quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Lágrimas de Ametista. Maria Mar Carvalho. «Anda comigo agarrar o sonho, não o deixes diluir-se como a neve... Afaga em mim a criança suja e o passarinho que esvoaça além, solta teu ser em livre harmonia e vem colher…»

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Reencontros
«É tão triste esse olhar distante!
Mas com que força ele penetra em mim,
sinto, nele, a busca constante
de uma verdade que começa assim:
era uma vez um réptil alado,
que erguer os olhos, para o céu, ousou,
e, de repente, viu-se transformado
no primeiro homem que a terra pisou

Julgava ele que tinha ascendido
com o poder, à supra verdade,
mas não sabia o louco, convencido,
que, assim, perdera a sua liberdade.
Depois, buscando, nunca mais parou
e a um vida, somou-se outra vida,
e em caminhada longa se ficou
por terra e pó, lama convertida.
Por entre as pedras, com sangue e suor
marcha cansado e desiludido
procura e sofre por um puro amor,
tenta voltar ao tempo perdido.
E à sua volta num vazio, então,
surgem amarras, pobre acorrentado,
e já não ouve, triste, o coração
que encerra, rico, todo o seu passado.


Mas, um dia, surge, ao fundo, a luz,
no olhar breve, tão inesperado,
e não sabia, mas breve deduz
que o encontro estava, à muito, marcado.
E agora, juntos buscam o caminho,
no amor etemo, que era o seu,
porque ninguém pode fazer sozinho
a caminhada desta terra ao céu».
Poema de Maria Mar de Carvalho, in ‘Lágrimas de Ametista

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