Rede de Património de Portalegre, edificado, móvel e imaterial
Introdução
«O Museu Municipal
de Portalegre foi inaugurado em 1918,
mas só na década de 60, aquando da sua transferência para o actual edifício, se
tornou parte activa e integrante da cidade. Adaptado o imóvel e organizada a
colecção permanente, o museu proporcionava ainda espaços para conferências e
exposições temporárias que, durante anos, dinamizaram a vida cultural de
Portalegre. Polivalente, apresenta diversas colecções, acrescentadas por doações
particulares ao acervo inicial de arte sacra. Elemento de referência, fazia
parte do itinerário das visitas oficiais, tendo constituído um campo de
múltiplas representações e um espaço de comunicação efectiva com os públicos,
que os periódicos da época tão bem expressam e cuja análise constitui o
objectivo do nosso trabalho. Actualmente, o museu encontra-se encerrado para
uma profunda remodelação (reabertura ao público no pp dia 30 de Janeiro de
2013, JDACT), pretexto para fazer uma reflexão final sobre o seu futuro na
perspectiva de melhor comunicar com a sua audiência.
Enquadramentos
Da génese do museu à reformulação nos anos 60 (…)
por proposta do mesmo senhor, Laureano Sardinha, deliberou
crear nesta cidade um museu e biblioteca municipal para o que nomeou uma
comissão para levar a efeito estes melhoramentos(…)
O Museu Municipal
de Portalegre foi criado no contexto ideológico da 1.ª República, num
esforço de descentralização que teve expressão por todo o país. Apesar de já
antes, nos finais do século XIX, ter sido proposta a ideia, porque uma capital
de distrito deveria ter o seu museu, a verdade é que na época nunca o projecto
se concretizou. Só em 1918, por
iniciativa de Laureano António Picão Sardinha é deliberada a criação do museu (juntamente
com a biblioteca municipal), em reunião ordinária de 21 de Fevereiro. Abre
ao público nesse mesmo ano, a 21 de Dezembro, numa pequena sala do
edifício da Câmara Municipal. Percebemos que a criação do museu nessa época
correspondeu mais a um propósito da Câmara, (na pessoa do seu vereador), do que
propriamente a uma aspiração da sociedade portalegrense. A sua inauguração não
teve grande impacto, pois não se registam notícias na imprensa local. Na
verdade, a colecção inicial era muito reduzida compreendendo apenas quatro
altos relevos de marfim, um cristo crucificado e uma Nossa Senhora da
Conceição, também de marfim provenientes do convento de São Bernardo.
Os primeiros tempos
do museu foram atribulados e em 1932
é transferido para a Igreja do Convento de São Bernardo, onde já se encontrava
a biblioteca. Porém, à época estava instalado no convento o Batalhão de
Caçadores n.º 1 e as dificuldades do acesso público ao museu para a realização
de visitas, criaram a necessidade de nova transferência, para outro local: Criado
assim esse museu e por alguns anos patente no velho convento cisterciense, que
no dizer do padre Diogo Pereira de Sotto Maior, naquele local se
situou, por ficar à vista da cidade, ali ficou com certos prejuízos,
resultantes de se encontrar dentro de um quartel, o que dificultava por vezes o
papel que lhe competia de ser um lugar elegíaco, destinado a ensinar as
gerações através [d]a sua abençoada missão de contar e encantar. A
colecção inicial foi entretanto aumentada. Em 1943, Luís Keil destaca-nos e identifica mais de uma dezena de
objectos, particularmente de arte sacra, de entre um acervo onde também constam
objectos arqueológicos e referentes à história da cidade. Já na década de 50,
sendo presidente Martinho A. A. Coutinho, a Câmara adquire a colecção privada
de Laureano Sardinha, nomeadamente tapeçaria e faiança. Em finais dos anos 50,
por iniciativa do vereador Raul G. Tavares, a Câmara decide então transferi-lo,
juntamente com a biblioteca, para o antigo Seminário situado junto à Sé
Catedral, no qual se fizeram obras de adaptação: Existiam várias obras de
arte dispersas nas salas do andar térreo, provenientes do Museu da Câmara
Municipal, que tinha parte da sua sede no Convento (…) de S. Bernardo. Tudo
então se encontrava em obras e ia germinando o plano do qual havia de resultar
a actual instalação. Uma notícia informa-nos que em Maio de 1959 se procede ao acabamento das obras
do edifício onde se encontram instalados o museu e a biblioteca considerando
que era um dos problemas citadinos que requeria a melhor atenção». In Susana Bicho, O Museu Municipal de
Portalegre, Campo de Representações, Espaço de Comunicação, Rede de Património
de Portalegre, edificado, móvel e imaterial, Museu Municipal, História do
Edifício e do Museu, Fundação Robinson, Publicações
da Fundação Robinson nº 16, Portalegre, 2011, ISSN 1646-7116.
Cortesia
FRobinson/JDACT