Entre o Tigre e o Eufrates
«(…) Embora monoteísta, o
Zoroastrismo também ensinava o princípio de um poder bom e de um poder mau.
Este, o Angra Mainyu, com os seus demónios e o controlo do mundo através do
homem, com o seu conhecimento da lei de Deus, consegue desviar-se das trevas
para a luz. Será esta, provavelmente, a origem das crenças dualistas dos
gnósticos. Os Reis Magos do Evangelho de Mateus e de cada representação da natividade
eram zoroastrianos; havia muito comércio entre persas, judeus, gregos e
egípcios, sendo a capital síria Antioquia, onde Mateus terá escrito o seu
Evangelho, um movimentando porto comercial. Alguns zoroastrianos dos nossos
dias são conhecidos como Parses ou Pársis (Persas), sobretudo na Índia, ou como
Mazda-yasnianos (que veneram Ahura Mazda).
Mitraísmo
Mitra foi um dos Deuses persas
incorporado no Zoroastrismo; era a divindade dos contratos e dos acordos, e
estava associada ao Sol. O Mitraísmo foi uma religião popular no Império Romano
entre os séculos II e V, sobretudo entre os soldados e os agentes do Império. Enquanto
no Zoroastrismo havia alguma igualdade de tratamento entre homens e mulheres, o
Mitraísmo era uma religião exclusivamente masculina. Vestígios arqueológicos
romanos na Grã-Bretanha mostram que o Mitraísmo era uma religião muito mais
disseminada e importante entre os romanos do que o Cristianismo, tendo esta ido
beber muito àquela durante o seu desenvolvimento. Mitra era, a um tempo, um Deus
do Sol (o termo persa Mihr significa Sol) e um Deus salvador; Plutarco referia-se
a ele como sendo o Mediador entre o homem e o Deus supremo. É provável que o dia
de louvor a Mitra fosse o domingo; um dos principais festivais realizava-se no solstício
de inverno, celebrado a 25 de Dezembro. Existem ainda indícios de que os seguidores
de Mitra celebravam uma refeição ritual, embora com pão e água, em vez de vinho.
Os rituais eram realizados em grutas,
caves ou templos decorados que para parecerem grutas, representando a gruta cósmica
ou universo. Havia sete níveis de iniciação: Corvus (Corvo), Nymphus (Noiva),
Miles (Soldado), Leo (Leão), Perses (Persa), Heliodromus
(Mensageiro do Sol) e Pater (Pai). Não era invulgar, por exemplo, que um
soldado de patente média chegasse a um nível mais elevado de iniciação do que um
superior militar. Pouco se sabe acerca dos rituais, salvo que eram realizados em
segredo, contando apenas com a presença do iniciado. Julga-se que os novos iniciados
teriam de encontrar o caminho através de passagens escuras até chegarem à luz: um
simbolismo óbvio. Aparentemente, o ritual também incluía uma representação simbólica
da morte e da ressurreição. Nem todos os soldados seguiam o Mitraísmo, mas os que
a ele pertenciam partilhavam uma sensação especial de camaradagem no mundo exterior,
reconhecendo-se, porventura, através de sinais secretos.
Embora, a nível histórico, possa
não haver grandes ligações entre eles, quando as há de todo, existem paralelos
óbvios com a estrutura, o secretismo, os rituais e a camaradagem e apoio mútuo exclusivamente
masculinos da Maçonaria e outras sociedades iniciáticas posteriores. O Mitraísmo
foi apenas uma das várias religiões de mistério nos séculos imediatamente antes
e depois de Cristo. Uma religião de mistério era um culto, ou sociedade religioso-mágica,
que só revelava os seus segredos, ensinamentos e rituais aos iniciados; o termo
mistério tem raízes gregas que significam coisa ou cerimónia secreta e iniciado.
A iniciação envolve amiúde a morte e o renascimento simbólicos, marcando esse simbolismo
uma presença acentuada nos outros rituais. Os segredos da religião eram ainda
revelados progressivamente, através de uma série de iniciações, a cada vez
menos pessoas à medida que os iniciados subiam os degraus da carreira espiritual.
Outras
religiões de mistério baseavam-se, entre outros Deuses, em Dioniso, Ísis e Osíris,
Cibele e Átis, Deméter e Perséfone (os mistérios eleusinos), e Orfeu; este último,
o movimento órfico, ensinava que existe uma centelha do divino no fundo da
natureza material de cada pessoa». In David V. Barrett, As Grandes Sociedades
Secretas, 1997, 2007, Clube do Autor, 2016, ISBN 978-989-724-333-2.
Cortesia de CdoAutor/JDACT