sábado, 27 de setembro de 2014

Gomes Leal. Antologias Universais. José Régio. «Dizem mais que na seda das varetas do seu leque ducal de mil matizes… Satã cantara as suas tranças pretas, e os seus olhos mais fundos que as raízes!»

jdact e cortesia de vvolegov


A senhora duquesa de Brabante
«Tem um leque de plumas gloriosas,
na sua mão macia e cintilante,
de anéis de pedras finas preciosas
a senhora duquesa de Brabante.
Numa cadeira de espaldar doirado,
escuta os galanteios dos barões.
É noite: e, sob o azul morno e calado,
concebem os jasmins e os corações.

Recorda o senhor bispo acções passadas,
falam damas de jóias e cetins,
tratam barões de festas e caçadas
à moda goda: aos toques de clarins.
Mas a duquesa é triste. Oculta mágoa.
Vela seu rosto de um solene véu.
Ao luar, sobre os tanques chora a água…
Cantando, os rouxinóis lembram o céu..

Dizem as lendas que satã vestido
de uma armadura feita de um brilhante,
ousou falar do seu amor florido
à senhora duquesa de Brabante.
Dizem que o ouviram ao luar nas águas,
mais loiro do que o sol, marmóreo, e lindo,
tirar de uma viola estranhas mágoas,
pelas noites que os cravos vêm abrindo…
[…]
Poema de Gomes Leal (parte), in ‘A Alberto Osório de Castro’

JDACT