Actores
e Interesses
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A Espanha, apesar de ter deixado de ser a grande potência imperial que fora no
século anterior, continuava a desempenhar um papel de relevo no xadrez
internacional, especialmente der-ido às riquezas oriundas das Américas e ao facto
de dispor da terceira armada do mundo, logo a seguir a ingleses e a franceses,
o que a tornava numa mais valia aquando da escolha dos aliados. Encontrava-se,
no entanto, numa situação económica preocupante, como consequência dos numerosos
conflitos em que a monarquia se havia empenhado em função da sua política
imperial. Para além da bancarrota na fazenda pública, graves conflitos sociais
desencadearam motins anti senhoriais na Catalunha (1687-89), em Valência (1693)
e em Madrid (1699). Carlos II não convocava Cortes, as instituições
tradicionais não funcionavam, a justiça era ineficaz e, mais importante, não estava
assegurada a sucessão ao trono, o que viria a dar origem à guerra. A Holanda,
que havia conquistado a sua independência frente à Espanha em 1648, continuava a ser um aliado importante
da potência marítima, quer pelo seu poder naval, desequilibrador no âmbito de
alianças mais vastas, quer pelo seu posicionamento na Europa. Os seus
interesses passavam pela continuidade do seu império, inclinando-se, como no
caso de Portugal, para a aliança inglesa ao lado do pretendente da Áustria.
Durante a guerra, que atingiu duramente os seus espaços, os efectivos
holandeses atingiriam cerca de 140 mil homens, o que é demonstrativo do seu
empenho. A Oriente, a Rússia de Pedro o
Grande, e os polacos, absorviam o poderio sueco de Carlos XII, um aliado importante
para a Franca; segundo o historiador Toynbee, a guerra russo-sueca terá constituído
um anexo da guerra da Sucessão de Espanha. Com este cenário global, da
luta entre as duas grandes potências, qualquer acendalha levaria a um confronto
para decidir da hegemonia europeia. E o explosivo encontrava-se na sucessão de
Cados II, rei de Espanha: se um Bourbon, se um Habsburgo, sendo as restantes
alternativas de pouca credibilidade.
Portugal
na Guerra da Sucessão de Espanha
Portugal,
depois da Restauração da Independência em 1640 e do declínio das
possessões asiáticas, passou a ser um actor de segundo plano, sem outras
veleidades de interferir na política internacional senão a de reagir às
pressões externas e preservar a sua posição geoestratégica e o acesso às riquezas
transcontinentais com especial ênfase para o Brasil. No final do século XVII e
início do século XVIII, a importância crescente do comércio internacional, do ultramar
e do controlo das rotas, valorizava o peso da Península Ibérica e de Portugal,
que se transformava deste modo numa área estratégica fundamental para a disputa
da hegemonia europeia.
Apesar
deste acréscimo de peso específico, no final do século XVII, a dispersão do
império e a sua necessária reconstrução, constituíam vulnerabilidades
indiscutíveis e pressupostos objectivos de todas as decisões, no sentido de
limitar a presença portuguesa nas controvérsias da Europa Central. A política
externa portuguesa era então cautelosa, procurando evitar os conflitos entre a
França e a Inglaterra, com uma neutralidade que levaria à recusa do empenhamento
em diversas campanhas na Europa». In João Vieira Borges, Conquista de Madrid,
1706, Batalhas de Portugal, Tribuna da História, Lisboa, 2003, ISBN
972-8799-08-X.
Cortesia
de Tribuna/JDACT