quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Jazz. Clairdee. «E eu vou acompanhando-a, corcovado, no trottoir, como um doido, em convulsões, febril, de colarinho amarrotado, desejado o lugar dos seus truões, sinistro e mal trajado. Hei de abrir-lhe o meu íntimo sacrário e desvendar a vida, o mundo, o gozo, como um velho filósofo lendário»

Cortesia de wikipedia


Ei-la! Como vai bela! Os esplendores
do lúbrico Versailles do Rei-Sol!
Aumenta-os com retoques sedutores.
É como o refulgir dum arrebol
em sedas multicores.

Deita-se com langor no azul celeste
do seu landau forrado de cetim;
e os seus negros corcéis que a espuma veste,
sobem a trote a rua do Alecrim,
velozes como a peste.


É fidalga e soberba. As incensadas
Dubarry, Montespan e Maintenon
se a vissem ficariam ofuscadas
tem a altivez magnética e o bem-tom
das cortes depravadas.

É clara como os pós à marechala,
e as mãos, que o Jock Club embalsamou,
entre peles de tigres as regala;
de tigres que por ela apunhalou,
um amante, em Bengala.


É ducalmente esplêndida! A carruagem
vai agora subindo devagar;
ela, no brilhantismo da equipagem,
ela, de olhos cerrados, a cismar
atrai como a voragem!

Os lacaios vão firmes na almofada;
e a doce brisa dá-lhes de través
nas capas de borracha esbranquiçada,
nos chapéus com reseta, e nas librés
de forma aprimorada.


E daria, contente e voluntário,
a minha independência e o meu porvir,
para ser, eu poeta solitário,
para ser, ó princesa sem sorrir,
teu pobre trintanário.

E aos almoços magníficos do Mata
preferiria ir, fardado, aí,
ostentando galões de velha prata,
e de costas voltadas para ti,
formosa aristocrata!

Poema de Cesário Verde, in ‘O Livro de Cesário Verde’


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