O Distrito de Portalegre, n.º 5806, 19 de Novembro de 1982
jdact e
wikipedia
Resumo
«A minha investigação debruça-se
sobre a Ordem de Santa Clara em Portugal, apresentando a fundação e a vida dos
seus mosteiros, ao longo dos séculos XIII e XIV. Assim, preocupam-me a
instituição e os processos usados para implementar as primeiras comunidades, a
forma como vivem a regra e expressam a sua fé. Mas, para sobreviver um mosteiro
feminino tem de possuir um património, gerido em comum, e formado pela dotação
inicial dos fundadores e pelos bens dos benfeitores e de todas aquelas que
ingressam nos conventos. Importa ainda captar a protecção dos poderosos e o
desenvolvimento de redes clientelares, que transformam o mosteiro num centro de
poder, organizador da vida e distribuidor de graças e benefícios. O monaquismo
feminino assume, assim, um papel activo na sociedade e contribui para uma
leitura interpretativa do fenómeno religioso na medievalidade».
Introdução
«A elaboração de uma dissertação
de doutoramento constitui-se como o coroar de um trabalho académico de pesquisa
e reflexão que pretende contribuir para uma compreensão da realidade,
formulando um discurso interpretativo que reconheça as virtualidades mas também
os limites da sua abordagem. Colocar os problemas, inquirir das suas
possibilidades de verificação e o trabalho hermenêutico que se deve apoiar num
esforço heurístico de procurar reunir toda a documentação disponível. Tarefa,
por vezes, considerada gigantesca, devido a situação dos nossos arquivos,
especialmente no que concerne a organização e disponibilização dos fundos. Mas
a documentação revela-se sempre muito mais rica do que aquilo que se possa
imaginar a partida e reconstruir a história que ela, simultaneamente, nos
desvela e esconde e um desafio único e digno do trabalho de um historiador.
Pois a importância da investigação, em especial nas áreas das ciências humanas,
é uma realidade insofismável, no panorama científico que corre graves riscos de
se deixar abafar pelas verdades
puramente empíricas e pelos conceitos forjados na repetição exaustiva, sem
conteúdo epistemológico, nem reflexão crítica. Iniciei, assim, o estudo
consciente da situação que descrevi, e, por isso, reconhecia o trabalho que me
esperava. Optei, após um périplo pela documentação e de uma tomada de consciência
das lacunas da nossa investigação, por abordar uma temática que embora focada
na história económica e social, fosse transversal a toda a realidade.
Compreender o funcionamento de uma entidade, no caso vertente, de cariz
religioso, e a vida dos que a constituem é um esforço totalizante que me
parece, no momento da nossa historiografia, o mais importante e necessário para
uma problematização da Idade Média portuguesa.
As comunidades femininas de clarissas
em Portugal, durante os séculos XIII e XIV, são o objecto de estudo que elegi.
Pretendo fazer uma leitura interpretativa do papel da mulher e da sua opção religiosa,
bem como das implicações desta na sociedade que a cerca e com quem ela constrói
uma teia de relações (a nível pessoal e comunitário). Significa esta opcção,
tratar estas mulheres no seu todo, como agentes e construtoras de uma história
e o protagonismo dos seus conventos, na conjuntura económica e social
portuguesa. Impõe-se, por isso, antes de empreender a obra, começar por, em
breves linhas, traçar um panorama da historiografia sobre o monaquismo
feminino, em Portugal, a fim de enquadrar o estudo. Em Marco de 1985, no Colóquio realizado em Coimbra
sobre A mulher na sociedade
portuguesa. Visão histórica e perspectivas actuais, Maria Alegria
Marques afirmava: A temática do
monaquismo feminino afigura-se-nos como algo de apaixonante, quer pela sua
vastidão, quer pelo mundo de problemas de cariz marcadamente humano e de índole
social que lhe podem estar subjacentes. No entanto, entre nós, o seu estudo
está por fazer e é nesse sentido que pretendemos apresentar algumas pistas de
trabalho que, por certo, ajudarão ao problema. À data existia apenas o
estudo monográfico sobre o Mosteiro de Arouca do século X ao século XIII, de
Maria Helena Cruz Coelho (baseado no Cartulário de D. Mor Martins),
realizado na década de 70. O panorama apenas se alterou, de forma significativa,
a partir dos anos 90, mercê dos trabalhos, teses de mestrado e Doutoramento,
realizados nas várias universidades portuguesas». In Maria Filomena Pimentel Carvalho Andrade,
A Ordem de Santa Clara em Portugal, Séculos
XIII – XIV, Oboedientia, sine proprio,
et in castitate, sub clausura, Universidade Nova de Lisboa, FCSH, Dissertação
de Doutoramento, 2011.
Cortesia
de FCSH/JDACT