram-se assim:
primeiro
estava a Mãe e a água e a noite.
Ainda
não tinha amanhecido.
A
Mãe chamava-se então Se-ne-nuláng.
Também
existia um pai que se chamava Kata Ke-ne-ne-Nuláng.
Eles
tinham um filho que chamavam Bunkua-sé.
Mas
eles não eram gente, nem nada, nem coisa alguma.
Eles
eram aluna. Eram espírito e pensamento.
Esse
foi o primeiro mundo, o primeiro lugar e o primeiro instante.
Então
formou-se outro mundo mais acima, o segundo mundo.
Então
existia um Pai que era um tigre.
Mas
não era tigre como animal, era tigre em aluna.
Então
formou-se outro mundo mais acima, o terceiro mundo.
Já
começava a haver gente. Mas não tinham ossos nem força.
Eram
como vermes e minhocas.
Nasceram
da Mãe.
Então
formou-se o quarto mundo.
A
sua mãe chamava-se Sáyaganeye-yumáng
e
havia outra Mãe que se chamava Disi-se-yuntaná
e
um Pai que se chamava Sai-taná.
Este
Pai foi o primeiro a saber como iam ser as pessoas do nosso
mundo
e
foi o primeiro a saber que iam ter corpo, pernas, braços e cabeças.
[…]
In
Isabel Aguiar Barcelos, O Mar na Poesia da América Latina, tradução de José
Baptista, Assírio Alvim, documenta poética, Lisboa, 1999, ISBN 972-370-527-3.
Cortesia
de AAlvim/JDACT