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«Foi durante o período dito da “Regeneração”, designação histórica por que ficou conhecido o esforço do eminente estadista Fontes Pereira de Melo para arrancar o país da degradada situação em que o mergulharam os erros cabralistas, que se desenvolveu a exploração mineira em Portugal. Diz Veríssimo Serrão que a “Regeneração”, um terceiro liberalismo, prosseguiu a política de fomento mineiro, porque, entretanto, essa preocupação era já anterior do tempo em que, sendo Intendente Geral das Minas e Metais do reino (1801-1819) José Andrade Silva se procedeu ao registo geral das minas e se incrementou a exploração do carvão de pedra.
Determinados os governos nesse sentido, todo o país despertou activamente para as pesquisas do subsolo à procura de riquezas ocultas, valorizando terrenos, proporcionando oportunidades de investimento quer a nacionais quer a estrangeiros. Pretendia-se industrializar um país em atraso que desejava, segundo as expectativas dos seus governantes, acompanhar a Europa.
A Lei de 30 de Abril de 1849 e a criação de uma Comissão de Minas em Julho do ano seguinte demonstram claramente tais objectivos. Se não se atingiram inteiramente resultados previstos, o certo é que o espírito renovador da politica fontista animou vivamente a país de Norte a Sul, tornando-se esse período de quase décadas um sinal expressivo do desenvolvimento económico e de progresso que aconteceu.
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O Alentejo não ficou indiferente, atingido também por essa autêntica ‘febre mineira’. Carlos Ribeiro, figura relevante, geólogo e arqueólogo de reconhecida competência, dirigiu nessa época a Comissão Geológica de Minas e a ele se ficaram devendo os pareceres sobre as explorações que profundamente se requereram a partir dos manifestos registados, por força da lei, nas câmaras municipais.
Em dois tomos do Senado Portalegrense fomos encontrar, precisamente correspondendo ao período da “Regeneração Fontista”, uma série de registos que, pelo seu inegável interesse para a história económica da região, entendemos trazer ao conhecimento geral.
Citam-se os produtos localizados, evidência da riqueza do subsolo do concelho de Portalegre, classificados uns, ainda que às vezes, cremos, de modo empírico, desconhecidos outros; identificam-se os requerentes das minas, com suas origens de naturalidade e residência, às vezes, com indicação de idade, profissão e estado civil, assim como também se referem em muitos casos os proprietários dos terrenos, e demarcação destes e outros eventuais dados, todos eles muito úteis para se avaliar a perspectiva do panorama mineiro do concelho e da subsequente exploração e animação industrial da região que viesse a acontecer. Não passaram de intenções; apenas se pretendeu assegurar o direito às minas e se fizeram alguns eventuais ensaios. Estrangeiros, dos que já se encontravam instalados por aqui ligados por outros interesses económicos, caso conhecido dos Robinson, Reynolds e Larcher, poderiam ter avançado com programas mais concretos, mas não temos conhecimento de projectos consecutivos.
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Nem no concelho nem na região se instalaram indústrias extractivas ou transformadoras de aproveitamento dos minérios detectados no subsolo agora devassado. O levantamento da capacidade produtiva foi feito e ficou registado e isso, sem dúvida, é um facto importante da história económica local.
As descrições dos manifestos que adiante se desenvolvem mostram como os proprietários das minas e dos terrenos correspondem a gente de reconhecida capacidade económica, alguns com evidentes provas dadas, como os já referidos estrangeiros que tinham investido nos lanifícios e nas cortiças, que poderiam prosseguir novas experiências, outros eram pessoas ligadas à vida agrícola ou com peso social e político.
Os registos são, de qualquer forma, importantes ainda e também, no ponto de vista documental, pela informação que trazem à toponímica local, nomeadamente em relação a alguns microtopónimas, assim como à distribuição da propriedade. No ponto de vista geológico naturalmente os geógrafos especialistas se terão pronunciado de modo científico apreciando as qualidades do material descoberto e sobre as razões certas da sua localização, mais perto e mais longe das linhas de água, mais nas zonas áridas da montanha, mais perto ou mais longe da raia fronteiriça, do que no interior. De qualquer modo, por este levantamento se pode ficar a conhecer uma boa mancha mineira e se pode traçar um mapa da distribuição e da qualidade e quantidade do produto existente no concelho de Portalegre». In Manuel Inácio Pestana, Registos Mineiros na região de Portalegre no Período Fontista, Ibn Maruán, Revista Cultural do Concelho de Marvão, Coordenação de Jorge Oliveira, nº 2, 1992.
Cortesia da CM de Marvão/JDACT