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Os judeus no período medieval
«As comunas judaicas, algumas com várias judiarias, ocupam o território português de Norte a Sul, de que se identificaram mais de três dezenas de localidades entre 1279 e 1383: Bragança, Rio Livre, Chaves, Guimarães, Mogadouro, Porto, Castelo Rodrigo, Trancoso, Viseu, Guarda, Sabugal, Coimbra, Monforte, Leiria Torres Novas, Atouguia, Portalegre, Santarém, Elvas, Estremoz, Olivença, Lisboa, Setúbal, Évora, Santiago do Cacém, Beja, Serpa, Silves, Loulé, Faro e Tavira.
Nos finais do século XIV, os ventos que sopram dos reinos vizinhos não são nada favoráveis aos praticantes do hebraísmo. O dramático ano de 1391 semeia a mortandade entre os judeus de Castela e Aragão, de tal forma que o tempo de João I (1385-1433) constitui o ’mal menor’ para os judeus ibéricos, que aqui acorrem aos milhares, gerando situações explosivas em algumas localidades do nosso país, levando o Mestre de Avis a retomar a obrigatoriedade do uso do sinal. Na realidade, os judeus estão a ferro e fogo em toda a Península Ibérica à excepção do reino de Portugal.
Foi o início da viragem da situação dos judeus portugueses que, com o rei Duarte (1433-1438), assistiram à progressiva deterioração do secular "estado de graça" de que gozavam, em grande medida por via da protecção real. Com a publicação do ‘Édito de 1436’, em que se proibiam os cargos públicos aos judeus, estava verdadeiramente ameaçada a situação anterior e começava a desenhar-se o real desamparo da população hebraica peninsular. Embora com menos rigor do que nos reinos vizinhos, o ódio popular ganhava força entre a população cristã portuguesa, à semelhança do que acontecera em Castela e Aragão, prenúncio do destino comum dos judeus ibéricos que viriam a sofrer o mais duro golpe no final desse século.
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Se atentarmos na evolução da distribuição das comunidades judaicas, durante os séculos XIII a XV, pelos actuais concelhos do continente português, constatamos que os judeus se afirmam gradualmente no território do reino, fazendo alastrar a sua presença nos grandes centros (Lisboa, Évora, Porto), criando comunidades em Trás-os-Montes, Beiras e em quase todo o Sul do Tejo. Sem dúvida, que só a tolerância controlada e a protecção régia de que gozavam permitiria esta evolução muito positiva das comunidades judaicas portuguesas. As manchas assinaladas nos concelhos não correspondem a uma ocupação de todo o território concelhio e, por vezes, nem se referem à sede de concelho (apenas a povoações menores ou secundárias) mas, em todo o caso, os indicadores disponíveis podem fornecer-nos uma imagem aproximada do crescimento da sua presença no país, que só seria abruptamente interrompida pelo ‘Édito de Expulsão’ e a introdução da Inquisição (maldita). Também se pode observar que as regiões mais importantes para a presença judaica no período anterior à intolerância quinhentista se reflectiria ao longo da história da perseguição antijudaica e tornar-se-iam, justamente, os principais focos do ressurgimento das comunidades judaicas oitocentistas e do resgate dos marranos no início do século XX.
O ‘Édito de Expulsão’ espanhol de 1492 veio aumentar substancialmente o número de judeus em Portugal, com a chegada de milhares de judeus espanhóis. Lúcio de Azevedo adianta o número de 120 000 judeus entrados em território português nessa época, avaliando em20% a presença judaica no nosso reino. Damião de Góis fica-se por umas, em todo o caso expressivas, 20 000 famílias, ou seja, cerca de 100 000 novos judeus e o abade de Baçal utiliza o número de 40 000.
Apesar de não existirem números seguros, não será muito arriscado avaliar em l0% a presença judaica em Portugal em finais do século XV, no momento em que Manuel I decreta a sua expulsão do reino, que teria entre um milhão e um milhão e meio de habitantes». In Breve História dos Judeus em Portugal, Jorge Martins, Nova Vega, colecção Sefarad, 2011, ISBN 978-972-699-920-1.
continua
Cortesia de Nova Veja/JDACT