sábado, 3 de outubro de 2015

D. Miguel e o fim da Guerra Civil. Testemunhos. Autores Vários. «Uma das vertentes mais interessantes daquele conflito é a sua dimensão internacional, quer no plano diplomático, com a interferência directa ou indirecta dos governos estrangeiros na evolução da situação portuguesa»

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Introdução. A internacionalização da Guerra Civil. Liberais, miguelistas e carlistas
«A Guerra Civil de 1832-1834 continua a oferecer, não obstante os numerosos trabalhos já existentes, um vasto campo para os investigadores da História Militar, da História Diplomática e da História das Ideias, que podem contribuir, com novos estudos, para um melhor conhecimento e esclarecimento daquela época conturbada nas suas diversas vertentes, em que o político, o económico, o social, o cultural e o mental se articulam numa perspectiva global e integrada. De facto, a grande maioria das obras já existentes sobre aquela temática situam-se numa linha descritiva, seguindo uma tradição que remonta a Luz Soriano, enriquecida com algumas focagens regionais ou com visões mais interpretativas, e carecem de uma actualização quer no que diz respeito ao levantamento de novas fontes, quer no que diz respeito a aparelhos conceptuais e às metodologias adoptadas. Uma das vertentes mais interessantes daquele conflito é a sua dimensão internacional, quer no plano diplomático, com a interferência directa ou indirecta dos governos estrangeiros na evolução da situação portuguesa, o jogo de interesses, com variações decorrentes da alteração das respectivas situações políticas internas, em cada país, quer na participação directa de elementos de outras nacionalidades no conflito. São por demais conhecidos os casos dos militares estrangeiros empregados pelos exércitos liberal e miguelista. Recordamos os estudos exemplares de Henrique Ferreira Lima e os materiais a tal propósito carreados no Boletim do Arquivo Histórico Militar e o de J. Lorette. Sem olvidar, ainda os excelentes depoimentos que deixaram sob a forma de memórias. Alguns desses oficiais desempenharam por vezes cargos cimeiros de comando, com todas as consequências negativas e positivas desse facto. Os casos de Bourmont, Solignac, Macdonell, Sartorius e Charles Napier são exemplares.
Também é de todos conhecida a posição das grandes potências europeias face a Miguel, com a viragem profunda operada em 1830, após a queda de Carlos X, em França, e do ministério presidido pelo duque de Wellington, na Grã-Bretanha, propiciadora das condições políticas e logísticas que tornaram possível a expedição liberal aos Açores e o seu posterior desembarque no norte do país. Parece-nos desnecessário salientar a profunda ligação e o paralelismo entre os processos de implantação do liberalismo em Portugal e Espanha. A bibliografia existente sobre essa problemática não é escassa. É que no país vizinho decorria, também, um confronto político e ideológico que, embora latente, não deixava de constituir motivo de preocupação para o monarca espanhol.
Os realistas puros previram o seu acesso ao poder quando Carlos Maria Isidro, herdeiro do trono, sucedesse a seu irmão Fernando VII, que não tivera descendência de três casamentos. Esta situação alterou-se, porém, em 1829, quando o monarca, depois de ter enviuvado de Maria Josefa da Saxónia, contraiu novas núpcias, desta vez com Maria Cristina de Borbón-Nápoles, que se celebraram a 12 de Dezembro do mesmo ano. Se resultasse descendência deste novo casamento, então tudo se alteraria e as expectativas dos partidários de Carlos sairiam frustradas. A 29 de Março de 1830, o rei publicou uma pragmática que sancionava a lei aprovada nas Cortes de 1789, alterando o quadro legal sucessório. A 10 de Outubro nascia uma filha, Isabel. A pragmática abria dessa forma caminho para que a jovem princesa pudesse suceder a Fernando VII à frente dos destinos da Espanha». In Autores Vários (J. B.; Auget Sylvan; Francisco Lobo), D. Miguel e o fim da Guerra Civil, Testemunhos, Introdução de António Ventura, Caleidoscópio, Centro de História da UL, Lisboa, 2006, ISBN 989-801-012-6.

Cortesia de Caleidoscópio/JDACT