Introdução. Um casal de Reis. Isabel de Castela e Fernando de Aragão
«(…) Apresentaremos de forma breve estes cronistas espanhóis, numa
tentativa de descortinar a sua ligação à Coroa, as fontes em que se basearam, e
de que modo as suas vidas intersectaram a história desses anos. E também os
seus congéneres portugueses, como é óbvio, que documentam as vidas destas mulheres
no tempo em que foram rainhas de Portugal. Mesmo as démarches que me propus efectuar, leitura dos cronistas a par da bibliografia
sobre o tema, se revelaram tarefas árduas. Existe uma produção vastíssima da
historiografia espanhola, propalada sobretudo com o quinto centenário da morte
da mãe das nossas biografadas, Isabel, a Católica, comemorado
em 2004, dando origem a vários
congressos com as respectivas actas, diversas biografias sobre a rainha e
livros sobre o seu reinado, bem como teses de doutoramento. E também outra
historiografia, da autoria de historiadores que trabalham em universidades do
mundo anglo-saxónico ou francês, igualmente importante. Embora os meus objectivos
se circunscrevam a saber coisas sobre as duas filhas e o ambiente em que
cresceram, bem como as conjunturas internacionais que deram origem às alianças
matrimoniais de
que foram objecto, a historiografia revelou-se demasiado vasta para o
tempo à minha disposição.
Se alguma coisa me desculpa, é o facto de ter escrito estas duas
biografias como último recurso da coordenação, de que também faço parte. Duas
desistências levaram a que as rainhas que agora apresento ficassem sem autor;
no final de 2008 tinha entregue a outra biografia que escrevi para esta colecção,
de Leonor de Lencastre, e encontrava-me livre para correr o risco. Do
ponto de vista pessoal, valeu a pena, porque a investigação me levou a
ultrapassar as fronteiras do reino de Portugal. A história deste último, à luz
do que dizem os cronistas dos outros reinos peninsulares, é bem distinta de
algumas narrativas mestras que ainda se encontram entre os nossos
historiadores.
Houve também um esforço no sentido de visitar algumas cidades e vilas onde
as personagens deste livro estanciaram: o
mosteiro de Guadalupe, onde a rainha Isabel de Portugal passou a última
Páscoa; Madrigalejo, onde seu pai
Fernando de Aragão morreu; a vila onde nasceu, Dueñas; Tordesilhas, onde
sua irmã Joana passou a maior parte da sua vida, dada como louca; o castelo de La Mota de Medina, onde Isabel, a Católica, faleceu; Palência, onde estão ainda bem presentes
na sua catedral as marcas da passagem de Carlos I de Espanha. Finalmente, Madrigal de las Altas Torres, onde tudo começou,
com o baptismo de Isabel, a Católica.
Julgo ter olhado para alguns acontecimentos de forma diferente, mas, como
o leitor é, juiz, dir-me-á. Como de costume, esta parte de livro pertence-lhe. Sou devedora de várias pessoas a quem agradeço
o apoio prestado. A David Nogales Rincón, pela possibilidade de ler
trabalhos seus inéditos; a Paula Bessa e… aos amigos que me acompanharam
nas deambulações por Espanha, para conhecer alguns lugares das pessoas sobre
quem escrevo».
In Isabel Guimarães Sá, Rainhas Consortes de D. Manuel I, Isabel de
Castela, Maria de Castela e Leonor de Áustria, C. de Leitores, 2012, ISBN 978-972-42-4710-6.
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