[Nos
finais da Idade Media o
comércio marítimo tornara-se essencial
para o desenvolvimento económico
da cidade do Porto. Nesse tempo, a sua frota consolidara já uma série de rotas
internacionais e os seus mercadores eram presença assídua em diversos portos europeus. Um dos problemas
perturbadores desta actividade era o corso exercido sabre as suas embarcações levado a cabo por ingleses,
franceses e castelhanos. Com base
num documento de 1469, surpreendemos dinâmicas mercantis e, acima de tudo, a forma como as autoridades da cidade providenciavam a
defesa da sua navegação contra os assaltos perpetrados por esses corsários].
«(…) Num esquema comercial
baseado no intercâmbio de mercadorias, onde o frete de retorno desempenha um
papel decisivo, importa insistir naquilo que os nossos mercadores tinham para
oferecer: sob a designação genérica de aver-de-peso,
os produtos tradicionais do sector primário português o sal o peixe, os couros
e, também, de algum modo, o vinho. Serão estes artigos a garantir receitas
essenciais para as compras no estrangeiro. O sal será objecto de procura desde
muito cedo e tem venda certa nos mercados externos. Quanto ao vinho português,
embora não possa concorrer com os grandes vinhos franceses, não deixa de ser
exportado. Se bem que todos estes artigos tenham mercado garantido, eles são de
baixo valor acrescentado. Por isso, os armadores foram obrigados a encontrar
soluções dentro desta realidade, que lhes permitissem sobreviver em meios tão
competitivos. Desde longa data começam a empenhar-se vigorosamente numa
actividade transportadora que justifica e rentabiliza a existência, crescente,
de navios. Vemo-los a fretar as suas naus, caravelas e barinéis em portos da
Flandres ou da Galiza, a levar sal, pescado, têxteis ou armamento para
diferentes paragens e a retornar com artigos para outros clientes. É em grande
medida em função do transporte que os armadores do Porto vão alicerçar
contactos que se revelarão extremamente frutuosos no futuro e envolver-se no
mundo da finança e dos seguros, essencial para o desenvolvimento deste sector.
E, com isso, os portuenses acabam
por conhecer e familiarizar-se com ambientes diversificados. Com o dinamismo do
Noroeste europeu, fornecedor de matérias-primas, cereais, armas e manufacturas,
abundantes nos portos e mercados hanseaticos e flamengos. A frequência com que
para ai navegam e o volume de negócios que aí desenvolvem justifica a existência
de uma feitoria em Bruges, ponto de apoio essencial para todos os mercadores do
reino. No Sul, só mais tarde surgira um estabelecimento do género na Andaluzia.
Por seu turno, o Mediterrâneo, O Levante
como genericamente o designam os documentos do século XV, desde cedo esteve
nos seus horizontes, apesar de aí lhes caber apenas um papel de actores secundários.
São
todas estas circunstâncias a determinar a feição marítima da cidade. No século XV
esta perfeitamente definido o seu modo de actuação onde a componente
transportadora, ao frete, ganha particular relevância. Para isso era
necessária uma frota mercante. Os documentos dizem-nos que ela era constituída
por barcas (sobretudo
no século XIV mas também na centúria seguinte), barinéis, caravelas e naus.
Mas não nos dizem quantas unidades a compunham. De acordo com os números que
pudemos determinar para os séculos XV e XVI é provável que não excedesse os
vinte e cinco navios». In Amândio M. Barros, O Porto contra os
Corsários, bolseiro da Fundação para a Ciência e
Tecnologia, Revista da Faculdade de
Letras, História, Porto, III
Serie, 2000».
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