O futuro da cooperação cultural Luso-Timorense. 2001
Condições internas
«(…) Condições internas
é apenas uma das possíveis expressões para significar algumas das variáveis que
poderão ser interessantes em ordem a compreender a realidade histórica de Timor
Lorosae, em si e na actual conjuntura, e para situá-la como sujeito ou
objecto, ou melhor dito, como co-sujeito, na definição de espaços de cooperação
bilateral e multilateral entre as entidades envolvidas. Debruçando-nos sobre a
Cooperação Luso-Timorense, a expressão, ao ter Timor Lorosae como
referência fundamental e palco de acções, engloba também o outro termo do
binómio, Portugal. Se não se pode ter a visão das partes sem o todo, e vice-versa,
ou seja: se não se pode falar do futuro
de cooperação luso-timorense sem falar da Cooperação no seu todo; se não se
pode ter a visão de Timor Lorosae sem ter presente, por um lado, a visão do Timor
Ocidental e a Indonésia, o contexto social e geopolítico da região Ásia/Pacífico
e, por outro lado, a visão de Portugal e CPLP, da Europa, UNTAET e Comunidade
Internacional: aparece bem claro que a expressão vem colocar-nos face a uma
questão singularmente complexa.
Nessa ordem de coisas a
expressão condições internas assume
triplo sentido: primeiro, é sinónimo do conceito de situação e engloba o conjunto
de dados objectivos e concretos, de substantivo(s), que determinam e se tornam imprescindíveis
ao pretendermos abordar a actual fase mais ou menos longa da História
de Timor Lorosae, Fase de Emergência e de Transição; segundo, representa
o conceito de condicionante, de verbo, na medida em que a situação histórica e
os dados de facto definem os princípios operacionais, as metodologias e as
estratégias a coordenar nos sucessivos procedimentos; terceiro, implica um conjunto
de princípios a priori e a posteriori que deverão justificar e
normalizar toda a acção e todo o conjunto de princípios inerentes.
Fase de Emergência e Transição
Na óptica do triplo
sentido atrás proposto, a Fase de Emergência e de Transição constitui
referência imprescindível não só de tipo de projectos de Cooperação como de
toda e qualquer acção que vise Timor Lorosae no presente e nos
próximos tempos. Tanto para os nossos concidadãos timorenses como para os interlocutores
internacionais esse duplo conceito de Emergência e Transição tornou-se um
domínio comum, um espaço de diálogo e de (inter)acções.
A Fase de Emergência e a Cooperação
Luso-Timorense
O CNRT definiu como Fase
de Emergência o tempo entre 30 de Agosto de 1999 e Dezembro de 2000 com
possível prolongamento para mais alguns meses, o tempo caracterizado pela
múltipla precariedade (carências, lacunas, necessidades) que afecta a nossa
população, nomeadamente desde os trágicos acontecimentos subsequentes à
proclamação dos resultados do referendo. O programa/objectivo é responder, de
forma o mais célere e adequado possível, àquelas necessidades básicas que nos
colocam no mesmo patamar que os outros animais, ao mesmo tempo que nos
distinguem deles, e que alguns psicólogos humanistas como Maslow situam na base
da pirâmide de motivações existenciais e da hierarquia de necessidades vitais:
as necessidades de natureza fisiológica e biológica (fome, sede, sono, ausência
da dor e de tensão, expressão sexual) e de segurança (ausência de medo,
tranquilidade, conforto, ambiente estável e ordenado).
Desde cedo e mais recentemente os indicadores de necessidades
manifestados nomeadamente pela camada juvenil parecem demonstrar que não
existem fronteiras claras, sequência hierárquica e temporal entre as
necessidade de base e de topo, ou que a cultura timorense parece apresentar
modelos diferentes ou inversos aos maslovianos e das sociedades socialmente
mais evoluídas. O bispo Basílio Nascimento, da diocese de Baucau, muito
depressa compreendeu a educação não só como função psicológica de ocupação do
tempo ou de simples necessidade natural de aprendizagem, mas também como certa
necessidade de auto-estima e de auto-realização, começando a abrir escolas logo
que possível, salvo erro, desde Setembro/Outubro de 1999. Muito rapidamente
as escolas, funcionando em barracas, em casas sem tecto, debaixo de árvores e não
importa onde, revelaram um tal nível de interesse e de afluências que se sentiu
a importância de reciclagem de professores timorenses disponíveis e a formação
de formadores no terreno». In Alberto Araújo, O futuro da cooperação
cultural Luso-Timorense, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão
Portuguesa, Coordenação de Roberto Carneiro, Povos e Culturas, U. C.
Portuguesa, nº 7, patrocínio de Comissariado para o apoio à Transição de
Timor-Leste, 2001.
Cortesia da UCatólicaP/JDACT