A casa ducal de Borgonha: a ascendência do conde Henrique
«(…) Roberto II, o Pio, rei
de França (996-1032), casou três vezes: primeiro com Rosana ou Susana,
depois com Berta de Borgonha e, finalmente, com Constança de Arles. Este último
casamento terá tido lugar entre 1001
e 1003. Entre os sete filhos do
monarca contam-se Henrique I, que lhe sucedeu na Coroa de França. Mas aquele
que mais nos interessa é Robeno, filho do terceiro casamento do monarca, com
Constança de Arles. Roberto I, o Velho,
deve ter nascido por volta de 1011 / 1012, ou, segundo Patrick Van
Kerrebrouck, por volta de 1007.
Em 1016 o seu irmão, Henrique,
recebeu o título ducal de Borgonha, outorgado pelo pai, o rei Roberto II, o Pio
(996-1031).
Com a morte do monarca, ocorrida a 20 de Julho de 1031, e como o primogénito, Hugo, já tinha falecido, Henrique
ascendeu à Coroa francesa e transmitiu o título ducal a seu irmão mais novo,
Roberto. Este ascendeu, portanto, a duque de Borgonha em 1031 ou 1032. Casou pela
primeira vez com Hélie de Semur, filha do conde Dalmásio, senhor de
Semur-en-Brionnais, e de Aramburge de Borgonha. Hélie de Semur era, portanto,
irmã do futuro conde de Semur, Godofredo II, e do abade Hugo de Semur, mais
conhecido como Hugo, o Grande, ou São
Hugo (1024-1109), que governou a abadia de Cluny entre 1049
e 1109. O casamento de Roberto, o
Velho, com Hélie de Semur teve lugar em 1033 e dele resultaram três ou quatro filhos. Os genealogistas sãoo
unânimes em atribuir a esta união Hugo de Borgonha(1034-1059 / 1060),
Henrique de Borgonha, Le Damoiseau (1035-1070
/ 1074), e Constança de Borgonha (1045-1093), futura rainha de Leão e
Castela. Hesitam, no entanto, em lhe associar o nome de Roberto de Borgonha, que
veio a casar com Sibila da Sicília, e que pode, em alternativa, ser fruto do
segundo casamento de Roberto I, o VeIho.
Com efeito, em 1048 o duque
envolveu-se em confronto com o seu sogro, Dalmásio de Semur, que executou com
as suas próprias mãos. Pouco depois, repudiou a sua primeira esposa. Segundo André
Duchesne estes acontecimentos violentos causaram grande desprazer ao abade Hugo de Cluny,
irmão da duquesa e filho de Dalmásio. Ernest Petit não precisou o
momento em que o duque repudiou a sua primeira mulher mas determinou que isso
ocorreu antes de 1552. Jean
Richard entendia, no entanto, que o duque a repudiara logo em 1048, opinião seguida igualmente por Patrick
Van Kerrebrouck. Mas devemos registar que num documento de 1050 o duque ainda aparece mencionado
ao seu lado, Robertus Dux et uxor sua
Hylia. O certo é que, nesse mesmo ano, viria a casar de novo, com
Ermengarda (ou Branca) de Anjou, filha do célebre-conde de Anjou, Foulque III, Nerra, e de Hildegarda de Metz.
Desta segunda união teria nascido eventualmente Roberto (se, como vimos,
não for fruto do primeiro casamento) e ainda Simão de Borgonha e Hildegarda
de Borgonha (que tomou o nome de sua avó). Portanto, e ao todo, o duque
Roberto I, o Velho, teve seis filhos.
Roberto I teria organizado a já referida expedição militar em auxílio do conde
de Barcelona da qual resultou o acordo de casamento de seu filho, Henrique, Le Damoiseau, com uma filha do conde de
Barcelona. Faleceu em 1076 e, a
confiar nas comemorações obituárias encomendadas por seu bisneto, Hugo II, Borel ou o Pacífico, o seu óbito terá ocorrido no dia 21 de Março.
O seu filho primogénito foi Hugo de Borgonha, que nasceu em 1034. Pela ordem natural, seria ele o
herdeiro do título ducal. Mas a sua vida foi breve e atribulada. Sabe-se que em
1057 mandou queimar a vila de Saint Brice,
causando amorte a 110 habitantes. Ainda assistiu à sagração de Filipe I como
rei de França, em Reims, no ano de 1059,
mas viria a morrer pouco depois, num combate, em 1059 ou 1060, não
deixando descendência. O herdeiro do título ducal borgonhês passou a ser o seu
irmão, Henrique de Borgonha, conhecido pela alcunha de Le Damoiseau. No entanto, também ele não o chegou a usar, uma vez
que faleceu antes de seu pai, pelo que o título acabaria por ser transmitido ao
seu primogénito.
Henrique de Borgonha, Le Damoiseau,
nasceu em 1035 e faleceu a 27 de
Janeiro de (1070 / 1074). Casou com uma filha do conde Berenguer Raimundo
I, o Curvo, e de Gisela de Ampúrias,
cujo nome se desconhece. Os antigos linhagistas, nomeadamente o seiscentista André
Duchesne e Ernest Petit, entendiam que teria casado com Sibila de
Borgonha. E aqui encontramos um dos
aspectos mais obscuros da família ducal da Borgonha. Com efeito, Duchesne
e Petit diziam que Sibila era filha do conde de Borgonha, Renaut ou Renaud,
e de sua primeira mulher, Alix (ou Adelaide) da Normandia. Salientemos, no
entanto, que esta filha dos condes borgonheses não está referida por outros
genealogistas e que, pelo contrário, encontramos uma Sibila da Borgonha
claramente documentada uma geração depois. Era filha do conde de Borgonha,
Guilherme I, o Grande ou Tête-Hardie, e de Etiennette, e seria,
portanto, neta de Renaud da Borgonha e irmã de Raimundo de Borgonha. O
hipotético casamento de Henrique, Le
Damoiseau, com Sibila da Borgonha explicaria o grau de parentesco que as
fontes medievais (nomeadamente o bispo Rodrigo Jiménez de Rada ou a Crónica latina dos reis de Castela) e
mesmo modernas insistem em atribuir a Henrique e Raimundo, referindo-os como
primos. No entanto, sabemos que Sibila de Borgonha casou com o duque
Eudes I, Borel, sendo portanto
cunhada do conde portucalense. O enquadramento genealógico de Raimundo de
Borgonha, o grau de parentesco que unia Henrique e Raimundo, que eram realmente
primos (congermani), embora afastados».
In
Luís Amaral, Mário Barroca, A Condessa-rainha, Teresa, coordenação de Ana Maria
Rodrigues e Outras, Círculo de Leitores, 2012, ISBN 978-972-42-4702-1.
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