Quem
era Pedro Fernandes Queirós?
«(…)
Considerava-se um piloto excelente, tinha a sua empresa ou descoberta como a
mais valiosa e não escondia quanto se orgulhava disso. E insistia que o rei financiasse,
com urgência, o seu projecto porque dele teria muitos benefícios. Señor, al práctico no le es possible mostrar
lo que ha de obrar; cuando se hallará en las ocasiones, ayúdeme V.M. en esta su
obra, que es demasiadamente grande, y por ser de tanta honra y gloria de Dios, y
a V.M. tan importante, es bien que V.M. la levante de una vez y muy de prisa,
que la arte es larga, las vidas breves, la práctica muy difícil de adquirir, y
mucho más los ánimos de conocer, y sin remedio los daños, de perderse las
buenas ocasiones y el tiempo. É curioso notar como os dois descobridores,
separados de um pouco mais de um século, usaram expressões muito semelhantes
para descreverem o que viram, o que preferiram ver ou o que imaginaram ter
visto:
- são os casos de Pedro Fernandes Queirós (1565-1615), descobridor de ilhas numa parcela meridional do Pacífico, sem ter chegado a encontrar a Terra Australis, que era o objectivo da sua missão;
- e de Cristóvão Colombo (1451-1506), descobridor de ilhas próximas de uma parcela oriental do continente americano, sem ter encontrado as terras do Cipango, ou da Ásia, pelo ocidente, que era o objectivo da sua missão.
Cito
alguns exemplos. Cristóvão Colombo na carta de 17 de Outubro de 1492 dirigida aos Reis Católicos, relativamente à ilha Fernandina escreveu o
seguinte: Crean Vuestras Altezas que es
esta tierra la mejor y más fértil y temperada y llana que haja en el mundo; as
casas eram adentro muy barridas y limpas; ... de muchas poblaciones que yo vi […]
las casas son de madera, las pertenencias muy limpias. Acerca de Jerusalém
é evidente nos dois descobridores o espírito de cruzada. É uma das forças motoras
da empresa de Colombo, como pode ser lido no final da sua carta de 26 de
Dezembro de 1492: no regresso a
Castela levaria hun tonel de oro que
habrian rescatado los que habia de dejar y que habriam hallado la mina del oro
y la especiara, y aquello en tanta cantidad que os reyes antes de tres años
emprendiesen y aderezasen para ir a conquistar la Casa Santa […]; que toda la
ganancia de esta empresa se gastase en la conquista de Jerusalén.
Viagens e descobertas de ilhas no Sul do
Pacífico a mando da Coroa Espanhola, em tempos da decadência do seu Império.
A travessia do Pacífico por Fernão
Magalhães e Juan Sebastian El Cano, por conta da Coroa Castelhana, em 1519-1522, reactualizou mitos, como
o local de minas do rei Salomão, e velhas teorias medievais, como a existência da
Quarta Pars Incognita. Até à
ocupação das Filipinas em 1565 pela
expedição colonizadora liderada por Miguel López Legazpi (1502-1572), o primeiro governador-geral das Índias Orientais
Espanholas que incluíam Filipinas e alguns outros arquipélagos, como Guam e Marianas,
e o estabelecimento da capital em Manila no ano de 1571, as navegações espanholas tinham-se circunscrito ao Pacífico setentrional
e à descoberta de ilhas aí existentes, ainda que houvesse notícias que para o sul
também haveria outros territórios insulares. Para os descobrir tiveram lugar as
navegações empreendidas a partir do Vice-Reino do Peru no último terço do século
XVI e primeiros anos do século XVII.
Entre
1567
e 1606 três expedições espanholas, todas elas partindo do porto de Callao
da cidade de Lima, navegaram até aos confins ocidentais do Mar do Sul,
descobriram numerosas ilhas e tiveram lugar os primeiros contactos de europeus com
melanésios e polinésios. Dessas expedições as duas primeiras, em 1567-1569
e 1595, tiveram o comando de Álvaro Mendaña y Neyra. Na segunda Pedro
Fernandes Queirós foi o piloto-mor. A terceira expedição, em 1605-1606,
teve-o como comandante, sendo o seu segundo Luis Vaz Torres. O propósito era o da
descoberta da mítica Terra Australis nondum incognita que
alguns cartógrafos ilustres representaram nas suas cartas e globos». In
Ilídio Amaral, Pedro Fernandes de Queirós ou Pedro Fernández de Quirós
(1565-615), o Descobridor de ilhas, o Visionário de um continente cheio de
riquezas […]), Edições Colibri, Lisboa, 2014, ISBN 978-989-689-446-7.
Cortesia
de EColibri/JDACT