Colombo e as canas vindas do Ocidente
«(…) Estas expressões constituem declarações perentórias sobre o teor dos
contactos estabelecidos entre o genovês e o rei português que estivera falando com ele sobre estas coisas
relacionadas com a via ocidental de chegar às Índias. Elas surgem no contexto
em que se equacionou a importância dos indícios reunidos sobre terras orientais
que se situavam a ocidente das ilhas atlânticas portuguesas, entre os quais se
destacavam a descoberta de canas grossas
em que de um nó a outro cabiam nove garrafas de vinho, que vinham do
Ocidente e foram detectadas pelos portugueses.
A consistência das informações obtidas por Colombo dos indícios de
terras situadas a ocidente das ilhas portuguesas do Atlântico no sentido de
levar avante a teoria de Toscanelli são completadas por indicações de outros
autores que seguiam também as ideias do sábio florentino.
As canas nos testemunhos de Martin Behaim e Jerónimo Münzer
O encontro de grandes bambus vindos do Ocidente constituiu um dos
indícios mais consistentes entre os que foram recolhidos por Colombo com vista
a fundamentar a pertinência da tese de Toscanelli sobre a acessibilidade a
terras asiáticas por uma via ocidental. Por tal motivo essas plantas foram alvo
da atenção não apenas do famoso genovês mas também de outros contemporâneos que
como ele partilhavam da mesma convicção ser essa perspectiva preferível à
seguida por João II. Esta realidade vem não apenas corroborar mas também
reforçar a credibilidade do conteúdo das fontes colombinas, estando atestada
por Martin Behaim e Jerónimo Münzer, dois dos homens desse tempo
que revelaram grande interesse por estas matérias.
Martin Behaim, também conhecido por Martinho da Boémia, nasceu em Nuremberga a 6 de Outubro
de 1459 e morreu em Lisboa a 29
de Julho de 1509. Este alemão
depois de ter feito comércio na Alemanha e nos Países Baixos veio para Portugal
depois de Maio de 1484, tendo a 18
de Fevereiro de 1485 sido armado
cavaleiro por João II e casado antes de 1488
com Joana de Macedo, de quem teve um filho a 6 de Abril de 1489. Esta fidalga era filha do
flamengo Joss vas Hurrere, conhecido como Jos Dutra, que foi capitão das
ilhas do Faial e do Pico.
Behaim interessou-se pelos descobrimentos portugueses sobre os quais
terá registado a sua história de acordo com o testemunho que recolheu junto de
Diogo Gomes talvez entre 1485 e l490. O nosso alemão alegou
ainda que participou numa viagem à costa africana com Diogo Cão, mas como não o
pode ter feito na sua primeira viagem (1482-1484), resta a hipótese de ter
participado na segunda (1495-1486) ou de ter viajado até à
costa do Benim com João Afonso de Aveiro cerca de 1485. Note-se que foi neste ano que segundo registo de Colombo numa
nota à margem do f. V da Historia rerum
gestarum de Eneas Silvio Piccolomini que traduzimos:
- El-rei de Portugal enviou à Guiné, no ano do senhor de 1485, mestre José, seu físico e astrólogo, para reconhecer a altura do sol em toda a Guiné. Este cumpriu com tudo e anunciou ao dito sereníssimo rei, estando eu presente, que (...) no dia 11 de Março achou que distava da equinocial um grau e cinco minutos na ilha chamada dos Ídolos, que está perto da Serra Leoa; e procurou isto com o máximo cuidado.
João II aludiu de forma indireta a Behaim na carta de confirmação
passada a Fernão Dulmo e a João Afonso do Estreito a 24 de Julho
de 1486 ao referir-se ao cavaleiro alemão que em companhia deles
há de ir, que ele, alemão escolha ir em qualquer caravela que quiser,
depois de a 3 de Março de 1486
ter já aprovado o projecto de Fernão Dulmo, que nos queria dar achada uma grande ilha ou ilhas ou terra firme per costa
que se presume ilha das Sete Cidades e isto tudo à sua própria custa e despesa.
Esta projectada viagem, que também foi do conhecimento de Colombo, deveria
iniciar-se na ilha Terceira em Março de 1487
mas acabou por não se realizar». In José Manuel Garcia, D. João II vs
Colombo, Duas Estratégias divergentes na busca das Índias, Quidnovi, 2012, Vila
do Conde, ISBN 978-989-554-912-2.
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