jdact e cortesia de uaum/lfontes
«Uma imposta
granítica, decorada com motivo em espinha e roseta, poderá ser de cronologia
mais avançada, eventualmente associável à reconstrução alto-medieval da igreja
de Dume.
Aos séculos V-VII deve reportar-se igualmente a tampa de sepultura com
restos de mosaico recolhida no adro da igreja, onde integrava um conjunto de
três sepulturas alto-medievais, nas quais foi reutilizada como cabeceira.
Depois da edificação da basílica e da reconversão da uilla em mosteiro, no século VI, o sítio não parece
ter conhecido grandes transformações, testemunhando-se arqueo-logicamente a sua
ocupação até ao século IX. Em 866 documenta-se o abandono do mosteiro por parte
do seu abade Sabarico, que se refugia em Mondonhedo, no litoral Norte galego.
Em 911, Ordonho II da Galiza manda delimitar novamente o termo de Dume e
confirma a anterior doação ao bispo de Mondonhedo, feita em 877 por Afonso III
das Astúrias. Terá sido no quadro desta manutenção do interesse por Dume por
parte da corte asturiana, que se terá reedificado a primitiva basílica sueva de
Dume, erguendo-se então uma nova igreja paroquial.
O contexto bracarense:
topografia e arquitectura cristãs antigas
Capital provincial romana e sede episcopal cristã desde finais do
século III, Bracara Augusta
foi, nos séculos V e VI, capital do Reino Suevo, afirmando-se como um lugar
central do cristianismo do Noroeste Peninsular, a Sedis Bracarensis. Após a anexação pelo Reino Visigodo, em
585, Bracara continuou
a beneficiar da aliança estabelecida entre a Coroa e a Igreja, mantendo o
estatuto de capital provincial civil e sede metropolitana eclesiástica.
Tal como se verificou
noutros núcleos urbanos do mundo romano tardio, Bracara Augusta não terá deixado de reflectir a nova
‘ordem’ veiculada pela emergência e
fixação do cristianismo, pois o poder político, administrativo e económico
nunca se dissociou do poder religioso, sendo esse vínculo reforçado quanto o
cristianismo foi decretado, em 380, religião oficial do Estado.
No caso da cidade, para
além de se verificar que toda a área intra-muros permaneceu ocupada até finais
do século VII, constata-se que os grandes edifícios públicos romanos conheceram
uma desactivação progressiva, adaptando-se alguns deles a novas
funcionalidades, como sugere a implantação da catedral bracarense numa zona
onde se admite que poderá ter existido um mercado romano.
Por sua vez, nos suburbia,
surgem novos pólos de referência cristãos, com a construção de basílicas
cemiteriais, como parecem confirmar os vestígios de necrópoles em São Victor e
em São Vicente, ambas junto a eixos viários importantes que ligavam Braga ao
interior galego. É também nos arredores de Bracara que se constroem dois
dos mais importantes mosteiros do Noroeste Peninsular – o de Dume, no século
VI, por iniciativa de São Martinho, e o de São Salvador de Montélios, no século
VII, por iniciativa de São Frutuoso, ambos bispos de Braga e Dume.
Ainda no século V, construiu-se no monte da Falperra ou de Santa Marta
das Cortiças, antigo povoado fortificado sobranceiro à cidade de Braga, um
amplo edifício áulico, com templo paleocristão anexo. Muito semelhante às
instalações palatinas de Recópolis, cidade do centro peninsular de fundação
visigótica, a Falperra poderá corresponder ao assentamento de um chefe ou rei
suevo.Do ponto de vista da arquitectura e da decoração arquitectónica, os
restos conhecidos dos templos bracarenses deste período revelam-nos, por um
lado, uma surpreendente actualização de modelos construtivos, detectando-se
influências oriundas da zona adriática e, por outro lado, a perduração de
padrões arquitectónicos romanos, com evoluções que acolhem as tradições
decorativas locais, assimilando a simbólica do cristianismo.
In Luís Fontes, A Igreja Sueva
de São Martinho de Dume, Arquitectura Cristã Antiga de Braga e na Antiguidade Tardia
do Noroeste de Portugal, Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho,
Revista de História da Arte, 2008.
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