segunda-feira, 16 de junho de 2014

Vasco Esteves de Gatuz e o seu Túmulo Trecentista em Estremoz. Mário Nunes Costa. «Podemos fazer hoje uma ideia, ainda que pálida, do que foram esses bens através de uma lembrança das propriedades, colhida, no início do século XVII, no respectivo Livro dos Administradores»

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Identificação de ‘Gatuz’
«(…) Nesse topónimo estará também, muito provavelmente, a origem de uma emblemática assumida e traduzida num brasão que foi comum ao vizinho de Estremoz e à família Gato. Poderá supor-se que o cavaleiro Estêvão Gonçalves, vizinho de Vila Viçosa, e sua mulher, D. Sancha Anes, proprietários de uma das herdades de que nos vimos ocupando, em Gatuz, na primeira metade do século XIV, tenham algum parentesco com Vasco Esteves. O patronímico deste e de seu irmão Martim não rejeita a hipótese, pode apontar um estreito elo, porventura a paternidade. Mas não é possível estabelecê-la, enquanto persistir a ausência de testemunhos que a assegurem.

NOTA: A uma ascendência desconhecida e a um escasso número de familiares identificados, no que se refere a Vasco Esteves, contrapõe-se uma genealogia de família em que, para os séculos XIII e XIV, os livros de linhagem e alguns outros documentos permitem identificar mais de uma centena de membros e parentes afins, sem que em algum momento se descortine uma sobreposição reveladora de inserção de Vasco Esteves ou de seus parentes na família Gato.

Certezas e Interrogações
É altura de recapitularmos:
  • Vasco Esteves, o de Estremoz, viveu no século XIV;
  • Foi vizinho e morador na então vila de Estremoz;
  • Casou com D. Margarida Vicente e o casal não teve descendência;
  • Da sua família, conhecem-se vários elementos: um irmão, cunhados, sobrinhos e primos consanguíneos e por afinidade, bem como um parente não especificado;
  • Foi escudeiro;
  • Teve bom relacionamento na sociedade estremocense;
  • Possuiu razoáveis bens materiais em numerário e em bens imóveis situados nos termos trecentistas de Estremoz e Elvas, designadamente, neste último, a herdade da Torre de Gatuz;
  • Foi amante da caça, em especial de altanaria;
  • Foi pessoa temente a Deus, esmoler, protector de parentes, generoso para com familiares, servidores, amigos, pobres, em especial os envergonhados, peregrinos, virgens casadoiras, igrejas e mosteiros;
  • Fez testamento em 1363, cujo texto integral se conhece;
  • Teve por testamenteira a sua mulher, cujo testamento de 1384, também é conhecido;
  • Instituiu uma capela com ónus pio na igreja do mosteiro de S. Francisco de Estremoz, à qual vinculou bens imóveis situados, ao tempo, nos termos de Estremoz e Elvas. O mesmo sucedeu com a sua viúva;
  • Contribuiu para a construção desse mosteiro franciscano;
  • Morreu entre a primeira semana de Abril de 1363 e 15 de Abril de 1384;
  • Foi sepultado em túmulo trecentista na igreja do mosteiro de S. Francisco de Estremoz, túmulo classificado monumento nacional em 1922;
  • Foi designado, pelo menos desde 1408 e até à segunda metade do, século XVII, com o sobrenome de domínio de Gatuz, pelo que, modernamente, passou a ser conhecido por Vasco Esteves de Gatus;
  • O seu túmulo ostenta, por duas vezes, um brasão com peças falantes, dois gatos passantes e sobrepostos, dentro de bordadura carregada de crescentes, a mais antiga representação que conhecemos de armas que foram, igualmente, das famílias Gato e Gatacho.
Apesar destas certezas, a sua biografia conserva muitas interrogações. Por isso a investigação que lhe diz respeito deve prosseguir, em parte para esclarecer qual a ascendência de Vasco Esteves, qual a data do seu nascimento, como se desenvolveu a sua vida, em família e em sociedade, como se processou a sua ascensão a escudeiro, como terá entrado na posse de seus bens imóveis e como os utilizou correntemente, qual o nível intelectual desse homem, que previu a possibilidade de um sobrinho querer seguir estudos e o dotou para tal, e qual a data exacta do seu falecimento.

A capela de Vasco Esteves de Guatuz. Bens vinculados à capela de Vasco Esteves
Para assegurar a satisfação dos encargos financeiros resultantes da instituição da sua capela, Vasco Esteves vinculou-lhe vários bens. Podemos fazer hoje uma ideia, ainda que pálida, do que foram esses bens através de uma lembrança das propriedades, colhida, no início do século XVII, no respectivo Livro dos Administradores, referente a 1556». In Mário Alberto Nunes Costa, Vasco Esteves de Gatuz e o seu Túmulo Trecentista em Estremoz, Academia Portuguesa da Historia, 1993, ISBN 972-624-094-8.

Cortesia da AP da Historia/JDACT