segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Povos e Culturas. Centro de Estudos. Coordenação de Roberto Carneiro. Alberto Araújo. «No círculo aberto da presente reflexão os interlocutores são fundamentalmente os concidadãos timorenses que têm à sua roda um número infinito de irmãos portugueses e lusófonos»

Cortesia de wikipedia

O futuro da cooperação cultural Luso-Timorense. 2001
«Portugal está agora em condições de reconstruir, com renovado sentido estratégico, a teia de relações seculares que sucessivas gerações de portugueses foram tecendo, ao longo dos séculos, por esse mundo fora e que constituem um património extraordinário».

Considerações
«Colocar a questão em termos de O Futuro da Cooperação…, poderia conduzir o debate à dimensão de probabilidades ou à visão profética. Tal alternativa, que vulgarmente distingue a fé científica da fé religiosa, não se tornaria geradora de impasses se admitirmos a hipótese de que, num certo ponto e mais cedo ou mais tarde, ambas as perspectivas acabarão por se cruzar, possibilitando espaços de identificações onde a aventura de abordagem de interrogações cosmológicas e antropológicas poderia abrir novos horizontes. Entretanto, dado que há questões concretas, importantes e urgentes directa ou indirectamente relacionadas com a problemática em foco, certamente que estamos todos interessados em ultrapassar tudo aquilo que possa constituir fonte de polémicas de divisões e concentrar todas as atenções em construir plataformas de consenso e de acção.
Ultrapassar e resolver de forma positiva as fontes de divisionismos, de lutas partidárias e fratricidas, e canalizar todos os recursos para a reconstrução do país tão destruído é o espírito da reconciliação nacional para a qual todos, desde os mais antigos aos mais recentes responsáveis de toda a desordem, todos são fraternalmente interpelados. Fazer o levantamento de todas as formas e meios para viabilizar e garantir o futuro da cooperação luso-timorense e, enfim, de qualquer iniciativa que vise participar na construção de uma nova nação para o novo milénio e para sempre, não deixará de deparar com dificuldades e obstáculos: é uma aventura que implica riscos; mas vale a pena todo o risco quando a esperança é grande e bela a recompensa: a independência de uma nação irmã: Timor Lorosae.
Onze meses após o acontecimento, o Referendo, que juntou morte e vida ou morte(s) (dos heróis que deram a vida pela liberdade) e nascimento (de uma nova nação), o Povo de Timor Lorosae continua irreversivelmente empenhado na reconstrução nacional, esperançado em ver (re)nascer a vida e a nova vida de paz, de liberdade e independência. Ele tem clara consciência de que, se a luta foi difícil, mais difícil ainda é e será a construção da independência. Treze meses após o Acordo de 5 de Maio entre a ONU e os governos de Jacarta e de Lisboa, Portugal, apesar da transferência (…) da autoridade em Timor Leste para as Nações Unidas (Art. 6), continua na linha de frente, ao lado do povo timorense, ambos empenhados em criar as condições necessárias para garantir a capacidade, viabilidade, estabilidade e qualidade de Independência da nova nação.
No círculo aberto da presente reflexão os interlocutores são fundamentalmente os concidadãos timorenses que têm à sua roda um número infinito de irmãos portugueses e lusófonos (irmão é uma expressão particularmente típica do espírito tradicional timorense) e do mundo inteiro, todos unidos na mesma vontade e compromisso: colaboração, cooperação, participação. E uma das formas dessa participação/cooperação reside naquela atitude filosófica da reconciliação nacional: sair de si próprio, caminhar ao encontro dos irmãos (para fora de si) e redescobrir-se a si próprio (voltar a si) numa plataforma de entrecruzamentos do pensar e do ser, individual e colectivo, todos conscientes da sua nova natureza de serem células dinâmicas de uma e mesma Nação. Dado que se trata de um primeiro encontro, está fora da minha intenção qualquer pretensão de ser perfeito e rigoroso, exaustivo, categórico e concludente. Terei atingido alguns dos objectivos se surgirem outras reflexões mais ricas e profundas, mais técnicas e científicas, e se a necessidade de profissionalismo na abordagem das questões inspirar os concidadãos vocacionados para a especialização em matérias de Cooperação». In Alberto Araújo, O futuro da cooperação cultural Luso-Timorense, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa, Coordenação de Roberto Carneiro, Povos e Culturas, U. C. Portuguesa, nº 7, patrocínio de Comissariado para o apoio à Transição de Timor-Leste, 2001.

Cortesia da UCatólicaP/JDACT