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e cortesia de wikipedia
«(…) Dobrados em dois, batendo muitas vezes com a cabeça no tecto
de calcário, encetaram uma marcha forçada através da passagem estreita, em direcção
à parte subterrânea da grande pirâmide. Iam calados, à memória vinha-lhes
aquela fábula sinistra segundo a qual um espírito partia o pescoço a quem
tentasse violar o túmulo de Quéops. Quem sabe se aquele subterrâneo não os
desviaria do seu objectivo? Circulavam mapas falsos a fim de enganar eventuais
ladrões, seria aquele que possuíam o correcto? Chocaram com uma parede de pedra
que atacaram com cinzéis, por sorte, os blocos, pouco pesados, giraram sobre si
mesmos. Os conjurados penetraram numa grande câmara de terra batida, com três
metros e cinquenta de altura por catorze de comprimento e oito de largura. No
centro, havia um poço. A câmara baixa... Estamos na grande pirâmide! Tinham conseguido.
O corredor, esquecido há tantas gerações, conduzia da esfinge ao
gigantesco monumento de Quéops cuja primeira sala se situava trinta metros
abaixo da base. Aqui, nesta matriz, evocação do seio da terra-mãe, tinham sido
praticados os primeiros ritos de ressurreição. Agora, tinham de descer por um
poço que conduzia ao interior da massa rochosa e desembocava no corredor que
começava do outro lado das três buchas de granito. O mais ágil
trepou agarrando-se às saliências da rocha e apoiando-se com os pés, quando
chegou lá acima, atirou a corda que levava amarrada à cintura. Um dos
conjurados quase desmaiou com falta de ar, os companheiros levaram-no até à
grande galeria, onde se recompôs. A imponência do local deixou-os fascinados.
Que mestre de obras teria sido tão louco a ponto de construir tal dispositivo constituído por sete
socalcos de pedra? Com quarenta e sete metros de comprimento e oito e meio de
altura, a grande galeria, obra única pelas suas dimensões e localização mesmo
no coração da pirâmide, desafiava o tempo. Os mestres de obras de Ramsés haviam
afirmado que jamais arquiteto algum realizaria proeza semelhante. Um dos conjurados, intimidado, pensou em
desistir, o chefe da expedição obrigou-o a continuar empurrando-o violentamente
para a frente. Desistir tão perto do fim teria sido estúpido, até agora, podiam
felicitar-se pelo rigor do plano traçado. Contudo, uma dúvida permanecia:
teriam as grades de pedra, colocadas entre a extremidade superior da grande
galeria e o início do corredor de acesso à câmara do rei, sido baixadas? Se
assim não fosse, não conseguiriam contornar o obstáculo e teriam de regressar
derrotados. O caminho está livre.
Ameaçadoras, as cavidades destinadas aos enormes blocos
estavam vazias. Os cinco conjurados tiveram de se curvar para conseguirem
entrar na câmara do rei, cujo tecto era formado por nove blocos de granito de
quatrocentas toneladas cada um. Com seis metros de altura, a sala protegia o
coração do império. O sarcófago do faraó repousava num chão de prata que
mantinha a pureza do local. Hesitaram. Até agora, haviam-se comportado como exploradores em busca de um
país desconhecido. É certo que tinham cometido três crimes e teriam de
responder por eles perante o tribunal do outro mundo, mas não tinham eles agido
para o bem do país e do povo ao prepararem o destronamento de um tirano? Se
abrissem o sarcófago, se o despojassem dos seus tesouros, estariam a violar a
eternidade, não a de um homem mumificado, mas a de um deus presente no seu
corpo de luz. Cortariam o último laço com uma civilização milenar com o objectivo
de fazer surgir um novo mundo que Ramsés jamais aceitaria. Tinham
vontade de fugir embora experimentassem uma sensação de bem-estar. O ar
chegava-lhes por dois canais escavados nas paredes norte e sul da pirâmide. Uma
estranha energia emanava do lajedo insuflando-lhes uma força desconhecida. Então
era assim que o faraó se regenerava, absorvendo a força nascida da pedra e da
forma do edifício! O tempo esgota-se». In Christian
Jacq, O Juiz do Egipto, A Pirâmide Assassinada, 1993, Bertrand
Editora, 1996, ISBN 978-972-250-835-3.
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