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«(…) A poucos metros do torreão
de Nicolau V, numa carrinha estacionada na via Corridori, quatro figuras de
fato escuro tinham acabado de ouvir os seus telefonemas. A voz camuflada não
tinha sido reconhecida, mas o telefone de Spada, os seus movimentos e as suas
operações bancárias eram permanentemente seguidas. Quase em simultâneo, do
outro lado do globo, mais precisamente em Santa Mónica, na Califórnia, Robert
Maina, um advogado cinquentão de belo porte e indubitável inteligência, estava
a entrar no tribunal civil com um dossiê relativo ao próprio Spada.
O automóvel de Andreas Henkel
circulava lentamente na estrada coberta de neve: era um enorme jipe americano com
mudanças automáticas e pneus pitonados. Por mais que tivesse planeado aquela
noite, o agente dos Serviços Secretos do Vaticano não podia certamente
adivinhar que logo naquele momento crucial da missão lhe seriam úteis as quatro
rodas motrizes para se mover agilmente numa Turim gelada e deserta. Tinha tido
sorte, como sempre. Embora possuísse um indiscutível fascínio, Henkel não era
um homem atraente: o rosto estava marcado por traços duros e angulares, a pele
era pálida e áspera, os olhos profundos e escuros; o cabelo preto cortado à
escovinha e uma estatura mediana. O seu ar confiante e seguro, no entanto,
fazia-o conquistar lisonjeiros resultados, como ele adorava defini-los, com
muitas das mulheres com as quais se relacionava, por trabalho ou por prazer. Passava
pouco das nove da noite quando o automóvel parou junto ao passeio da via San
Domenico, muito próximo em linha recta da catedral de Turim, mesmo em frente do
museu do Santo Sudário.
Um prelado envolto num casaco
preto comprido estava à sua espera atrás de uma porta de vidro. Saiu da
penumbra assim que o automóvel desligou o motor e, caminhando na neve, aproximou-se
do jipe. O homem permaneceu de pé, com o guarda-chuva aberto, ao lado do carro.
Henkel abriu a janela e observou-o da cabeça aos pés. Saia!, ordenou. O padre
não se moveu um centímetro e declamou a frase que tinha preparado. Acabei mesmo
agora a vistoria. Presumo que tenha corrido tudo bem, respondeu Henkel,
sorrindo. Queria demonstrar mais segurança do que aquela que realmente tinha. Estamos
a fazer a coisa certa?, perguntou o prelado. Não estaria aqui se assim não
pensasse.
O padre pegou numa maleta
cinzenta de metal e passou-a através da janela ao agente do Vaticano. Henkel
agarrou na mala com as duas mãos e colocou-a no banco do passageiro. Depois
entregou ao homem um dispositivo preto pouco maior que uma moeda de um cêntimo.
Sabe o que fazer. Tem menos de meia hora!, concluiu. Não esperou pela resposta.
Fechou a janela, engatou a primeira e dirigiu-se novamente para a Piazza de San
Carlo. O padre permaneceu imóvel a observar o automóvel a afastar-se. Suspirou
profundamente e caminhou em passo apressado até à catedral com o transmissor
GPS na mão». In GL Barone, Conspiração no Vaticano, 2013, Casa das Letras, 2013, ISBN
978-972-462-197-5.
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