«Phineas
está morto. A notícia atingiu Adrian Mitchell como um soco no estômago. Trémulo,
agarrado ao corrimão, ele deu meia-volta na escada e encarou o serafim que
vinha subindo logo atrás. Nessa nova situação, Jason Taylor assumiria o antigo
posto de Phineas como o segundo no comando da cadeia hierárquica de Adrian. Quando?
Como? Jason não teve dificuldade em acompanhar o passo sobre-humano de Adrian
em direcção ao topo do prédio. Há mais ou menos uma hora. O facto foi reportado
como um ataque vampiresco. Ninguém percebeu que havia um vampiro por perto?
Como assim, por…? Foi isso que eu perguntei também. Mandei Damien ir até lá
investigar. Chegaram ao último patamar. O segurança que ia à frente abriu a
pesada porta de metal, e Adrian pôs os óculos escuros antes de sair sob o sol
do Arizona. Ele observou a reacção de desagrado do segurança diante do calor
implacável e ouviu um resmungo de reclamação do outro segurança, que protegia a
rectaguarda. Criaturas reféns dos seus instintos, eles eram bastante susceptíveis
a estímulos físicos, ao contrário dos serafins e vampiros. Adrian nem notou a
mudança de temperatura, a perda de Phineas tinha feito o seu sangue gelar. Um
helicóptero estava à espera logo adiante, com as hélices girando pelo ar opressivamente
seco e carregado de poeira. Na lateral da aeronave, havia a inscrição Mitchell Aeronáutica
e o logo alado da empresa de Adrian. Então tem dúvidas. Ele preferiu concentrar-se
nos detalhes, porque aquele não era o momento de deixar transparecer a sua fúria.
Por dentro, estava sendo consumido pela perda do seu melhor amigo e braço
direito. Mas, como líder dos Sentinelas, ele não podia demonstrar as suas emoções
em público. A morte de Phineas certamente causaria alvoroço entre as fileiras
da sua unidade de elite de serafins. Os Sentinelas recorreriam a ele como
exemplo de fortaleza e liderança. Um deles sobreviveu ao ataque. Apesar do som
do motor do helicóptero, Jason não precisou levantar a voz para ser ouvido. Os seus
olhos azuis também estavam descobertos, deixando o par de óculos escuros no
topo da cabeça. Achei meio..., suspeito
o facto de Phineas estar investigando o crescimento da matilha do
lago Navajo e sofrer uma emboscada no caminho de volta. E depois um dos cães
consegue sobreviver e diz que foi um ataque vampiresco?
Fazia séculos que Adrian
utilizava os cães como seguranças para os Sentinelas e como cães pastores a fim
de conduzir os vampiros a determinadas áreas. No entanto, alguns sinais de
descontentamento entre os cães mostravam que era hora de reavaliar a sua estratégia.
Eles haviam sido criados com o único objectivo de servir à sua unidade. Caso
fosse necessário, Adrian os faria lembrar do pacto firmado pelos seus
ancestrais. Eles corriam o risco de se transformar em vampiros sem alma,
sugadores de sangue, mas poderiam ser poupados caso se comprometessem a cumprir
sua antiga função. Alguns achavam que a sua dívida já havia sido paga pelas
gerações anteriores e tinham dificuldade em aceitar o facto de que este mundo
fora feito para os mortais. Eles jamais conseguiriam viver no meio aos humanos.
O único lugar possível para eles era o que Adrian tinha designado para eles. Um
dos seguranças abaixou-se e adentrou a turbulência criada pela hélice do helicóptero.
Ao chegar à aeronave, abriu a porta. Os poderes de Adrian o protegeram do
vendaval, permitindo que seguissem em frente sem esforço. Ele olhou para Jason.
Preciso interrogar o que sobreviveu ao ataque. Vou dizer isso para Damien. O
vento atingiu os cachos dourados do tenente, mandando os seus óculos escuros
pelos ares.
Adrian apanhou-os em pleno voo
com um movimento absurdamente veloz. Dentro da cabine, ele assumiu o seu lugar
num dos assentos que ficavam virados para trás. Jason sentou-se no outro. Mas
eu sou obrigado a perguntar: para que serve um cão de guarda que não consegue
proteger nada? Talvez devesse sacrificá-lo, para servir de exemplo. Se a culpa
for mesmo dele, esse cão vai preferir morrer. Adrian jogou os óculos escuros no
colo do seu tenente. Mas, até descobrirmos o que aconteceu, ele é uma vítima, e
a minha única testemunha. Vou precisar dele para pegar e punir quem fez isso. Os
dois guardas posicionaram-se nos assentos em frente. Um era baixo e atarracado.
O outro tinha quase a altura de Adrian. O mais alto ajustou o cinto e falou: a
parceira daquele cão morreu tentando proteger Phineas. Se ele pudesse fazer
alguma coisa para evitar, certamente teria feito. Jason abriu a boca para
falar. Adrian o silenciou com um aceno de mão. Então é Elijah». In Sylvia Day, Um
Toque de Vermelho, 2011, Editora Schwarcz, Editora Paralela, Companhia das
Letras, 2013, ISBN 978-856-553-029-3.
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