domingo, 26 de fevereiro de 2012

Daqui Nasceu Portugal. Alberto Feio. Braga. «No primeiro decénio do V século, Suevos, Alanos e Vândalos talharam a península, apropriando-se da terra alheia. Em 411 partilharam entre si as províncias, cabendo a Galécia aos Suevos, que fizeram sua capital na nobre “Bracara Augusta”»

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«Neste agrupamento de certa autonomia, vinculando o solo aos homens de tradição comum, não estará a gerar-se o elemento sentimental da independência?
Quando o paganismo luso-romano dominava ainda plenamente, uma nova doutrina, cheia de luz e de esperança, avassalava o mundo latino: - o cristianismo.
Envolta em densas sombras está a origem da propagação da nova crença na Hispânia. No III século, porém, a igreja católica está organizada e no primeiro concílio de Toledo já figura Paterno, como bispo de “Bracara”.
O ideal evangélico, embora perturbado pelo apego a velhas fórmulas, geradoras de heresias como a de Prisciliano, acabou por vencer o paganismo e com a paz constantiniana fundas raízes criou no noroeste peninsular. O desfazer progressivo do Império do Ocidente, as invasões e fixação dos bárbaros do Norte fizeram declinar rapidamente e quase aniquilar a adquirida civilização.

No primeiro decénio do V século, Suevos, Alanos e Vândalos talharam a península, apropriando-se da terra alheia. Em 411 partilharam entre si as províncias, cabendo a Galécia aos Suevos, que fizeram sua capital na nobre “Bracara Augusta”.
Na submissão ao vencedor, os povos interamnenses perderam uma parte grande de seus bens, no território germanizado e tornado bárbaro.

Cortesia de wikipedia

No meio do barbarismo, uma força, todavia, mantinha as ideias e as tradições. Era a força que governava as almas. A igreja conservava suas dioceses nas antigas províncias e os bispos, detentores da inteligência e do saber, dirigiam aqui, como no velho mundo romano, os sentimentos dos homens. Nesse período, a região mantém o seu cristianismo com os Bispos de Braga, ‘Balcónio’, seu primeiro metropolita, ‘Profuturo’, ‘Lucrécio’ e sobretudo com o grande “S. Martinho de Dume”.
Entrados pagãos, os Suevos converteram-se ao cristianismo, que era a religião dos que estavam. Mas o seu catolicismo dura pouco. Remismundo, rei dos Suevos, aceita e propaga o arianismo. Acompanhá-lo-ia a população?
A sueva certamente, a outra, principalmente a que vivia perto dos seus Bispos, quase se pode afirmar que não. Mas um dia, por volta do ano 550, chegou S. Martinho. Por suas luzes e virtudes, de Bispo de Dume é promovido à dignidade metropolita de Braga. Por sua pregação e apostolado, converte à fé católica o rei Chararico e sua gente. Por sua firmeza no combate ao arianismo, a fé católica mais se radica e desenvolve, a ponto de se celebrarem em Braga dois concílios, um em 561, outro em 572.

Cortesia de wikipedia

Neste segundo concílio, a província eclesiástica da “Gallaecia” divide-se em duas:
  • a de Braga, com seis bispados todos da futura terra portuguesa. Dume, Coimbra, Porto, Viseu, Lamego e Egitânia;
  • a de Lugo, com os bispados propriamente galegos.
Quase sempre a divisão eclesiástica acompanhava as tendências políticas. Porque não ver nesta circunstância um novo estrato da tendência separatista ?
Em 415 entram na Hispânia novos bárbaros: os Visigodos do comando de Ataúlfo. Disputam com armas na mão as conquistas dos primeiros invasores, de sorte que a península fica constituída por dois estados: Suevos e Visigodos.
Mas bem depressa os Visigodos procuram também conquistar o ocidente peninsular. Já em 456, Teodorico II assola esta cidade de Braga com terrível sanha – ‘maesta et lacrimabilis... direptio’. Por fim Leovigildo em 585 submete os Suevos e forma a unidade peninsular. À luta política sucedeu a luta religiosa, como nos diz Idácio. O arianismo visigótico acabou por ceder ao catolicismo romano-suevo.
Com a conversão de Recaredo vem o triunfo definitivo da igreja, que celebra vários concílios. Entre estes, um reunido em Mérida, pouco depois de 650, particularmente nos interessa.
Ali se decidiu restaurar uma divisão administrativa, a que se fez corresponder a província eclesiástica de Mérida. Passam para Mérida os bispados católicos de Coimbra, Viseu, Lamego e Egitânia, ao passo que à província bracarense são unidos os de Tui, Orense, Iria, Astorga e Lugo, pela supressão do sínodo lucence.
Com as convenções políticas, porém, não mudam as ideias nem os interesses, e nós sabemos que a união dos bispados galegos a Braga foi alfobre de brigas, de discussões e de lutas». In Alberto Feio, Daqui Nasceu Portugal, Câmara Municipal de Braga, 1964.

Cortesia da CM de Braga/JDACT