sábado, 4 de agosto de 2018

Conspiração no Vaticano. GL Barone. «O padre pegou numa maleta cinzenta de metal e passou-a através da janela ao agente do Vaticano. Henkel agarrou na mala com as duas mãos e colocou-a no banco do passageiro»

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«(…) A poucos metros do torreão de Nicolau V, numa carrinha estacionada na via Corridori, quatro figuras de fato escuro tinham acabado de ouvir os seus telefonemas. A voz camuflada não tinha sido reconhecida, mas o telefone de Spada, os seus movimentos e as suas operações bancárias eram permanentemente seguidas. Quase em simultâneo, do outro lado do globo, mais precisamente em Santa Mónica, na Califórnia, Robert Maina, um advogado cinquentão de belo porte e indubitável inteligência, estava a entrar no tribunal civil com um dossiê relativo ao próprio Spada.
O automóvel de Andreas Henkel circulava lentamente na estrada coberta de neve: era um enorme jipe americano com mudanças automáticas e pneus pitonados. Por mais que tivesse planeado aquela noite, o agente dos Serviços Secretos do Vaticano não podia certamente adivinhar que logo naquele momento crucial da missão lhe seriam úteis as quatro rodas motrizes para se mover agilmente numa Turim gelada e deserta. Tinha tido sorte, como sempre. Embora possuísse um indiscutível fascínio, Henkel não era um homem atraente: o rosto estava marcado por traços duros e angulares, a pele era pálida e áspera, os olhos profundos e escuros; o cabelo preto cortado à escovinha e uma estatura mediana. O seu ar confiante e seguro, no entanto, fazia-o conquistar lisonjeiros resultados, como ele adorava defini-los, com muitas das mulheres com as quais se relacionava, por trabalho ou por prazer. Passava pouco das nove da noite quando o automóvel parou junto ao passeio da via San Domenico, muito próximo em linha recta da catedral de Turim, mesmo em frente do museu do Santo Sudário.
Um prelado envolto num casaco preto comprido estava à sua espera atrás de uma porta de vidro. Saiu da penumbra assim que o automóvel desligou o motor e, caminhando na neve, aproximou-se do jipe. O homem permaneceu de pé, com o guarda-chuva aberto, ao lado do carro. Henkel abriu a janela e observou-o da cabeça aos pés. Saia!, ordenou. O padre não se moveu um centímetro e declamou a frase que tinha preparado. Acabei mesmo agora a vistoria. Presumo que tenha corrido tudo bem, respondeu Henkel, sorrindo. Queria demonstrar mais segurança do que aquela que realmente tinha. Estamos a fazer a coisa certa?, perguntou o prelado. Não estaria aqui se assim não pensasse.
O padre pegou numa maleta cinzenta de metal e passou-a através da janela ao agente do Vaticano. Henkel agarrou na mala com as duas mãos e colocou-a no banco do passageiro. Depois entregou ao homem um dispositivo preto pouco maior que uma moeda de um cêntimo. Sabe o que fazer. Tem menos de meia hora!, concluiu. Não esperou pela resposta. Fechou a janela, engatou a primeira e dirigiu-se novamente para a Piazza de San Carlo. O padre permaneceu imóvel a observar o automóvel a afastar-se. Suspirou profundamente e caminhou em passo apressado até à catedral com o transmissor GPS na mão». In GL Barone, Conspiração no Vaticano, 2013, Casa das Letras, 2013, ISBN 978-972-462-197-5.
                 
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