“Bento de Jesus Caraça estudava para saber e
ser útil ao seu semelhante, não para ‘trepar’ na carreira. Por isso lhe fizeram
tanto mal aqueles que passam a vida a apregoar a moral em nome disto e daquilo.
Quando se estuda para ‘trepar’ na carreira, que não para saber, o conhecimento
ofusca-se e a mediocridade abunda. É exactamente por amediocridade ‘saber tudo’,
que quase tudo vai mal”. In Armando Araújo (Não
me lembro quem disse isto, mas é verdade)
‘Em nenhum momento, o
homem de ciência pode dizer que atingiu a faceta última da realidade; o mais
que pode desejar é dar uma descrição, uma imagem que satisfaça às duas
exigências fundamentais: a interpretação
e a previsão . […] E
é esta acção recíproca, tantas vezes desconhecida ou desdenhada por certos
homens de ciência e certos filósofos que vai a todo o momento tecendo a
Ciência, fazendo dela esse maravilhoso instrumento humano, instrumento de luta,
sempre incompleto, constantemente aperfeiçoado’. In Bento de Jesus Caraça.
Copenhaga
Cortesia de wikipédia
O que se segue diz
respeito a uma questão de Física, num exame da Universidade de Copenhaga:
“Descreva como
determinar a altura de um arranha-céus, usando um barómetro”.
Um estudante respondeu:
- “Amarro uma longa corda à parte mais estreita do barómetro, a seguir faço baixar o barómetro do telhado do arranha-céus até ao chão. O comprimento da corda mais o comprimento do barómetro será igual à altura do edifício”.
Esta resposta, altamente
original, enfureceu o examinador, que ‘chumbou’ imediatamente o aluno. Este
apelou, baseando-se no facto de que a sua resposta estava indubitavelmente
correcta, e a Universidade nomeou um árbitro independente para decidir o caso. Na
verdade, o árbitro decidiu que a resposta estava correcta, mas que não
demonstrava qualquer conhecimento de Física. Para resolver este problema,
foi decidido chamar o estudante e permitir-lhe que, em seis minutos,
providenciasse uma resposta verbal, na qual mostrasse, pelo menos, uma certa
familiaridade com os princípios básicos de Física.
Durante cinco minutos o
estudante ficou em silêncio, franzindo a testa, como que em pensamento
profundo. O árbitro lembrou-lhe que o tempo estava a passar, ao que o estudante
respondeu ter diversas respostas extremamente relevantes, mas que não sabia
qual delas utilizar. Sendo avisado para se despachar, replicou da seguinte
forma:
- “Em primeiro lugar, poderei pegar num barómetro, ir até ao telhado do arranha-céus, deixá-lo cair ao longo da parede e medir o tempo que ele demora a atingir o chão. Desta forma, a altura do edifício poderá ser trabalhada a partir da fórmula: H = 0,5g x t2. Mas isto seria má sorte para o barómetro”.
- “Ou, então, se o sol estivesse a brilhar, poderia medir a altura do barómetro, depois de assentá-lo na extremidade e medir o comprimento da sua sombra. Em seguida, iria medir o comprimento da sombra do arranha-céus e, depois de tudo isto, seria uma simples questão de aritmética proporcional para calcular a altura do arranha-céus. Era assim que os antigos gregos resolviam este tipo de problemas”.
- “Mas , se quiser ser rigorosamente científico acerca disto, poderei amarrar uma longa corda ao barómetro e abaná-lo como um pêndulo, primeiro ao nível do chão e, depois, ao nível do telhado do arranha-céus. A altura é trabalhada pela diferença na força da gravidade: T = 2p".
- “Ou, se o arranha-céus tiver uma escada exterior de emergência, será mais fácil usá-la e marcar a altura do arranha-céus em comprimentos do barómetro e, em seguida, adicioná-los.”
- “Se, simplesmente, quiser ser chato e ortodoxo na resposta, certamente poderei usar o barómetro para medir a pressão de ar no telhado do arranha-céus e no solo, e converter os milibares em pés, para dar a altura do edifício”.
- “Mas, uma vez que constantemente estamos a ser exortados a exercitar o pensamento independente e a aplicar os métodos científicos, indubitavelmente a melhor forma seria ir bater à porta do porteiro e dizer-lhe: —Se gostar de ter um barómetro bonito ofereço-lho, desde que me diga a altura do arranha-céus”.
O estudante em causa era
Niels
Bohr, o físico dinamarquês que ganhou o Prémio Nobel da Física
‘Uma teoria é um enunciado universal que serve para racionalizar e explicar o mundo que nos rodeia. Uma ciência é um sistema de teorias, sistematicamente construído e bem elaborado. A ciência é a busca do significado prático, isto é, a busca de uma explicação que possa ser usada. A ciência consiste, entre outras coisas, em ordenar, simplificar, tornar assimilável pelo espírito o que lhe é indigesto’. In Herman Hesse.
‘A arte é uma manifestação distraída da inteligência’. In Fernando Pessoa.
‘A música é um exercício oculto de aritmética de uma alma inconsciente que lida com números’. In Leibniz.
In Armando Araújo, Matemática
Lúdica, A Cultura é a única bagagem que não ocupa espaço, mas nem todos a podem
transportar, AMBA, 2003.
continua
Com a amizade do Armando
JDACT