Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) Elizabeth deu-se conta de
que aquele homem estava olhando-a com muito interesse, e sentiu que um calafrio
lhe percorria as costas ao ouvir a sua voz profunda. O barão Osbert soltou uma
gargalhada, e comentou: desta mulher não irá gostar, meu senhor. Não merece nem
o seu tempo nem a sua atenção. Todas as mulheres merecem o meu tempo e a minha
atenção, disse o príncipe, com ironia. Como se chama minha senhora? Por todos
os santos da cristandade! Não queria que aqueles olhos escuros e perturbadores a
olhassem, nem que aquele príncipe complacente se fixasse nela. Elizabeth,
respondeu o seu pai em seu lugar. Aproxime-se do príncipe, tonta, e saúde-o com
uma reverência. Não teve opção a não ser obedecer, mas tomou cuidado de manter
a cabeça encurvada; por um lado, assim dissimulava um pouco a sua altura, e
pelo outro, o gesto servia-lhe para evitar que os outros pudessem ler a
expressão dos seus olhos. Até o mais lerdo dos seus irmãos se teria inquietado
se tivesse percebido o que estava pensando. Vai tomar o véu, lady Elizabeth?
Está convencida de que esse é o seu destino? Ergueu a cabeça com sobressalto, e
encontrou-se totalmente com o seu olhar. Por Deus, tinha os olhos mais
sedutores que tinha visto na sua vida, uma mulher poderia afundar-se neles… Se
fosse uma néscia susceptível, e ela não era. Ficou olhando-o sem poder reagir e
deu-se conta de que naqueles olhos não havia alegria nem maldade, embora lhe
parecesse ver alguns fantasmas. Não tem escolha, disse seu pai. É muito alta e
tonta para ser útil como esposa. Não sabia que a inteligência era um traço
desejável numa mulher, murmurou o príncipe, sem afastar o olhar dela. Seu pai
pôs-se a rir, e comentou: isso é verdade, mas quem iria querer aquecer-se com
uma ossuda como ela? É muito melhor dispor de uma mulher com carnes e curvas a
que possa agarrar-se. Eu tenho gostos menos limitados. Se um homem for o
bastante inteligente para observar com atenção, pode encontrar um prazer
inimaginável nos lugares mais insuspeitos. Elizabeth decidiu que já tinha tido
mais que suficiente, e ergueu o queixo num gesto decidido. Permite que me
retire pai? Ainda tenho trabalho pendente, e quero despedir-me dos meus irmãos.
Só Deus sabe quando voltaremos a ver-nos, já que não acredito que me irão visitar
no convento. Não, a menos que se vejam obrigados, e são muito inteligentes para
serem pegos, disse Osbert, sem pensar que o homem que tinha ao seu lado estava
pagando o preço por ter sido pego em flagrante. Duvido que possa encontrá-los.
São animais jovens e vigorosos, e esta noite é de celebração; sem dúvida estão divertindo-se,
e não quererão que a sua irmã mais velha os incomode. Eu lhes direi adeus por si.
Estamos celebrando o quê?, murmurou o príncipe William. A honra da sua visita ao
nosso lar, e a partida da minha filha, disse Osbert. Tão aborrecida é? Elizabeth
não pôde permanecer em silêncio ao ouvir o leve tom jocoso da sua voz. Sempre
tinha tido uma queda pelos homens capazes de rir, mas não à sua custa.
Entregar um filho à Igreja sempre
é causa de regozijo, disse com secura. Sobretudo, quando não serve para nada
mais, enfatizou o seu devoto pai. Não estou tão seguro disso, comentou o
príncipe. Elizabeth voltou a sentir um calafrio de inquietação, porque a sua
voz era quase pior que o seu intenso olhar. Aquele homem fazia que tivesse
vontade de fugir… E de derreter-se. Embora fugir fosse o mais sensato, é obvio.
Ocupar-me-ei dos irmãos, e me retirarei… A que irmãos se referem? Aos teus, ou
aos monges? Já me disseram que os meus estão ocupados, e não há dúvida de que
tem razão como sempre, pai. Devo assegurar-me de que os monges estejam bem
servidos. Mantenha-se afastada deles, a voz profunda do príncipe tinha perdido
toda a suavidade. O seu tom era o de um membro da realeza que exigia
obediência. Elizabeth não se atreveu a contradizê-lo. Fez outra reverência, e
disse com recato: como desejar. Lançou um olhar por cima do ombro para o
pequeno grupo de monges. Alguns deles já estavam adormecidos no chão, mas o
irmão Matthew, o do sorriso doce e olhos azuis, estava observando-a: acho que
não é tão adequada para entrar num convento, minha senhora, disse William com
voz suave. Parece que certo tipo de homem chama muito a sua atenção. Elizabeth
voltou-se de repente para ele, e olhou-o surpreendida. Tinha notado certo matiz
de desaprovação na sua voz, como se ele não tivesse gostado que ela observasse o
monge. Não conseguiu entender a sua reacção, porque sem dúvida um homem como
ele não tinha necessidade de monopolizar a adoração de todas as mulheres. Acompanhe-me
ao meu quarto, lady Elizabeth, disse ele de repente. Estou cansado, e duvido
que seja capaz de chegar lá sozinho depois de tomar o excelente vinho de seu
pai. Ficarei feliz de pôr à sua disposição alguma donzela, meu senhor.
Elizabeth deteve-se imediatamente. Sabia que meter-se na cama do príncipe podia
ser perigoso, e não tinha intenção alguma de sacrificar outra mulher para
salvar a pele». In Anne Stuart, Desejos Ocultos, Harlequin, Harper
Collins Ibérica, 2014, ISBN: 978-846-875-034-7.
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