quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Duas Estratégias Divergentes na Busca das Índias. D. João II vs Colombo. José M. Garcia. «Um desses indícios que lhe mereceu maior atenção foi o da existência de canas de grandes proporções que foram arrastadas pelos ventos do poente (na verdade correntes marítimas) para a ilha de Porto Santo»

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Colombo e as canas vindas do Ocidente
«(…) Estas expressões constituem declarações perentórias sobre o teor dos contactos estabelecidos entre o genovês e o rei português que estivera falando com ele sobre estas coisas relacionadas com a via ocidental de chegar às Índias. Elas surgem no contexto em que se equacionou a importância dos indícios reunidos sobre terras orientais que se situavam a ocidente das ilhas atlânticas portuguesas, entre os quais se destacavam a descoberta de canas grossas em que de um nó a outro cabiam nove garrafas de vinho, que vinham do Ocidente e foram detectadas pelos portugueses.
A consistência das informações obtidas por Colombo dos indícios de terras situadas a ocidente das ilhas portuguesas do Atlântico no sentido de levar avante a teoria de Toscanelli são completadas por indicações de outros autores que seguiam também as ideias do sábio florentino.

As canas nos testemunhos de Martin Behaim e Jerónimo Münzer
O encontro de grandes bambus vindos do Ocidente constituiu um dos indícios mais consistentes entre os que foram recolhidos por Colombo com vista a fundamentar a pertinência da tese de Toscanelli sobre a acessibilidade a terras asiáticas por uma via ocidental. Por tal motivo essas plantas foram alvo da atenção não apenas do famoso genovês mas também de outros contemporâneos que como ele partilhavam da mesma convicção ser essa perspectiva preferível à seguida por João II. Esta realidade vem não apenas corroborar mas também reforçar a credibilidade do conteúdo das fontes colombinas, estando atestada por Martin Behaim e Jerónimo Münzer, dois dos homens desse tempo que revelaram grande interesse por estas matérias.
Martin Behaim, também conhecido por Martinho da Boémia, nasceu em Nuremberga a 6 de Outubro de 1459 e morreu em Lisboa a 29 de Julho de 1509. Este alemão depois de ter feito comércio na Alemanha e nos Países Baixos veio para Portugal depois de Maio de 1484, tendo a 18 de Fevereiro de 1485 sido armado cavaleiro por João II e casado antes de 1488 com Joana de Macedo, de quem teve um filho a 6 de Abril de 1489. Esta fidalga era filha do flamengo Joss vas Hurrere, conhecido como Jos Dutra, que foi capitão das ilhas do Faial e do Pico.
Behaim interessou-se pelos descobrimentos portugueses sobre os quais terá registado a sua história de acordo com o testemunho que recolheu junto de Diogo Gomes talvez entre 1485 e l490. O nosso alemão alegou ainda que participou numa viagem à costa africana com Diogo Cão, mas como não o pode ter feito na sua primeira viagem (1482-1484), resta a hipótese de ter participado na segunda (1495-1486) ou de ter viajado até à costa do Benim com João Afonso de Aveiro cerca de 1485. Note-se que foi neste ano que segundo registo de Colombo numa nota à margem do f. V da Historia rerum gestarum de Eneas Silvio Piccolomini que traduzimos:
  • El-rei de Portugal enviou à Guiné, no ano do senhor de 1485, mestre José, seu físico e astrólogo, para reconhecer a altura do sol em toda a Guiné. Este cumpriu com tudo e anunciou ao dito sereníssimo rei, estando eu presente, que (...) no dia 11 de Março achou que distava da equinocial um grau e cinco minutos na ilha chamada dos Ídolos, que está perto da Serra Leoa; e procurou isto com o máximo cuidado.
João II aludiu de forma indireta a Behaim na carta de confirmação passada a Fernão Dulmo e a João Afonso do Estreito a 24 de Julho de 1486 ao referir-se ao cavaleiro alemão que em companhia deles há de ir, que ele, alemão escolha ir em qualquer caravela que quiser, depois de a 3 de Março de 1486 ter já aprovado o projecto de Fernão Dulmo, que nos queria dar achada uma grande ilha ou ilhas ou terra firme per costa que se presume ilha das Sete Cidades e isto tudo à sua própria custa e despesa. Esta projectada viagem, que também foi do conhecimento de Colombo, deveria iniciar-se na ilha Terceira em Março de 1487 mas acabou por não se realizar». In José Manuel Garcia, D. João II vs Colombo, Duas Estratégias divergentes na busca das Índias, Quidnovi, 2012, Vila do Conde, ISBN 978-989-554-912-2.

Cortesia de Quidnovi/JDACT