Cortesia de editorialpresenca
O Pombalismo
«Em Viena, acamaradou com maçons conhecidos, como por exemplo Manuel Teles da Silva, duque e príncipe de Silva Tarouca, sugerindo-se que tivesse visitado a loja “Aux Trois Canons” (é curioso que os historiadores não maçons aceitam a visita de Pombal à loja vienense, como se tal visita fosse possível a um não iniciado! A menos que Carvalho e Melo se tivesse limitado a ‘visitar’ o espaço físico da loja...) A entrada de Pombal na Maçonaria permitiria explicar melhor, para além dos argumentos expostos, a ausência de perseguições durante todo o seu governo e a tolerância plena que demonstrou para com maçons confessos, guindando-os aos mais altos cargos e favorecendo-os com a sua protecção declarada. E ajudaria a explicar também a profusão de símbolos maçónicos ou maçonizantes, espalhados pelas várias formas artísticas, durante o tempo do seu consulado.
NOTA: Compassos, esquadros e outros utensílios de pedreiro, por vezes em posição tipicamente maçónica, surgem em pinturas, azulejos, baixos-relevos, etc., Se muitos nada têm a ver com a Maçonaria, simbolizando apenas a arte de construção, alguns podem resultar de um espírito maçónico e de uma consciência maçónica, discretamente transmitidos pelo artista ao monumento em que trabalhava. Apontem-se, como exemplos, o famoso tecto da Sala da Concórdia, no Palácio do Marquês de Pombal em Oeiras, em que os ‘três’ irmãos se abraçam e dão as mãos, entre ‘três’ colunas-pilares, tendo aos pés a ambígua legenda «Concordia Fratrum» (Concórdia dos Irmãos); a alegoria ao Marquês de Pombal, desenho de Francisco Roiz e gravura de Steph. Fessard, no Museu Nacional de Arte Antiga e no Museu da Cidade (cf . Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade, vol. I, Lisboa, 1982, nº 15, p. 29): a alegoria a José I, gravura no Banco de Portugal; a alegoria à Expulsão dos Jesuítas, de João Tomás da Fonseca e Ventura da Silva, conservada também no Banco de Portugal; outra alegoria à Expulsão dos Jesuítas, gravura a água forte e buril, existente igualmente no Banco de Portugal; um painel de azulejos no salão nobre do Hospital de S. José, em Lisboa; o baixo-relevo de João Tomás da Fonseca na parte de trás do pedestal da estátua equestre na Praça do Comércio, em Lisboa, etc..
O quarto de século que, ‘grosso modo’, correspondeu ao ministério de Sebastião José de Carvalho e Melo, foi ponteado de iniciações de cidadãos portugueses fora de Portugal. A fama e a moda da Maçonaria corriam fronteiras.
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Muitos súbditos de Estados onde as lojas estavam proibidas ou tinham pouca projecção social recorriam às instituições maçónicas estrangeiras, se se dava o caso de residirem ou de passarem algum tempo fora do seu país. Assim sucedia com diplomatas, com mercenários de qualquer profissão e, sobretudo, com marítimos e com comerciantes internacionais. Uma vez regressados à pátria de origem, estes maçons seguiam trajectórias variadas. Uns, porventura a maioria, não mais trabalhavam em loja, quer por a não existir na sua terra quer por não estarem interessados em se dar a conhecer ou em conviver com os seus compatriotas. Outros, mais imbuídos de espírito maçónico, procuravam integrar-se nas lojas que encontravam em actividade ou fomentar até a criação de novas oficinas. Em qualquer caso, traziam consigo o espírito da Maçonaria, e a história dos seus casos não pode ser esquecida.
Na ausência de Maçonaria portuguesa organizada, os membros da colónia britânica continuaram a trabalhar na sua loja própria. Entre 1755 e 1763 levantou colunas, em Lisboa, uma loja «inglesa», restrita aos cidadãos das Ilhas Britânicas e de que nada praticamente se sabe (1755 corresponde, à data em que a primeira loja inglesa foi abatida ao quadro das oficinas da Grande Loja de Londres). Esta loja não consta dos registos da Grande Loja de Londres, o que mostra que nunca se chegou a regularizar. Era aparentemente muito fechada, existindo escassa comunicação entre os seus membros e outros iniciados na Maçonaria. Ignora-se também em que data deixou de trabalhar. Em 3 de Julho de 1762, no quadro de uma reestruturação geral do Exército português, envolvido na Guerra dos Sete Anos, chegou a Portugal, a convite de Sebastião José de Carvalho e Melo, o conde reinante de Schaumburg-Lippe, Friedrich Wilhelm Ernst [O conde sucedera a seu pai, o maçon Albert Wolfgang, em 1748, com o nome de Wilhelm (Guilherme)].
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O conde de Lippe era conhecido internacionalmente como um bom organizador e estratega, tendo actuado em Inglaterra, no Hannover e em Lippe, e participado em várias operações militares. Fora o Governo Britânico que o recomendara ao Governo Português. O conde de Lippe residiu em Portugal de Julho de 1762 a 20 de Setembro de 1764 e depois, novamente, de 16 de Setembro de 1767 a 1 de Março de 1768, com influência decisiva na reorganização das forças militares portuguesas.
Ora, o conde de Lippe pertencia à Maçonaria. Fora iniciado na Alemanha e, aparentemente, não passara a coberto como tantos outros. Rodeou-se de oficiais também maçons e trouxe-os consigo para Portugal. A tradição da profunda influência do conde de Lippe na Maçonaria portuguesa mantinha-se bem viva em meados do século XIX. Leiam-se declarações de ‘irmãos’ tão bem informados como Silva Carvalho (1846) ou Miguel António Dias (1853). Ficaram conhecidos, certamente entre outros muitos, os nomes de vários mercenários que o acompanharam.
Foi grande o impacte destes mercenários na Maçonaria portuguesa. Fundaram-se, pelo menos, três lojas, uma em Lisboa, outra em Valença e outra no Funchal e, possivelmente, outras ainda, em Coimbra, Almeida, Elvas, Olivença, Estremoz, etc., onde quer que existissem guarnições militares importantes. E quando não houve oportunidade, ou iniciativa, para a instalação de oficinas, houve ‘irmãos’, dispersos por todo o Portugal, difundindo os ideais maçónicos e contribuindo para o seu melhor conhecimento por parte dos Portugueses.
A loja de Lisboa trabalhava já em 1763, embora sem a autorização de qualquer Grande Loja. Compunha-se de uma dúzia de pessoas, predominante ou exclusivamente estrangeiros, com a participação de holandeses, alemães, franceses, italianos do Piemonte, etc., saídos do pessoal diplomático e militar. Realizava as suas sessões em vários locais, fazendo-se referência à casa do Venerável e à de um francês, na rua da Estrela, mas igualmente a uma fragata de guerra, surta no porto de Lisboa, onde se efectuaram banquetes e se deu, até, instrução a aprendizes». In A. H. Oliveira Marques, História da Maçonaria em Portugal, das Origens ao Triunfo, Editorial Presença, 1990.
Cortesia de Editorial Presença/JDACT