«O
catálogo de um compêndio de histórias em torno de um tema histórico que concita
a curiosidade de um público cada vez mais vasto. Com efeito, raros foram os
dramas humanos que, tal como aquele protagonizado pela Ordem do Templo,
suscitaram paixões tão díspares, contraditórias e persistentes. A copiosa
bibliografia, antiga e moderna, disponível, apesar de nem sempre imaculada,
constitui indício seguro da perenidade se não do ideário templário, pelo menos
da inquietação que enigmas nunca cabalmente esclarecidos, como o do seu
lendário tesouro ou do misterioso ídolo que alegadamente adoravam, tem
persistido em alimentar, o único estudo, em vernáculo, acerca da inquirição
instaurada em França pelo Santo Ofício (maldito) aos templários, saiu da pena de Vieira de Areia, O
Processo dos Templários, Porto, 1947.
A
possibilidade da sobrevivência da Ordem após a sua suspensão canónica, em 1308, também não é questão despicienda.
A avaliar pela profusão de sociedades, umas discretas, outras secretas, que se
reivindicam herdeiras do Templo, essa parece ter-se tornado, pelo menos desde o
século XVIII, pretexto bastante para a reinvenção de inauditos ritos
iniciáticos, creditados, de forma quase sempre anacrónica, aos Templários. Tais
constatações são verídicas também para Portugal.
Porém, o
público não dispondo aqui de alternativas credíveis, uma vez que são raros os
investigadores independentes e os académicos que não fogem do assunto, como se
diz que o diabo foge da cruz, é compelido a consumir produtos importados,
invariavelmente de qualidade duvidosa. Acresce a tudo isto a desvantagem
adicional de, geralmente, esses produtos ignorarem, omitirem ou subvalorizarem
o papel da Ordem de Cristo, autêntica sucessora e herdeira do Templo, cuja
práxis e projecto adoptou, nacionalizando-os, donde a pertinência da designação
de Ordem Templária de Portugal, proposta por Fernando Pessoa. O
Infante Henrique logrou reaver para a Ordem de Cristo a maior parte das
prerrogativas e privilégios que haviam sido apanágio do instituto militar que Clemente
V condenara ao limbo. A negligência e a deserção por parte dos
especialistas nacionais tem, por outro lado, facilitado a adopção, bem como a
implantação de um elevado número de elucubrações fantasiosas e infundadas,
produzidas ora por franco-atiradores, ora por dignatários ou simples filiados
em associações neotemplárias portuguesas ou transnacionais.
A
utilidade do empreendimento chegou a merecer, convém recordá-lo, o
reconhecimento de autoridades como Pedro A. Azevedo ou Jaime Cortesão, o qual
sublinharia ainda a necessidade de conduzir tal estudo ponderando o quanto do
tesouro templário, espiritual, mas também material, terá sido investido na
preparação e concretização da expansão marítima, bem como na consolidação do
Império português.
Com esse
desiderato em mente dedico-me desde há cerca de vinte e cinco anos à pesquisa
dos testemunhos templários e templaristas na história e na cultura lusas. Em
vários escritos e comunicações orais, conferências e visitas guiadas tenho
vindo a abordar aqueles que considero os aspectos mais relevantes dessa
herança, com a convicção de que estudá-la, divulgá-la e, finalmente, assumi-la
constituem condições sine qua non para a efectiva compreensão das
condições subjacentes ao advento do estado português (ambos, a Ordem do
Templo e Portugal remontam ao ano de 1128),
mas igualmente das circunstâncias que poderão ter condicionado o movimento da
sua história, concitando o respectivo destino, ainda incompletamente cumprido,
consoante a avisada intuição do poeta.
Romance Histórico e Prosa Novelística
Anónimo A Torre do Templo. In Archivo Popular, v. ??? (18??);
Matilde Asensi, Iacobus. Plaza & Janés, 2000, Tradução do
castelhano: Iacobus: romance histórico, Lisboa, Esquilo,
2002;
Barbara Escrava (pseud. Yvette Centeno), As
Muralhas, Lisboa, Eetc., 1986. Tomar é um dos cenários da acção
e os templários um dos pretextos da trama. Reed. in Os Jardins de Eva (Lisboa, Asa, 1998);
Pierre Barbet, Baphomet's Meteor, Londres,
Daw Books, 1972, Tradução portuguesa de Eurico da Fonseca: Os Cruzados do Espaço (Lisboa, Livros do Brasil,
1979);
José Brak-Lamy, O Pupilo de Gualdim Pais, in Ecos de Tomar (17 Jun. 1923);
In Manuel J. Gandra, Os
Templários e o Templarismo na Literatura Portuguesa e traduzida para português (século
XIV - 2006), pdf.
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