segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A Condessa-rainha. Teresa. Luís Amaral. Mário Barroca. «Henrique de Borgonha, ‘Le Damoiseau’, nasceu em 1035 e faleceu a 27 de Janeiro de (1070 / 1074). Casou com uma filha do conde Berenguer Raimundo I, ‘o Curvo’, e de Gisela de Ampúrias, cujo nome se desconhece»

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A casa ducal de Borgonha: a ascendência do conde Henrique
«(…) Roberto II, o Pio, rei de França (996-1032), casou três vezes: primeiro com Rosana ou Susana, depois com Berta de Borgonha e, finalmente, com Constança de Arles. Este último casamento terá tido lugar entre 1001 e 1003. Entre os sete filhos do monarca contam-se Henrique I, que lhe sucedeu na Coroa de França. Mas aquele que mais nos interessa é Robeno, filho do terceiro casamento do monarca, com Constança de Arles. Roberto I, o Velho, deve ter nascido por volta de 1011 / 1012, ou, segundo Patrick Van Kerrebrouck, por volta de 1007. Em 1016 o seu irmão, Henrique, recebeu o título ducal de Borgonha, outorgado pelo pai, o rei Roberto II, o Pio (996-1031). Com a morte do monarca, ocorrida a 20 de Julho de 1031, e como o primogénito, Hugo, já tinha falecido, Henrique ascendeu à Coroa francesa e transmitiu o título ducal a seu irmão mais novo, Roberto. Este ascendeu, portanto, a duque de Borgonha em 1031 ou 1032. Casou pela primeira vez com Hélie de Semur, filha do conde Dalmásio, senhor de Semur-en-Brionnais, e de Aramburge de Borgonha. Hélie de Semur era, portanto, irmã do futuro conde de Semur, Godofredo II, e do abade Hugo de Semur, mais conhecido como Hugo, o Grande, ou São Hugo (1024-1109), que governou a abadia de Cluny entre 1049 e 1109. O casamento de Roberto, o Velho, com Hélie de Semur teve lugar em 1033 e dele resultaram três ou quatro filhos. Os genealogistas sãoo unânimes em atribuir a esta união Hugo de Borgonha(1034-1059 / 1060), Henrique de Borgonha, Le Damoiseau (1035-1070 / 1074), e Constança de Borgonha (1045-1093), futura rainha de Leão e Castela. Hesitam, no entanto, em lhe associar o nome de Roberto de Borgonha, que veio a casar com Sibila da Sicília, e que pode, em alternativa, ser fruto do segundo casamento de Roberto I, o VeIho. Com efeito, em 1048 o duque envolveu-se em confronto com o seu sogro, Dalmásio de Semur, que executou com as suas próprias mãos. Pouco depois, repudiou a sua primeira esposa. Segundo André Duchesne estes acontecimentos violentos causaram grande desprazer ao abade Hugo de Cluny, irmão da duquesa e filho de Dalmásio. Ernest Petit não precisou o momento em que o duque repudiou a sua primeira mulher mas determinou que isso ocorreu antes de 1552. Jean Richard entendia, no entanto, que o duque a repudiara logo em 1048, opinião seguida igualmente por Patrick Van Kerrebrouck. Mas devemos registar que num documento de 1050 o duque ainda aparece mencionado ao seu lado, Robertus Dux et uxor sua Hylia. O certo é que, nesse mesmo ano, viria a casar de novo, com Ermengarda (ou Branca) de Anjou, filha do célebre-conde de Anjou, Foulque III, Nerra, e de Hildegarda de Metz.
Desta segunda união teria nascido eventualmente Roberto (se, como vimos, não for fruto do primeiro casamento) e ainda Simão de Borgonha e Hildegarda de Borgonha (que tomou o nome de sua avó). Portanto, e ao todo, o duque Roberto I, o Velho, teve seis filhos. Roberto I teria organizado a já referida expedição militar em auxílio do conde de Barcelona da qual resultou o acordo de casamento de seu filho, Henrique, Le Damoiseau, com uma filha do conde de Barcelona. Faleceu em 1076 e, a confiar nas comemorações obituárias encomendadas por seu bisneto, Hugo II, Borel ou o Pacífico, o seu óbito terá ocorrido no dia 21 de Março.

O seu filho primogénito foi Hugo de Borgonha, que nasceu em 1034. Pela ordem natural, seria ele o herdeiro do título ducal. Mas a sua vida foi breve e atribulada. Sabe-se que em 1057 mandou queimar a vila de Saint Brice, causando amorte a 110 habitantes. Ainda assistiu à sagração de Filipe I como rei de França, em Reims, no ano de 1059, mas viria a morrer pouco depois, num combate, em 1059 ou 1060, não deixando descendência. O herdeiro do título ducal borgonhês passou a ser o seu irmão, Henrique de Borgonha, conhecido pela alcunha de Le Damoiseau. No entanto, também ele não o chegou a usar, uma vez que faleceu antes de seu pai, pelo que o título acabaria por ser transmitido ao seu primogénito.
Henrique de Borgonha, Le Damoiseau, nasceu em 1035 e faleceu a 27 de Janeiro de (1070 / 1074). Casou com uma filha do conde Berenguer Raimundo I, o Curvo, e de Gisela de Ampúrias, cujo nome se desconhece. Os antigos linhagistas, nomeadamente o seiscentista André Duchesne e Ernest Petit, entendiam que teria casado com Sibila de Borgonha. E aqui encontramos um dos aspectos mais obscuros da família ducal da Borgonha. Com efeito, Duchesne e Petit diziam que Sibila era filha do conde de Borgonha, Renaut ou Renaud, e de sua primeira mulher, Alix (ou Adelaide) da Normandia. Salientemos, no entanto, que esta filha dos condes borgonheses não está referida por outros genealogistas e que, pelo contrário, encontramos uma Sibila da Borgonha claramente documentada uma geração depois. Era filha do conde de Borgonha, Guilherme I, o Grande ou Tête-Hardie, e de Etiennette, e seria, portanto, neta de Renaud da Borgonha e irmã de Raimundo de Borgonha. O hipotético casamento de Henrique, Le Damoiseau, com Sibila da Borgonha explicaria o grau de parentesco que as fontes medievais (nomeadamente o bispo Rodrigo Jiménez de Rada ou a Crónica latina dos reis de Castela) e mesmo modernas insistem em atribuir a Henrique e Raimundo, referindo-os como primos. No entanto, sabemos que Sibila de Borgonha casou com o duque Eudes I, Borel, sendo portanto cunhada do conde portucalense. O enquadramento genealógico de Raimundo de Borgonha, o grau de parentesco que unia Henrique e Raimundo, que eram realmente primos (congermani), embora afastados». In Luís Amaral, Mário Barroca, A Condessa-rainha, Teresa, coordenação de Ana Maria Rodrigues e Outras, Círculo de Leitores, 2012, ISBN 978-972-42-4702-1.

Cortesia de CLeitores/JDACT