«(…) Teixeira de Pascoaes deixou por várias e cruciais vezes
claramente expresso o interesse que lhe merecia a obra de Fernando Pessoa, em
primeiro lugar dando-lhe como director a vez de primeiro articulista da revista
A Águia, reconhecendo assim a Fernando
Pessoa um talento que talvez não reconhecesse a qualquer outro colaborador
da revista, coisa que muito feriu António Sérgio, e tornando-se desse
modo o primeiro fernandino do século XX. Esta admiração, que começou em 1912, parece ter sempre acompanhado Pascoaes, que, por volta de 1950, pouco antes de morrer, a
confessou a Eugénio de Andrade. Maís
tarde, por várias vezes, voltei à carga. E naquelas luminosas férias que
passámos na Foz, na Praia dos Ingleses, muitas vezes Pascoaes me falou de
Fernando Pessoa com estima e admiração. E a prová-lo aí está, essa discreta homenagem,
a citação, num dos poemas dos Últimos Versos, de uma frase tirada de uma carta
do autor da Ode Marítima. Ao entregar-me o original, o próprio Pascoaes me
chamou a atenção. (in Os Afluentes do Silêncio, 1968).
Depois da Renascença Portuguesa, sobretudo depois da polémica com António
Sérgio que teve lugar entre 1913 e 1914, Pascoaes abandona não só praticamente as relações com os seus
contemporâneos, isolando-se na sua casa de São João do Gatão, como deixa
de escrever e de publicar poesia em verso com a frequência e a intensidade com
que o fazia até aí. Repare-se que entre 1895 e 1915, ou seja em vinte anos,
Pascoaes publica dezassete livros de poesia, quase um livro por ano, e entre 1915 e o ano da sua morte em 1952, ao longo de trinta e sete anos, Pascoaes publica apenas dez livros de
poesia. Dos dez livros publicados entre 1915 e 1952, dois deles, pelo menos,
não são inéditos: Sonetos (1925),
que faz uma recolha de textos anteriores do poeta e Elegia do Amor que reedita (revisto) um poema (de resto
muito importante para se compreender Marânus)
já publicado em 1906 em Vida
Etérea. Em 1953, meses depois
da morte do poeta, saiu um outro importante livro seu de versos, escrito nos
últimos anos da sua vida, Últimos Versos.
Por estas duas razões, o afastamento dos centros urbanos e das modas
literárias bem como um interesse cada vez maior pela poesia em prosa, e ainda decerto
por outras razões que aqui nos escapam, difícil é dizer e saber quem foram
verdadeiramente os contemporâneos de Pascoaes
desde 1915 até à data da sua morte.
As últimas páginas do capítulo VI de Os Poetas Lusíadas apontam alguns
nomes, a que seria de justiça acrescentar mais dois ou três (como Guilherme de
Faria, Anrique Paço d'Arcos, José Gomes Ferreira ou mesmo Domingos Monteiro,
considerado por Pascoaes poeta lusíada), mas o certo é que
a partir de determinada altura, que coincide com a dolorosa despedida a António
Sérgio, Pascoaes deixou, pelo
afastamento, de ter entre nós contemporâneos. As palavras de Sant’Anna Dionísio
(e também as de Ilídio Sardoeira) são significativas do isolamento em que o
poeta e a sua poesia passaram a viver». In António Cândido Franco, Eleonor na Serra
de Pascoaes, Edições Átrio, Lisboa, Colecção o Chão do Touro, 1992,
ISBN-972-599-042-0.
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