terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Cultura. Civilização. António José Saraiva. «Por ela se comunicam emoções ou concepções mentais. A religião, a arte, o desporto, o luxo, a ciência e a tecnologia são produtos da cultura. Este é o sentido mais extenso de cultura, que coincide com o de “civilização”, palavra que se propagou por via francesa. Cultura, essa, difundiu-se por via alemã»

Cortesia de culturawine

O que é cultura?
Definições
«Cultura opõe-se a natura ou natureza, isto é, abrange todos aqueles objectos ou operações que a natureza não produz e que lhe são acrescentados pelo espírito. A fala é já condição de cultura. Por ela se comunicam emoções ou concepções mentais. A religião, a arte, o desporto, o luxo, a ciência e a tecnologia são produtos da cultura.
Este é o sentido mais extenso de cultura, que coincide com o de “civilização”, palavra que se propagou por via francesa. Cultura, essa, difundiu-se por via alemã. Em sentido mais restrito, entende-se por cultura todo o conjunto de actividades lúdicas ou utilitárias, intelectuais e afectivas que caracterizam especificamente um determinado povo. Fala-se da cultura dos Esquimós ou dos Pigmeus. Assim entendida, a cultura é estudada pela etnologia. É um sentido global de cultura, considerada em relação a um Povo.
Pode restringir-se também a palavra quanto aos temas de análise. Nesse caso, consideramos um conjunto de artes lúdicas, especialmente aquelas que os gregos antigos designavam por ‘as nove musas’ (como a poesia, a música, a dança, a mímica, etc.), excluindo a ciência e a tecnologia. Com um significado aproximado usam os ingleses a palavra “folklore” que se divulgou internacionalmente com o significado de poesia popular.

Cultura e linguagem
“No princípio era o Logos (em latim Verbum) e o Logos estava com Deus. E o Logos era Deus”. Com este enigmático texto começa o Evangelho do apóstolo João, impregnado de cultura grega. O Logos é a Palavra, a que João atribui um estatuto divino, como os gregos de Homero geralmente o faziam. Em Homero, frequentemente os deuses descem ao corpo dos homens: Palas, por exemplo, entra em Ulisses e fala pela boca dele.

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Isto significa que a linguagem foi sentida pelos homens da Antiguidade como um dom misterioso e sobrenatural. O antropóide só é humano quando tem o dom divino da palavra. A linguagem não é apenas a emissão de um som, mediante a articulação combinada de um conjunto de músculos e de gestos. O importante é que esses sons exprimem uma ideia, um conceito, que tem uma existência puramente mental. Uma cadeia de sons correspondentes a uma cadeia de ideias é o que constitui o discurso falado. Não basta aprender palavras para adquirir o dom da fala. A memória não chega para aprender a falar.
Segundo antropólogos contemporâneos, como Lévi-Strauss, a linguagem não resulta de uma aquisição lenta e progressiva, mas de uma espécie de mutação que surgiu subitamente no primata humano. A evolução das espécies não é contínua mas faz-se por saltos. O surgimento da fala, ou da possibilidade de falar, seria um caso de mutação, de salto qualitativo, e não de acréscimo quantitativo». In Cultura, António José Saraiva, Difusão Cultural, 1993, ISBN 709-972-154-7.

Cortesia de Difusão Cultural/JDACT