sexta-feira, 23 de agosto de 2013

FCG. CAM. Pintura. Amadeo de Souza-Cardoso. «A arte é uma coisa explosiva. Houve, e há decerto em qualquer lugar da terra, pessoas que se dedicam à experiência. O laço da ficção, que gera a expectativa, é mais forte do que todas as realidades acumuláveis»

Sem título (Clown, Cavalo, Salamandra), c. 1911-12
Cortesia da fcg

«A exposição comemorativa dos 30 anos do CAM, sob o signo de Amadeo. Um século de Arte,   representa um momento único da história do CAM da Fundação Gulbenkian. Pela primeira vez, os seus espaços expositivos estão totalmente ocupados com obras da colecção. Ao longo dos próximos cinco meses serão expostas mais de três centenas e meia das cerca das 10 mil obras da coleção do CAM. Uma oportunidade rara para ver obras-primas do modernismo português, a par das obras mais representativas da arte do século XX, a maior parte das quais se encontra habitualmente nas reservas. As obras de Amadeo Souza-Cardoso, presentes na colecção, serão mostradas quase na totalidade, cerca de 170 obras, ficando de fora apenas alguns pequenos desenhos.


A mostra é atravessada por ideias como acção do corpo, performance e palco, com duas abordagens distintas destas temáticas, uma moderna outra contemporânea. A Sala de Exposições Temporárias acolhe obras modernas, anteriores a 1968, e a Nave Central obras contemporâneas dos anos 70 até hoje. No Hall destaca-se um núcleo importante da colecção, composto por obras de arte britânicas, final dos anos 70, estabelecendo-se um diálogo entre a pop britânica e a portuguesa. Os vídeos da colecção são exibidos na Sala Polivalente, desde os anos 70 até à actualidade.


Na Biblioteca de Arte revisitam-se os 30 anos do CAM através da exposição de catálogos e posters mais representativos da sua actividade. Outras iniciativas vão rodear esta exposição: no pf mês de Outubro terá lugar um ciclo de performances, cujo conteúdo será anunciado; no pf mês de Novembro realizar-se-á um colóquio internacional sobre Amadeo, em colaboração com o Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens da Universidade Nova de Lisboa e o Instituto de História da Arte, reunindo vários especialistas mundiais para reflectir sobre a arte entre as duas guerras mundiais com grande enfoque nos modernismos periféricos». In FCG


«A arte é, provavelmente, uma experiência inútil; como a «paixão inútil» em que cristaliza o homem. Mas inútil apenas como tragédia de que a humanidade beneficie; porque a arte é a menos trágica das ocupações, porque isso não envolve uma moral objectiva. Mas se todos os artistas da terra parassem durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota de música, fazia-se um deserto extraordinário. Acreditem que os teares paravam, também, e as fábricas; as gares ficavam estranhamente vazias, as mulheres emudeciam. A arte é, no entanto, uma coisa explosiva. Houve, e há decerto em qualquer lugar da terra, pessoas que se dedicam à experiência inútil que é a arte, pessoas como Virgílio, por exemplo, e que sabem que o seu silêncio pode ser mortal. Se os poetas se calassem subitamente e só ficasse no ar o ruído dos motores, porque até o vento se calava no fundo dos vales, penso que até as guerras se iam extinguindo, sem derrota e sem vitória, com a mansidão das coisas estéreis. O laço da ficção, que gera a expectativa, é mais forte do que todas as realidades acumuláveis. Se ele se quebra, o equilíbrio entre os seres sofre grave prejuízo». In Agustina Bessa-Luís



Cortesia da FCG/JDACT