quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O Princípio de Peter. Porque é que as coisas andam sempre mal. Laurence Peter e Raymond Hull. «… explicam que as pessoas tendem a ser promovidas até atingirem um posto que não conseguem ocupar competentemente. E, nessa altura, é demasiado tarde para os tirar de lá»

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«(…) O fiscal das obras reformou-se e o fulano de tal… tomou o seu lugar. Fulano de tal… continuou a ser simpático e prestável. Transmitia ao contramestre as sugestões vindas de cima. Daqui resultaram conflitos e contínuas mudanças de planos que desmoralizaram o serviço. Choviam as queixas, do Presidente da Câmara, dos funcionários, dos contribuintes e também dos sindicatos. Fulano de tal… continua a diz sim a toda a gente e a levar e a trazer mensagens entre superiores e subordinados. Nominalmente é fiscal de obras, mas na realidade o seu trabalho é de mandarete. O serviço de manutenção excede regularmente os orçamentos e não se consegue
cumprir o programa de trabalhos. Em resumo, Fulano de tal… o competente contramestre, tornou-se um fiscal de obras incompetente.

2. Fulano tal… era excepcionalnente zeloso e inteligente quando aprendiz da garagem X, oficina de automóveis e, rapidamente chegou a mecânico. No seu trabalho, mostrava uma habilidade excepcional em diagnosticar as mais difíceis e obscuras avarias no motor e uma paciência infinita para repará-lo. Foi promovido a chefe de oficina. Mas, neste ponto, o seu amor pela mecânica e o seu espírito de perfeição tornaram-se um defeito. Pega em qualquer trabalho que julgue interessante, sem se importar com as reparações urgentes, repetindo que tudo se resolverá. Nunca deixa o trabalho sem estar completamente satisfeito. Mete o nariz em toda a parte e raras vezes se encontra à secretária, mas é frequente encontrá-lo enfiado até ao pescoço dentro de um motor desmontado enquanto um homem que deveria estar a fazer aquele trabalho fica a olhar e os outros operários ficam à espera que lhes digam o que hão-de fazer. Por este motivo, a oficina está sempre sobrecarregada de trabalho, num pandemónio, e raramente os prazos de entrega são satisfeitos.
Fulano de tal… é incapaz de compreender que um cliente vulgar não exige perfeição, pretende apenas que lhe entreguem o carro o mais depressa possível! É incapaz de compreender que a maior parte dos seus subordinados ligam menos aos motores do que à folha de férias. Portanto Fulano de tal… não se entende nem com os clientes nem com os operários. Foi um mecânico competente agora é um chefe de oficina incompetente.

Uma característica importante!
Acabei por chegar à conclusão que estes casos tinham um denominador comum. O Fulano de tal… tinha subido de uma posição de competência a uma posição de incompetência. Verifiquei que, mais cedo ou mais tarde, isto podia acontecer a qualquer cidadão, em todas as hierarquias.

3. Suponhamos que possuíamos uma fábrica de pílulas, A Pílula Perfeita, S. A. O contramestre da secção de calibragem das pílulas morre subitamente. São obrigados a nomear um substituto. Logicamente vão procurá-lo dentro da classe, entre os calibradores de pílulas. Miss A, Mr. B, Mr. C são mais ou menos incompetentes. Serão, portanto, eliminados. Irão escolher, é claro, o operário mais competente entre os calibradores de pílulas, Miss Y que promoverão a contramestre».

In Laurence Peter e Raymond Hull, The Peter Principle, William Morrow and Co Inc, 1969, O Princípio de Peter. Porque é que as coisas andam sempre mal, Editorial Futura, Lisboa, 1973.

Cortesia de Futura/JDACT