O futuro da cooperação cultural Luso-Timorense. 2001
«Portugal está agora em
condições de reconstruir, com renovado sentido estratégico, a teia de relações
seculares que sucessivas gerações de portugueses foram tecendo, ao longo dos
séculos, por esse mundo fora e que constituem um património extraordinário».
Considerações
«Colocar a questão em
termos de O Futuro da Cooperação…,
poderia conduzir o debate à dimensão de probabilidades ou à visão profética.
Tal alternativa, que vulgarmente distingue a fé científica da fé religiosa, não
se tornaria geradora de impasses se admitirmos a hipótese de que, num certo
ponto e mais cedo ou mais tarde, ambas as perspectivas acabarão por se cruzar,
possibilitando espaços de identificações onde a aventura de abordagem de
interrogações cosmológicas e antropológicas poderia abrir novos horizontes.
Entretanto, dado que há questões concretas, importantes e urgentes directa ou
indirectamente relacionadas com a problemática em foco, certamente que estamos
todos interessados em ultrapassar tudo aquilo que possa constituir fonte de
polémicas de divisões e concentrar todas as atenções em construir plataformas
de consenso e de acção.
Ultrapassar e resolver
de forma positiva as fontes de divisionismos, de lutas partidárias e
fratricidas, e canalizar todos os recursos para a reconstrução do país tão destruído
é o espírito da reconciliação nacional para a qual todos, desde os mais antigos
aos mais recentes responsáveis de toda a desordem, todos são fraternalmente
interpelados. Fazer o levantamento de todas as formas e meios para viabilizar e
garantir o futuro da cooperação
luso-timorense e, enfim, de qualquer iniciativa que vise participar na
construção de uma nova nação para o novo milénio e para sempre, não
deixará de deparar com dificuldades e obstáculos: é uma aventura que implica
riscos; mas vale a pena todo o risco quando a esperança é grande e bela a
recompensa: a independência de uma nação
irmã: Timor Lorosae.
Onze meses após o
acontecimento, o Referendo, que juntou morte e vida ou morte(s) (dos
heróis que deram a vida pela liberdade) e nascimento (de uma nova nação), o
Povo de Timor Lorosae continua irreversivelmente empenhado na
reconstrução nacional, esperançado em ver (re)nascer a vida e a nova vida de
paz, de liberdade e independência. Ele tem clara consciência de que, se a luta
foi difícil, mais difícil ainda é e será a construção da independência. Treze
meses após o Acordo de 5 de Maio entre a ONU e os governos de Jacarta e de
Lisboa, Portugal, apesar da transferência
(…) da autoridade em Timor Leste para as Nações Unidas (Art. 6),
continua na linha de frente, ao lado do povo timorense, ambos empenhados em
criar as condições necessárias para garantir a capacidade, viabilidade,
estabilidade e qualidade de Independência da nova nação.
No círculo aberto da presente reflexão os interlocutores são
fundamentalmente os concidadãos timorenses que têm à sua roda um número
infinito de irmãos portugueses e lusófonos (irmão
é uma expressão particularmente típica do espírito tradicional timorense) e do
mundo inteiro, todos unidos na mesma vontade e compromisso: colaboração,
cooperação, participação. E uma das formas dessa participação/cooperação
reside naquela atitude filosófica da reconciliação nacional: sair de si próprio,
caminhar ao encontro dos irmãos (para fora de si) e redescobrir-se a si próprio
(voltar a si) numa plataforma de entrecruzamentos do pensar e do ser,
individual e colectivo, todos conscientes da sua nova natureza de serem células
dinâmicas de uma e mesma Nação. Dado que se trata de um primeiro encontro, está
fora da minha intenção qualquer pretensão de ser perfeito e rigoroso,
exaustivo, categórico e concludente. Terei atingido alguns dos objectivos se
surgirem outras reflexões mais ricas e profundas, mais técnicas e científicas,
e se a necessidade de profissionalismo na abordagem das questões inspirar os
concidadãos vocacionados para a especialização em matérias de Cooperação». In Alberto
Araújo, O futuro da cooperação cultural Luso-Timorense, Centro de Estudos dos
Povos e Culturas de Expressão Portuguesa, Coordenação de Roberto Carneiro, Povos
e Culturas, U. C. Portuguesa, nº 7, patrocínio de Comissariado para o apoio à
Transição de Timor-Leste, 2001.
Cortesia da UCatólicaP/JDACT