domingo, 6 de julho de 2014

O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa: Carl Erdmann. «Sabemos ainda que João Peculiar também depois desta viagem não prestou obediência ao arcebispo João de Toledo e que os bispos de Coimbra, Viseu e Lamego, apesar da sentença do cardeal Jacinto, continuaram sufragâneos de Braga»

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A luta contra o primado de Toledo
«(…) Primeiro que tudo, fez os seus preparativos da maneira já de nós conhecida por outros casos. Um cónego de Santa Cruz, que levou consigo, foi provido duma calorosa carta de recomendação do rei a favor de Santa Cruz, na qual Afonso Henriques se confessa de novo cavaleiro de S. Pedro e devoto filho do papa (a carta refere-se aos privilégios dos papas anteriores, mas suplica a Adriano IV a concessão de privilégio e a confirmação dos rendimentos eclesiásticos de Leiria para Santa Cruz), e devia apresentar o privilégio do mosteiro para confirmação, mas ao mesmo tempo pagar o censo ao camareiro papal Boso. Isto pertencia, a bem dizer, ao dinheiro de S. Pedro, que o arcebispo de Braga João Peculiar trazia a Roma; seguramente, trouxe também o censo do rei. Provavelmente, levava também consigo um legado do mosteiro de Refóios de Lima, que parece ter recebido por esta ocasião o seu primeiro privilégio papal. Além disso, acompanhavam-no os bispos de Lamego e Lisboa (Kehr, cita o diploma da fundação da Cofradia de Santa Eulalia del Campo perto de Barcelona de 9 de Junho de 1156, o qual foi assinado pelo arcebispo de Braga e pelos bispos de Lamego e Lisboa. Provavelmente João Peculiar, quo era, ele próprio, cónego agostinho, fez estação em Santa Eulália. Porém é possível que as assinaturas fossem apostas posteriormente, visto ser muito improvável que João Peculiar já estivesse a caminho em Junho de 1156); o primeiro tinha defendido a causa do arcebispo em Vallactolid e era um advogado apropriado, o segundo tinha evidentemente de se declarar pronto a prestar obediência ao arcebispo de Santiago, para que, condescendendo neste ponto, se conseguisse jogo mais fácil nas questões essenciais.
Que pena não possuirmos fonte narrativa que nos elucidasse sobre esta viagem de João Peculiar! Os escassos documentos a que estamos sujeitos não consentem que façamos ideia do decurso, talvez dramático, das negociações, mostrando-nos apenas o resultado, e mesmo este só em ligeiros traços: tanto João Peculiar como também Afonso Henriques foram de novo recebidos em graça; o primeiro recebeu a 6 de Agosto de 1157 novo privilégio, o segundo, no ano seguinte, uma carta de recomendação a favor de Santa Cruz em que se não faz mais nenhuma referência à turvação das relações. Sabemos ainda que João Peculiar também depois desta viagem não prestou obediência ao arcebispo João de Toledo e que os bispos de Coimbra, Viseu e Lamego, apesar da sentença do cardeal Jacinto, continuaram sufragâneos de Braga». In Carl Erdmann, O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa, Universidade de Coimbra, Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 1935.

Cortesia de Separata do Boletim do Instituto Alemão/JDACT