domingo, 26 de fevereiro de 2012

Poesia. Folhas Secas. Júlio Nogueira. «A solidão da poesia e do sonho tira-nos da nossa desoladora solidão»


jdact e olhares

Zêzere
Oh Zezere formoso que serpeias,
já por planícies, já por entre montes,
ou a perder de vista nos horizontes
o lindo canto escondes das sereias.

Como é lindo sonhar nessas aldeias,
à hora em que o luar, na água das fontes,
se reflecte, e a argêntea cor nas frontes,
imprime às fadas, que, nas assembleias,

se reunem p'ra ver qual a mais pura,
'parte privilegiada da natura'.
Ó Zêzere, meu berço abençoado,

não permitas que sem ti a meu lado
jamais esteja. Menos custaria
sofrer, dum emigrante, a nostalgia.

Soneto de Júlio Nogueira, in «Folhas Secas, Coimbra, 1944»

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