domingo, 2 de novembro de 2014

Artista. Agostinho da Silva. «E em primeiro lugar: deve ser a felicidade um critério? Para mim, só é questão a felicidade própria, acho que a dos outros deve ser sempre um critério. Sempre? Se Beethoven, para compor a sua música, se Dante, para escrever a sua poesia, se Tolstoi, para viver a sua vida, mais bela, mais dramática do que os livros…»

Os turistas fotografaram… Fiz o mesmo! Portalegre na Idade Média
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Liberte o artista que há dentro de si
«Ninguém pensa que pintar, modelar ou gravar seja património comum da natureza de homem; e que o sejam igualmente a poesia ou a dança: acha-se que são um dom, uma genialidade, e além de tudo raros. Olha-se o Renascimento italiano como uma época de monstros, quando na verdade cada um dos homens que nele mais admiramos tinha os mesmos recursos de natureza humana que nós temos. O que aconteceu é que devido a circunstâncias que não se repetiram na História, mas que está hoje em nosso poder fazer repetir, eles puderam ter a coragem de se libertar de limitações, de escrúpulos, de antolhos, e se lançaram à suprema aventura de ser o que eram; nós, porém, deitados num novo leito de torturas, nos cortamos naquilo em que sobramos dos estreitos, inadequados, padrões de outras idades». In Agostinho da Silva, ‘Só Ajustamentos’.

O sorriso estava nas faces dos turistas… Mais uma para ‘memória futura’, Nov2014
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No artista há sempre duas pessoas
«No artista há sempre duas pessoas: o homem que pode ser ou não ser de excelente qualidade, e o artista; é o homem que se emociona e da sua qualidade depende a qualidade das emoções; o artista, que nunca se comove, que é um empedernido espectador, e por isso mesmo cria ao homem graves problemas morais, esse contempla o que se passa, anota, arquiva e, logo que se liberta do homem, escreve ou compõe; e há tal nitidez e segurança no que apreendeu que o homem fica quase sempre com a impressão de que não foi mais do que um servidor do artista, que foi um escravo, um ser utilizado; daí os desesperos e as revoltas. Não é quando se está em transe de amor, o único momento em que verdadeiramente se ama, que se escreve ou se compõe ou se pinta: é depois, quando o amor se abateu, quando reina o artista, quando é só em todo o campo, e há do amor apenas a lembrança, quase uma reminiscência platónica, no sentido de que foi uma experiência que nos excedeu e de que só poderemos recordar fragmentos e talvez o que menos valha». In Agostinho da Silva, ‘Sete Cartas a Um Jovem Filósofo’.

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