«Momentos como este que o Museu Municipal
viveu recentemente, em que um espaço museológico se encontra encerrado ao público
para obras de requalificação, são excelentes para trabalhar o seu espólio, uma vez
que todas as peças são retiradas do seu local de exposição sendo possível fazer
uma profunda avaliação do seu estado de conservação e intervir ao nível da conservação
e restauro sempre que se revele necessário. Do vasto núcleo que constitui o Museu,
poucas peças foram intervencionadas anteriormente, registando-se apenas dois tratamentos
no Instituto José de Figueiredo, relevo de São Bernardo, em madeira policromada
e dourada do século XVIII, para integrar a XVII
Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura (Lisboa, 1983) e o relevo de Pietá, flamengo, em madeira policromada e
dourada do século XVI, quando foi solicitado para ser exposto na Europália (Bélgica, 1991); em 2004 foi assinado um protocolo entre a Câmara
Municipal e o Instituto Politécnico de Tomar, que possibilitou a intervenção de
quatro pinturas, quatro esculturas e um conjunto de doze pequenos relevos em terracota
policromada.
A Fundação Robinson,
através da Rede de Património, acompanhou o processo de desmontagem, trabalhos de
conservação e restauro realizados durante o período de obra e a remontagem do espaço.
Assim que as peças foram retiradas do edifício iniciou-se o processo de desinfestação
de praticamente todas as peças em madeira, uma vez que a presença de insecto xilófago,
em muitos dos casos activo, era evidente. Dada a enorme quantidade de peças recorreu-se
à desinfestação por tecnologia de atmosfera controlada (CAT). Depois de anos em
exposição, sem qualquer tipo de intervenção, depois de terem estado em reserva durante
os quatro anos de obra (2009-2012), era notório que muitas das
peças necessitavam de intervenção. Assim, das 686 peças actualmente expostas,
322 foram alvo de tratamento durante este período. Se nalguns caso essa acção
foi apenas uma limpeza superficial, a aplicação de uma cera, a colagem de uma fractura,
outros casos houve em que foi necessário realizar um tratamento completo de
conservação e restauro.
As patologias mais recorrentes eram
a acumulação de poeiras e sujidades aderentes em praticamente todo o espólio, perdas
de cor e rasgões nos estofos das cadeiras e canapés, a desidratação de elementos
de madeira, o escurecimento de vernizes e lacunas nas molduras das pinturas, destacamentos
de policromias, pequenas fracturas, abertura de fendas e desunião de elementos de
junta nas esculturas. Nenhum tratamento de conservação e restauro tem como objectivo
restituir a aparência inicial de uma peça, o que é impossível e contraria a ética
profissional, no entanto a consciência da perspectiva de futuro e a necessidade
de contemplação obrigam-nos a Conservar e Restaurar as obras de arte para que se
proceda à sua plena fruição. Assim o objectivo de uma intervenção de
conservação e restauro, conscienciosa e respeitadora da obra deve ser uma intervenção
essencialmente conservativa, regida por critérios de intervenção mínima e reversibilidade
dos materiais e técnicas a utilizar de forma a retardar o processo de envelhecimento,
restituindo à obra de arte a sua estabilidade química/física e a harmonia estética
estritamente necessária para uma correcta interpretação e leitura da composição
artística.
Dada a imensa quantidade de
peças, o tempo reduzido e a equipa limitada optou-se por realizar as operações
urgentes, estabilizando as peças que se encontravam em risco, travando o processo
de degradação que algumas peças apresentavam, restabelecendo o seu equilíbrio de
forma a poderem ser expostas. Deseja-se que este seja um trabalho de continuidade,
esperando-se concluir alguns tratamentos iniciados e realizar outros que embora
não tão urgentes são essenciais». In Laura Portugal Romão, O Perdurar das
Colecções. Preparação para a Exposição, Publicações da Fundação Robinson, nº
27, 2013, ISSN 1646-7116.
Cortesia
FRobinson/JDACT