Fenómenos Inexplicáveis. Coincidências Estranhas
«(…) Vinte anos antes outro acidente excepcional ocorrera na zona,
precisamente no mesmo corredor de voo que os irmãos Roth haviam utilizado em Maio
de 1992; o chamado Victor 379, que percorre o triângulo do
Alasca dividindo-o em dois. Naquela ocasião, 16 de Outubro de 1972, foram dois políticos que desapareceram;
um era o líder da maioria na Câmara dos Representantes, Thomas Hale Boggs, a
quarta pessoa com mais poder no governo dos Estados Unidos a seguir ao
presidente, e o outro, um promissor congressista Nick Begich, de 40 anos de
idade. Boggs não nascera no Alasca nem sequer residia neste estado, mas sempre
mantivera uma relação especial com a zona desde que apoiou o projecto de lei da
concessão do estatuto de estado da União para o Alasca. Como era líder da
maioria na Câmara dos Representantes, naquele 16 de Outubro, Boggs acompanhava
o congressista Begich na sua campanha de reeleição como representante do Alasca
no Senado dos Estados Unidos. Ao contrário do veterano Boggs, que contava já,
quinze legislaturas e era na altura, membro da Comissão Warren que em 1964 se encarregara da investigação do
assassinato do presidente John F. Kenedy, Nick Begich era um novato que estava
a tentar levar por diante o que possivelmente terá sido o projecto de lei mais
importante na história do Alasca: a Lei de Arbitragem das Reclamações dos
Indígenas do Alasca; o acordo de maior envergadura que alguma vez fora
assinado nos Estados Unidos com os nativos norte-americanos. Compreendia 178
000 quilómetros quadrados de terra e um orçamento de cerca de mil milhões de
dólares.
Às nove da manhã, Begich e Boggs, juntamente com o assistente Russell Brown,
sobrevoaram Anchorage a bordo de um bimotor Cessna
pilotado por Don Jonz, um conhecido piloto local de 38 anos e muita experiência
nas duras condições do Árctico, mais famoso também na sua profissão, pela sua
arrogância e paixão pelo risco. Doze minutos depois de iniciar o voo, Jonz forneceu
o plano de voo à torre de controlo com todos os pormenores e confirmou que o
avião contava com os dispositivos de emergência necessários. Foi a primeira e a
última comunicação que se estabeleceu com o aparelho. Ao meio-dia e meio o aeroporto
de destino na cidade de Juneau anunciou o atraso do voo. Ninguém se preocupou,
na altura, pois que os atrasos deste tipo são comuns em aviões pequenos e porque,
além disso, os ocupantes do aeroplano estavam nas mãos de um mestre em
aterragens de emergência como Jonz. Ao cair da noite, ainda não se sabia nada
dos quatro homens, pelo que foram dados como desaparecidos. As respectivas famílias
foram avisadas e, face à importância dos políticos, a notícia apareceu em todos
os noticiários vespertinos do país. Foi então montada a maior operação de busca
alguma vez levada a cabo nos anos setenta nos Estados Unidos.
Apesar do mau tempo, do gelo e da neve, um Hercules HC130 das Forças Aéreas saiu em busca dos desaparecidos,
rastreando toda a zona através das nuvens e em plena noite com os seus sistemas
de infravermelhos. Entretanto, na estreita passagem de Portage, ao sul de
Anchorage, de onde se ouvira a última mensagem de Jonz e que é tristemente
conhecida dos seus habitantes pela grande quantidade de aviões ali acidentados,
uma unidade de infantaria com onze homens explorou a zona a pé. E mais, admitindo
a hipótese de o Cessna desaparecido
ter cruzado a baía de Prince William, barcos da guarda costeira patrulharam as
frias águas semeadas de icebergues, embora a probabilidade de sobrevivência em
águas com temperaturas abaixo dos 2ºC seja apenas de quinze minutos, segundo as
estimativas. Utilizaram-se câmaras e sensores de tecnologia avançada que na
época ainda estavam em fase experimental e a Patrulha Aérea Civil do Alasca
chegou, inclusivamente, a empregar pela primeira vez, numa operação de busca e
resgate, um avião espião secreto, o SR 71,
capaz de fotografar a face de uma moeda a 9000 metros de altitude. Não se
pouparam nem os meios humanos nem a tecnologia mais avançada numa grande operação,
ordenada a partir das mais altas instâncias do governo dos Estados Unidos,
devido aos importantes cargos públicos dos desaparecidos. Aos enormes recursos
oficiais juntaram-se, também, grande quantidade de voluntários civis que
procuraram, a pé ou nos seus aviões particulares, qualquer sinal. Mas nem um
sinal do aeroplano, sequer». In Canal da História, O Alasca e o seu
Triângulo das Bermudas, Os Grandes Mistérios da História, 2008, Clube do Autor,
Lisboa, 2010, ISBN 978-989-845-206-1.
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