segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A Insurreição Miguelista nas Resistências a Costa Cabral (1842-1847). José Brissos. «A ausência de uma chefia efectiva repercutia-se, como era inevitável, na questão decisiva do comando militar»

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A Montagem de uma Conspiração. Debates de Comando e Direcção
«(…) As notabilidades de Lisboa, divergentes e inactivas, não aceitavam com facilidade a autoridade de Ribeiro Saraiva. A JN procurava gerir, com moderação, a ambiguidade de liderança existente. Contudo, este cenário não era o mais indicado para um plano coordenado e unitário de actuação. O problema residia, desde logo, em definir os seus próprios contornos. A ausência de uma chefia efectiva repercutia-se, como era inevitável, na questão decisiva do comando militar.

Chefia(s) militar(es)
Para a definição de uma estrutura militar destinada a promover a Restauração não era possível, desde logo, contar com os antigos generais miguelistas, pois faltar-lhes-ia vontade e crédito nos povos. A falta de chefias militares que, com prestígio, risco e entusiasmo, organizassem o dispositivo insurreccional marcará, dramaticamente, esta tentativa de Restauração miguelista. Os altos comandos do antigo exército de Miguel tinham ficado ou desacreditados (S. Lourenço), ou ressentidos (Santa Marta) ou não acreditavam na solução das armas, manifestando uma fidelidad e cada vez mais difusa (Póvoas). É esta situação, quase paradoxal, que ditará o processo que culminará com a vinda do general Macdonell em 1846. O que se trata de prover nesta fase inicial é um recenseamento dos recursos militares disponíveis. Em primeiro lugar a preocupação é sondar as influências locais, de forma a estabelecer a ligação com os antigos quadros do exército realista. Daí a necessidade da existência de um chefe militar em cada província para que tais procedimentos preparatórios tenham sequência e organizaçãoes.
Contudo, a elaboração de um plano militar e a marcha dos respectivos preparativos de execução dependia da existência de um Comando em Chefe que definisse os seus contornos e prioridades, supervisionando o seu andamento. A escolha no seio do Portugal miguelista afigurava-se em função do que atrás foi referido, muito difícil. O único general realista que tinha credibilidade e prestígio firmado para se colocar à frente da Restauração era o general Póvoas (Álvaro Xavier Fonseca Coutinho Póvoa, 1773-1852, depois de ter aderido à revolução liberal de 1820, sendo deputado nas constituintes, acaba por ingressar na chamada contra-revolução. Não só apoia a Vila Francada, 1823, como também se integra no regime de Miguel, onde ocupa diversas posições de chefia militar, a última das quais a de comandante em chefe do Exército realista em 1833). Como veremos, não deixarâ de ser sondado, mas as suas hesitações mostravam claramente que o seu envolvimento era duvidoso. Na verdade, a sua inclinação ia para a corrente eleitoral miguelista o que, convenhamos, não denotava um excesso de entusiasmo pela solução armada.
Talvez tendo em conta estes condicionalismos, os mentores da conspiração miguelista apresentaram desde logo, em 1842, a proposta de ser o general Macdonell o chefe militar da Restauração. Esta solução tem em conta dois factores decisivos: o prestígio de Macdonell em Portugal e a ausência de uma alternativa imediata e convincente. Anteriormente, ao que supomos em 184l, dom Miguel, na altura em que nomeou os chefes miguelistas de Lisboa, havia indicado um general em chefe, cujo nome não conseguimos apurar. Trataram-se de nomeações sem grande eficácia prática. O que estava em causa, na época, era sobretudo salvaguardar a fidelidade das notabilidades realistas e não propriamente a definição imediata de um plano de operações». In José Brissos, A Insurreição Miguelista nas Resistências a Costa Cabral (1842-1847), Faculdades de Letras de Lisboa, Edições Colibri, 1997, ISBN 972-8288-80-8.

Cortesia de Colibri/JDACT