Estâncias
«O
meu peito é a linha do horizonte.
Por
cima dele está o céu
e
por baixo o inferno.
Este
é uma lareira líquida.
Sinto
nas costas o fogo.
Tenho
a flor dos rins chamuscada.
Contorcem-se
chamas
por
baixo da minha pele.
Volteiam
labaredas
dentro
de mim.
Na
minha vida encosto
o
ouvido ao peito
como
se à terra o encostasse.
Crepitam
trevas
do
outro lado do mundo.
Ouve-se
a pulsação do fogo
contra
a pele.
Da
terra nada diferencia o corpo.
Por
baixo do peito
há
braseiros líquidos
que
fervem em línguas vorazes de lume.
Águas
queimando mais do que o fogo.
Mar
com
o calor do inferno
debaixo
do meu peito fervendo.
Noite
interior
com
um coração a fazer de sol.
O
meu peito é a linha da terra.
Por
baixo dele
invisível
e quieto
está
o caos da noite.
Há
neste abismo um céu.
O
seu nome é esquecimento.
Por
baixo da terra
há
um tumulto secreto de fogo
núcleos
ctónicos
a
devorar gases em brasa.
Caos
e fumos.
Lareiras
de lava
consumindo
o nada.
Tudo
tapado pelas pedras.
O
meu peito é a linha dessa fronteira.
Por
baixo está o inferno
as
suas línguas de lume revolvendo
e
por cima o céu.
Do
meu corpo crescem pontes.
Evaporam-se
órgãos.
Sublimam-se
ossos.
Poalha
de estrelas.
Está
tudo enxuto.
Nuvens
acumulando-se aos novelos.
O
mundo enxugando
a
sua matéria sólida.
Névoas
de matéria
bailando
no firmamento.
Sons
ondulando
em palavras.
É
esse o chão
onde
germinam as estrelas».
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