«A exposição comemorativa dos 30 anos do CAM, sob o signo de Amadeo. Um século de Arte,
representa um momento único da história do CAM
da Fundação Gulbenkian. Pela primeira vez, os seus espaços expositivos
estão totalmente ocupados com obras da colecção. Ao longo dos próximos cinco
meses serão expostas mais de três centenas e meia das cerca das 10 mil obras da
coleção do CAM. Uma oportunidade rara para ver obras-primas do modernismo português,
a par das obras mais representativas da arte do século XX, a maior parte das
quais se encontra habitualmente nas reservas. As obras de Amadeo Souza-Cardoso, presentes na colecção, serão mostradas quase
na totalidade, cerca de 170 obras, ficando de fora apenas alguns pequenos
desenhos.
A mostra é atravessada por ideias como acção do corpo, performance e palco, com duas abordagens distintas destas temáticas, uma moderna outra contemporânea. A Sala de Exposições Temporárias acolhe obras modernas, anteriores a 1968, e a Nave Central obras contemporâneas dos anos 70 até hoje. No Hall destaca-se um núcleo importante da colecção, composto por obras de arte britânicas, final dos anos 70, estabelecendo-se um diálogo entre a pop britânica e a portuguesa. Os vídeos da colecção são exibidos na Sala Polivalente, desde os anos 70 até à actualidade.
Na Biblioteca de Arte revisitam-se os 30 anos do CAM através da exposição de catálogos e
posters mais representativos da sua actividade.
Outras iniciativas vão rodear esta exposição: no pf mês de Outubro terá lugar
um ciclo de performances, cujo
conteúdo será anunciado; no pf mês de Novembro realizar-se-á um colóquio
internacional sobre Amadeo, em
colaboração com o Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens da
Universidade Nova de Lisboa e o Instituto de História da Arte, reunindo
vários especialistas mundiais para reflectir sobre a arte entre as duas guerras
mundiais com grande enfoque nos modernismos periféricos». In FCG
«A arte é, provavelmente, uma experiência inútil;
como a «paixão inútil» em que cristaliza o homem. Mas inútil apenas como
tragédia de que a humanidade beneficie; porque a arte é a menos trágica das
ocupações, porque isso não envolve uma moral objectiva. Mas se todos os
artistas da terra parassem durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia,
um quadro, uma nota de música, fazia-se um deserto extraordinário. Acreditem
que os teares paravam, também, e as fábricas; as gares ficavam estranhamente
vazias, as mulheres emudeciam. A arte é, no entanto, uma coisa explosiva.
Houve, e há decerto em qualquer lugar da terra, pessoas que se dedicam à
experiência inútil que é a arte, pessoas como Virgílio, por exemplo, e que
sabem que o seu silêncio pode ser mortal. Se os poetas se calassem subitamente
e só ficasse no ar o ruído dos motores, porque até o vento se calava no fundo
dos vales, penso que até as guerras se iam extinguindo, sem derrota e sem
vitória, com a mansidão das coisas estéreis. O laço da ficção, que gera a
expectativa, é mais forte do que todas as realidades acumuláveis. Se ele se
quebra, o equilíbrio entre os seres sofre grave prejuízo». In Agustina Bessa-Luís
Cortesia da FCG/JDACT