«Elizabeth Petre é a honorável esposa de um aspirante a
primeiro-ministro britânico. Diante da sociedade tem que representar o papel da
perfeita esposa, na sua casa, o seu marido mostra-se desdenhoso quando não
indiferente com ela. Para Elizabeth é cada vez mais penoso que seu marido a
mantenha longe do seu coração e do seu leito e com a ideia de voltar a
seduzi-lo, de fazer com que esqueça as suas inúmeras amantes, aprendendo as
mesmas artes que elas. Para conseguir, recorre a Ramiel Devington, o filho bastardo de uma nobre inglesa e um sheik
árabe. Repudiado pela sociedade britânica, ele aceita a proposta da dama, pois
intui que apesar da sua fria aparência, Elizabeth esconde um espírito livre e apaixonado
que prisioneira de convencionalismos anseia em escapar e poder desfrutar tudo o
que a vida pode oferecer. Dia a dia, lição a lição, Ramiel vai mostrando a
Elizabeth um mundo desconhecido, ensinando-lhe todos os segredos da arte da
sedução e subtilmente, atiça o fogo e a sensualidade, com consequências
dramáticas e inesperadas para os dois»
«Ramiel não consentiria que nenhuma mulher o chantageasse e
não lhe importava quão forte pudesse ser a sua necessidade de satisfação
sexual. Apoiou contra a porta da biblioteca e observou com os olhos
semicerrados à mulher que estava em pé frente às portas envidraçadas que davam para
o jardim. Ligeiros retalhos de bruma estendiam-se entre ela e as cortinas
abertas. Em contraste com estas, como colunas de seda amarela, a mulher parecia
um escuro monólito embainhado em lã negra. Elizabeth Petre. De costas,
não a reconheceu, coberta como estava, dos pés a cabeça com um chapéu e uma
grossa capa negra. Mas na realidade não a teria reconhecido nem nua frente a
ele, com os braços e as pernas abertas o convidando lascivamente. Ele era o sheik
bastardo, filho ilegítimo de uma condessa inglesa e de um sheik árabe. Ela
era a esposa do ministro da Economia e Fazenda e seu pai o primeiro-ministro da
Inglaterra. Pessoas como ela não se misturava socialmente com gente como ele,
salvo a portas fechadas e sob lençóis de seda. Ramiel pensou na mulher de
escuros cabelos cuja cama acabava de deixar, apenas uma hora. A marquesa de
Clairdon tinha-o seduzido num baile de rameiras, onde tinha dançado nua igual
ao resto das assistentes. Usara-o para alimentar a sua excitação sexual e
durante algumas horas converteu-se no animal que ela desejava, investindo,
esmagando e amassando no interior de seu corpo até encontrar aquele momento de
liberação perfeita onde não existiam nem passado, nem futuro, nem Arábia, nem
Inglaterra, somente o esquecimento. Talvez teria possuído também aquela mulher
se esta não tivesse forçado a entrada de sua casa deliberadamente através da
coacção e a chantagem. Com os músculos tensos pela cólera contida, afastou
devagar o frio contacto do mogno e atravessou silencioso o tapete persa que
cobria o chão da biblioteca. O que é que pretende, Petre, invadindo o meu lar e
me ameaçando? A sua voz, um áspero murmúrio de refinamento inglês que ocultava
a ferocidade árabe, ricocheteou no arco formado pelas portas e alcançou a barra
de bronze da cortina que bordeava o muito alto tecto circular. Pôde sentir o
sobressalto de temor da mulher, farejando-o quase por cima da neblina húmida. Ramiel
desejava que sentisse medo. Desejava que se desse conta de quão vulnerável era,
sozinha na guarida do sheik bastardo sem que o seu marido ou seu pai
pudessem protegê-la. Queria que soubesse da maneira mais elementar e primitiva
possível que o seu corpo lhe pertencia para dar a quem quisesse e que não
admitiria chantagens na hora de conceder os seus favores sexuais. Ramiel fez
uma pausa sob o abajur aceso e
esperou que a mulher se voltasse e enfrentasse as consequências de sua maneira
de agir. O gás que queimava vaiou, causando uma pequena explosão no gélido
silêncio. Vamos, Petre! Não foi tão reservada com o meu criado. Disse,
provocando-a brandamente, sabendo o que ela queria, desafiando-a a pronunciar
as palavras. Palavras proibidas, palavras conhecidas: Quero gozar com um árabe. Quero desfrutar com um bastardo. O que
poderia querer uma mulher como ela, de um homem como eu? Lenta, muito lentamente,
a mulher voltou-se, num redemoinho de lã entre as brilhantes colunas amarelas
das cortinas de seda. O véu negro que cobria a sua face não pôde ocultar a
impressão que lhe causou. Um sorriso zombeteiro apropriou-se dos lábios de
Ramiel. Sabia o que ela estava pensando. O que toda a mulher inglesa pensava
quando o via pela primeira vez. Um homem que é meio árabe não tem o cabelo da
cor do trigo dourado pelo sol. Um homem que é meio árabe não se veste como um
cavalheiro inglês. Um homem que é meio árabe... Quero que me ensine como
agradar um homem. A voz da mulher estava sufocada pelo véu, mas as suas
palavras foram diáfanas. Não eram as que tinha esperado. Durante um minuto que
pareceu eterno, o coração de Ramiel deixou de pulsar dentro do seu peito.
Imagens eróticas desfilaram ante seus olhos... Uma mulher... Nua...
Possuindo-o... De todas as formas em que uma mulher pode possuir um homem...
Pelo prazer dele... E também pelo dela. Um fogo abrasador estalou entre as suas
pernas. Podia sentir, contra sua vontade, que a sua pele se inchava, endurecia,
trazendo-lhe lembranças que já nunca voltariam, exilado como estava naquele
país frio e sem paixão aonde as mulheres o usavam para suas próprias
necessidades... Ou o desprezavam pelas suas. Uma fúria primitiva apropriou-se
de seu ânimo. Contra Elizabeth Petre, por invadir o seu lar para a sua própria
satisfação egoísta sob a aparência de querer aprender como dar prazer a um
homem. Contra ele mesmo que aos trinta e oito anos ainda sentia a necessidade
de pegar o que ela podia oferecer, ainda sabendo que era uma mentira: as
mulheres inglesas não estavam interessadas em aprender a fazer gozar um sheik
bastardo». In Robin Schone, O Tutor, The Lady’s Tutor, Kensington Publshing,
Eagle, tradução de Ceila Sarita, Wikipédia, 2009/2013, ISBN 978-075-829-193-6.
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