Maio de 1835. Londres. Abertura oficial
da Estação de Festas
«Rumores
diziam que Riordan Barrett podia levar uma mulher ao clímax a quatro metros de
distância, usando somente os seus olhos. De perto, as possibilidades eram infinitas,
assim como as curvas exuberantes do corpo deleitável de lady Meacham. Riordan
descansou a mão de leve nas costas da lady em questão, contemplando aquelas
possibilidades, enquanto a conduzia através da multidão reunida em Somerset House,
para marcar o início da Estação de Festas, com a exposição anual de artes da Royal
Academy. Lady Meacham deu-lhe um olhar recatado que não deixava dúvidas de que
estava pensando a mesma coisa. Ele sabia o que ela queria, o que todas queriam:
que os rumores fossem verdadeiros. Lady Meacham desejava experimentar o prazer
que Riordan tinha a reputação de oferecer. Ele, por sua vez, adoraria perder-se
no prazer por algum tempo. Era bom nisso..., em se perder em prazeres. Jogos de
cartas, apostas, corridas a cavalo, bebida, os vícios usuais de um
cavalheiro... Riodan conhecia todos. Não era estranho às seduções das demi-monde
ou às camas das viúvas. Ele e as damas sabiam por quê. Prazer era apenas mais
uma palavra para escape; um termo menos desesperado. Já havia desespero, e a
Estação de Festas apenas acabara de começar. Quando o esplendor dos bailes de
Londres e das lindas mulheres perdera o brilho? Riordan reprimiu o pensamento e
conduziu lady Meacham para a frente da mais recente obra de Turner: uma descrição
do incêndio da Câmara dos Lordes e Câmara dos Comuns, que ocorrera no último Outubro.
Se aquilo desse certo, ele passaria a tarde imerso nos charmes voluptuosos de
lady Meacham, esparramado na sua cama, esquecendo. Riordan inclinou-se sobre o
ouvido de lady Meacham e começou o jogo a sério. Note como o pincel de Turner
transmite a energia das chamas; como o uso dos tons de amarelo e vermelho
descreve as temperaturas do inferno. O leve toque dos seus dedos no braço dela
sugeria que ele estava criando um fogo diferente. O perfume de lady Meacham
preencheu as suas narinas com a sua fragrância cara e forte. Ele preferia algo
mais doce, mais suave. É especialista em..., ahn..., técnica de pincelada,
murmurou lady Meacham, o corpo angulando subtilmente, de modo que os seus seios
roçassem a manga do casaco de Riordan, num convite discreto. Sou especialista
em muitas coisas, lady Meacham, replicou Riordan num sussurro particular. Talvez
devesse chamar-me de Sarah. Ela bateu na manga dele de brincadeira, com o seu
leque. Está tão bem informado. Sabe pintar também? Um pouco.
Riordan soubera pintar mais do
que um pouco, certa vez. Mas em algum lugar entre aquela época e agora, pintar
deixara de ocupar um lugar central na sua vida, para sua grande tristeza e
surpresa. Ele não podia lembrar como isso acontecera, apenas que não mais
pintava. Lady Meacham... Sarah olhou-o por baixo de cílios longos, um sorriso
convencido brincando nos lábios. O que pinta? Aquela conversa estava indo
precisamente na direcção que ambos queriam. Riordan tinha a sua resposta
pronta. Nus, Sarah. Eu pinto nus. Elas me dizem que isso excita. Lady Meacham
deu uma risada rouca diante da indirecta maliciosa, a confirmação final de que
estava disposta a abrir mão do Grande Salão superaquecido de Somerset House por
um endereço muito mais confortável em Piccadilly, e os seus pincéis. A mão dela
permaneceu tempo demais na manga de Riordan, numa comunicação de familiaridade.
Não há mesmo um pingo de decência em si, há? Riordan cobriu-lhe a mão enluvada
com a sua, a voz baixa e profunda, agora só para ela: nem um pingo, lamento. Os
olhos de Sarah se iluminaram diante das possibilidades que a frase invocava, um
sorriso tímido na boca beijável. Acho tal qualidade deliciosa num homem, sem dúvida
alguma. Ela estava mais do que disposta, e era menos do que um desafio. De
alguma maneira, era decepcionante que tivesse sido capturada com tanta facilidade.
Entretanto, ele devia sentir-se mais excitado sobre a conquista, mais desejoso.
Afinal, Sarah Meacham era um prémio, realmente. O marido dela saíra em viagem
com a amante, e fofocas no clube White’s diziam que Sarah se tornara ansiosa
para tomar o seu primeiro amante desde o nascimento do filho reserva, no
último Outono. Houve apostas sobre quem seria esse amante. Riordan fora à
cidade especialmente para ganhar aquela aposta, para o caso de alguém duvidar
que não houvesse um osso redimível no seu corpo. Não poderia permitir que
pensassem que Riordan Barrett vinha perdendo o seu toque; que o seu irmão,
Elliott, enfim lhe colocara algum juízo na cabeça. O destino decretara que
Elliott, o herdeiro, devia ser bom, muito bom, e Riordan, o reserva, devia ser
mau, muito mau, uma justaposição natural para a bondade do seu irmão amado. Então
lá estava ele, mais cedo na cidade, interrompendo uma visita ao seu irmão em
Sussex, para fazer sexo com a esposa de outro homem e provar a todos que Riordan
Barrett era tão pervertido quanto os rumores reportavam». In Bronwyn Scott, Os Pecados de
Uma Dama, 2012, Nikki Poppen, Editora HR, Harlequin,
2013, ISBN 978-853-980-924-0.
Cortesia de EHR/Harlequin/JDACT