jdact
A capela de Vasco Esteves de Guatuz. Bens vinculados à capela de Vasco
Esteves
«(…) Os imóveis que então garantiam o pagamento das
capelanias eram dominados por uma grande herdade no termo de Elvas, a herdade
da Torre
de Guatus, a qual, arrendada, dava ao tempo ao administrador cerca de trezentos
mil réis por ano. Demarcavam esta propriedade vinte marcos, oito dos quais em
mármore de Estremoz e com um letreiro que dizia Gatus, acompanhados de
suas testemunhas. De perímetro, entre marcos, eram mais de doze quilómetros. Para
além desta herdade grande, os bens da capela incluíam, no termo de Estremoz,
três pedaços de olivais e, arriba de Anha
Laura, a herdade denominada Devezinha.
Os restantes bens, cinco casas na vila, um chão em Anha Loura, hoje dita Ana Loura, uma azenha e metade de outra,
dezassete vinhas, uma delas também com oliveiras, um chão com oliveiras e um
serrado, tudo ao que parece no termo de Estremoz, estavam aforados e rendiam,
anualmente, mais de quatro mil réis, doze galinhas, meio almude de vinho e
vinte alqueires, muito provavelmente, de trigo. As propriedades e os foros,
incluindo a herdade grande de Elvas, davam um rendimento anual estimado, nos
meados do século XVI, em trezentos e trinta mil réis.
NOTA: Da grande herdade no termo de Elvas, a lembrança
dá-nos, pormenorizadamente, os limites, a colocação dos marcos e a distância
entre eles, bem como as dimensões das casas ali existentes e o seu número de
divisões. Descreve também a torre de Guatus, torre velha que
tinha o comprimento, pela parte do Nascente, de sete varas e, pela parte da
estrada, contra os frades de Santo Agostinho de Coimbra, que possuíam então a herdade
do Curvo, cinco varas, tendo pela outra parte, contra o Sul, também cinco
varas. A torre tinha duas tulhas em baixo e uma divisão em cima. Pegada a ela,
havia uma casa com forno.
Execução das disposições testamentárias
Fr. Fernando Roberto Gouveia, ao responder, com manifesta
sensibilidade histórica, ao inquérito que em 1758 deu origem à colecção das Memórias Paroquiais, hoie
conservadas no Arquivo Nacional da
Torre do Tombo, quando se reportou ao túmulo de Vasco Esteves,
acrescentou que junto deste túmulo esta
sepultada sua mulher, D. Margarida Vicente, que faleceu alguns anos antes. Esta
informação sobre a data relativa do falecimento de D. Margarida Vicente não
corresponde à realidade. Senhora crente e esmoler, ainda em 1384 era viva, como já dissemos. Nesse
ano mandou lavrar ao tabelião de Estremoz Álvaro Pires as suas últimas
vontades.
NOTA: O testamento de Margarida Vicente teve, como o de seu
marido, um percurso curioso. Lavrado em Estremoz, nas casas da testadora, em 15
de Abril de 1384 (1422 da era de
César), o seu original, pergamináceo, foi apresentado no mosteiro de S.
Francisco de Estremoz, pelo juiz Gonçalo Martins, a 15 de Fevereiro do anno do nacimento de Nosso Senhor Jezus
Christo de mil e quatrocentos e vinte e tres annos, na presença de Vasco
Afonso, juiz por el-rei na vila, segundo diz um traslado do século XIX. Em 25
de Janeiro de 1622 foi parcialmente transcrito,
em Lisboa, no tombo da capela instituída por Margarida Vicente no referido
mosteiro (ANTT - Tombo das Capelas da Coroa, livro 4). Em 15 de Julho de
1638 foi feito um traslado dele para
o tombo do mesmo convento estremocense, pelo tabelião António Gonçalves. Com
base neste registo fez o tabelião de notas de Estremoz Manuel Inácio Fernandes,
em 8 de Outubro de 1814, um traslado
autêntico que foi apensado a uns autos cíveis de abolição da capela de
Margarida Vicente lavrados em Estremoz a 9 de Setembro de 1815. É junto a esses autos que o texto integral do testamento de
Margarida Vicente hoje se encontra (ANTT-Desembargo do Paço. Alentejo e
Algarve, maço 289, n.º 18). O original pergamináceo parece estar perdido. Adiante,
transcrevemos o traslado de 1814.
O testamento revela, também, um forte pendor pelo cenóbio
franciscano de Estremoz. Mando, diz ela, ser emterrada no mosteiro de
Sam Francisco do dicto logo e que me emterrem no abito de São Francisco.
Institui testamenteiros a Gil Nunes e Diogo Nunes, seu sobrinho, e a Mafalda Vicente,
sua prima, e manda que des da morte da dicta Mafalda Uisente em
diante cante por mim hum capellão a missa por minha alma em cada hum dia em o
dicto mosteiro e saia sobre mim e diga a dicta misa por mim frade do dicto
mosteiro qual meus testamenteiros consederem. À capela de D. Margarida
Vicente foram vinculados bens que é de supor terem pertencido, no todo ou em
parte, ao casal, os quais incluíam diversas casas em Sousel, uma delas na Rua Nova,
perto do coval, e que fora lagar de vinho, duas covas de ter pão nesse mesmo
coval, uma delas com capacidade para cinco moios e meio de trigo, vários
ferragiais, dois fornos de cozer tijolo, a horta
das Fontainhas, um pomar, a horta das Viúvas, outras hortas e
pomares, chãos, mais casas e um moinho». In Mário Alberto Nunes Costa, Vasco Esteves
de Gatuz e o seu Túmulo Trecentista em Estremoz, Academia Portuguesa da
Historia, 1993, ISBN 972-624-094-8.
Cortesia da AP da Historia/JDACT