quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A Ordem de Santa Clara em Portugal. Séculos XIII – XIV. In Oboedientia, sine proprio, et in castitate, sub clausura. Maria Filomena Andrade. «O monaquismo feminino assume um papel activo na sociedade e contribui para uma leitura interpretativa do fenómeno religioso na medievalidade»

Soror Isabel do Menino Jesus, abadessa, que foi de Santa Clara
O Distrito de Portalegre, n.º 5806, 19 de Novembro de 1982
jdact e wikipedia

Resumo
«A minha investigação debruça-se sobre a Ordem de Santa Clara em Portugal, apresentando a fundação e a vida dos seus mosteiros, ao longo dos séculos XIII e XIV. Assim, preocupam-me a instituição e os processos usados para implementar as primeiras comunidades, a forma como vivem a regra e expressam a sua fé. Mas, para sobreviver um mosteiro feminino tem de possuir um património, gerido em comum, e formado pela dotação inicial dos fundadores e pelos bens dos benfeitores e de todas aquelas que ingressam nos conventos. Importa ainda captar a protecção dos poderosos e o desenvolvimento de redes clientelares, que transformam o mosteiro num centro de poder, organizador da vida e distribuidor de graças e benefícios. O monaquismo feminino assume, assim, um papel activo na sociedade e contribui para uma leitura interpretativa do fenómeno religioso na medievalidade».

Introdução
«A elaboração de uma dissertação de doutoramento constitui-se como o coroar de um trabalho académico de pesquisa e reflexão que pretende contribuir para uma compreensão da realidade, formulando um discurso interpretativo que reconheça as virtualidades mas também os limites da sua abordagem. Colocar os problemas, inquirir das suas possibilidades de verificação e o trabalho hermenêutico que se deve apoiar num esforço heurístico de procurar reunir toda a documentação disponível. Tarefa, por vezes, considerada gigantesca, devido a situação dos nossos arquivos, especialmente no que concerne a organização e disponibilização dos fundos. Mas a documentação revela-se sempre muito mais rica do que aquilo que se possa imaginar a partida e reconstruir a história que ela, simultaneamente, nos desvela e esconde e um desafio único e digno do trabalho de um historiador. Pois a importância da investigação, em especial nas áreas das ciências humanas, é uma realidade insofismável, no panorama científico que corre graves riscos de se deixar abafar pelas verdades puramente empíricas e pelos conceitos forjados na repetição exaustiva, sem conteúdo epistemológico, nem reflexão crítica. Iniciei, assim, o estudo consciente da situação que descrevi, e, por isso, reconhecia o trabalho que me esperava. Optei, após um périplo pela documentação e de uma tomada de consciência das lacunas da nossa investigação, por abordar uma temática que embora focada na história económica e social, fosse transversal a toda a realidade. Compreender o funcionamento de uma entidade, no caso vertente, de cariz religioso, e a vida dos que a constituem é um esforço totalizante que me parece, no momento da nossa historiografia, o mais importante e necessário para uma problematização da Idade Média portuguesa.
As comunidades femininas de clarissas em Portugal, durante os séculos XIII e XIV, são o objecto de estudo que elegi. Pretendo fazer uma leitura interpretativa do papel da mulher e da sua opção religiosa, bem como das implicações desta na sociedade que a cerca e com quem ela constrói uma teia de relações (a nível pessoal e comunitário). Significa esta opcção, tratar estas mulheres no seu todo, como agentes e construtoras de uma história e o protagonismo dos seus conventos, na conjuntura económica e social portuguesa. Impõe-se, por isso, antes de empreender a obra, começar por, em breves linhas, traçar um panorama da historiografia sobre o monaquismo feminino, em Portugal, a fim de enquadrar o estudo. Em Marco de 1985, no Colóquio realizado em Coimbra sobre A mulher na sociedade portuguesa. Visão histórica e perspectivas actuais, Maria Alegria Marques afirmava: A temática do monaquismo feminino afigura-se-nos como algo de apaixonante, quer pela sua vastidão, quer pelo mundo de problemas de cariz marcadamente humano e de índole social que lhe podem estar subjacentes. No entanto, entre nós, o seu estudo está por fazer e é nesse sentido que pretendemos apresentar algumas pistas de trabalho que, por certo, ajudarão ao problema. À data existia apenas o estudo monográfico sobre o Mosteiro de Arouca do século X ao século XIII, de Maria Helena Cruz Coelho (baseado no Cartulário de D. Mor Martins), realizado na década de 70. O panorama apenas se alterou, de forma significativa, a partir dos anos 90, mercê dos trabalhos, teses de mestrado e Doutoramento, realizados nas várias universidades portuguesas». In Maria Filomena Pimentel Carvalho Andrade, A Ordem de Santa Clara em Portugal, Séculos XIII – XIV, Oboedientia, sine proprio, et in castitate, sub clausura, Universidade Nova de Lisboa, FCSH, Dissertação de Doutoramento, 2011.

Cortesia de FCSH/JDACT