Cortesia de papiroeditora
Intervenção Cívica
NOTA: O texto que se segue deve ser localizado no espaço e no tempo
Direito e Obrigação de Pensar
«Sinal da vontade dos cidadãos em intervir na política nacional, devido ao fechamento dos partidos e em que não é respeitada a independência de pensamento, mostra o calcanhar-de-aquiles dos partidos. Muitas pessoas vêem hoje os partidos como a forma mais difícil de influenciar a política, em que sentem não ter voz. Por outro lado, têm medo de expressar os seus pontos de vista, sem manha, com espontaneidade, sem estar sujeito a condições, falar pela própria cabeça e não em função de uma circunstância, falar de uma forma "irresponsável" no melhor sentido da palavra, não é comum e quem o faz é entendido como um romântico e um idealista. Porventura "louco", que paga um preço na hierarquia partidária, não chegando a lado algum, isto é, lugares de chefia, o debate de ideias está ausente, ter um olhar diferente e crítico, ter uma ideia, raciocinar, reflectir, não estar alheado, no fundo pensar.
Sendo esta forma de pensar sem coacção, constrangimento e acanhamento de qualquer tipo, com autenticidade, independente, não comprometida, não monopolizada, espontânea, à vontade, fidedigna e verdadeira, um exercício complicado e, tirando raras excepções difícil de levar a efeito. A culpa desta situação é dos partidos políticos com o seu autismo partidário em que existe um alheamento do real com uma concentração mórbida das pessoas nas decisões do partido, em que não é respeitada a independência de pensamento. A crítica não deve ser entendida como um ataque pessoal, ou querer denegrir alguém, A vida não pode ser vista de uma forma monolítica. Os partidos estão ensimesmados. As pessoas estão a acordar para uma nova forma de fazer política, estão a tentar inventar novas formas de fazer as coisas.
Além de movimentos cívicos, a sociedade civil está a procurar envolver-se com a criação de clubes de reflexão: surgiu no Porto o “Clube dos Pensadores” e em Lisboa o clube Loja das Ideias, além das Noites à Direita. Mostra a necessidade de desenvolver formas de participação cívica a que os partidos não conseguem dar resposta, por não serem abertos e incapazes de mudanças positivas. É preciso que gastemos algum tempo a pensar, a participar, a votar e a ler o jornal. A democracia não sobrevive a menos que alguns de nós se envolvam, a menos que haja alguma massa crítica. É preocupante quando, em eleições internas dos partidos, a sua abstenção é mais de cinquenta por cento, o candidato eleito é minoritário e por vezes único, foi o que aconteceu recentemente nas eleições internas do …e do …». In Clube dos Pensadores, Joaquim Jorge, Papiro Editora, Porto, 2009, Joaquim Jorge, Intervenção Cívica, ISBN 978-989-636-368-0.
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