terça-feira, 30 de setembro de 2014

A Bela Poesia. 1957 1971. Obra Poética. Salette Tavares. «Não, não digas que não, eu empurro-te vai ver, depois, existe e fala. Agora não»

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«Sem palavras
gemidos,
sem palavras
lamentos,
sem palavras
gritos,
sem palavras
hospitais,
sem palavras
gritos, lamentos, gemidos,
sem palavras, nada mais.

A lama é sangue
e o olhar
remoto aceno de vida,
moribúndia dolorida.

Deixa o caminho do céu
abstracta comédia de anarquia.
O corredor vai por aqui
e as estrelas são portas,
brancas.
Vais ver que não trocas
os passos.
Lágrimas, sangue
submissão
ó absurdo espanto deste universo de cristos
ignorado,
ali ao lado.
E tu sem saber, só por ouvir dizer!

Não, não digas que não,
eu empurro-te
vai ver, depois, existe
e fala.
Agora não».
Poema de Salette Tavares, in ‘Espelho Cego

In Salette Tavares, Obra Poética, 1957-1971, Biblioteca de Autores Portugueses, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1992.

Cortesia de Aportugueses/JDACT