quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A Infanta dona Maria de Portugal. O Mecenato de uma Princesa Renascentista. Carla A. Pinto. «Dona Leonor planeia então uma visita, breve, a realizar-se junto da raia portuguesa, onde veria a filha que deixara há mais de trinta anos»

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A “Sempre-Noiva”. Política matrimonial e Diplomacia paralela
«(…) João III morre em Junho de 1557 sem ter autorizado a saída da Infanta e os preparativos para a partida desta são interrompidos a pedido da rainha (dona Catarina terá interrompido as negociações para a saída da Infanta para Castela no contexto da pressão que sofria, por um lado, de Carlos de Habsburgo para que aceitasse o juramento do seu neto como herdeiro de Portugal à morte do monarca Sebastião I e, por outro, da população portuguesa que vira com muito desagrado a visita de legados espanhóis a Portugal tão próximo da morte do rei; contudo, não se pode ver nesta atitude qualquer submissão ao irmão; é antes um tactear de terreno, pois são as próprios embaixadores do imperador que confessam: … quanto à rainha, apesar de querer a Carlos V como a um pai e senhor e reconhecer que esta aqui de su mano, o seu fim principal era defender o interesse do reino português [...] que, sendo preciso, a própria rainha daria batalha ao imperador; nos negócios da infanta dona Maria mostrara-se tão firme como el-rei falecido», mas também por altas razões de Estado, uma vez que o único herdeiro da coroa tinha pouco mais de 2 anos e o reino não via com bons olhos a saída de uma legítima filha de Manuel I. Pensando na hegemonia peninsular, Carlos V mandara chamar a Castela a filha dona Joana (todavia, dona Joana, porque interessada em que o seu filho fosse o incontestado rei de Portugal, terá agido mais como interlocutora de Portugal na corte carolina) com o intuito de não dividir o partido espanhol na questão da sucessão à coroa portuguesa, e empenha-se pessoalmente na rápida partida da Infanta para Castela (Carlos V envia rapidamente para Lisboa Francisco Borja, embaixador plenipotenciário, amigo de infância de dona Catarina, com o intuito de influenciar a política interna portuguesa; uma das missões de Borja era apressar a partida da Infanta: … a cuja diligencia veyo a este Reyno por mandado do Emperador, o glorioso Francisco Borja, duque, que tinha sido de Gandia, e agora religioso da Companhia de Jesu, o qual à volta de visitar a rainha, e o cardeal, e dar-lhes os pezames da morte delrey, trouxe a incumbencia de tratar apertadamente deste negocio, sobre que o dito Emperador estava muito empenhado por parte da dita irmãa, e de si mesmo tambem por lhe fazer o gosto) já não com o intuito de contentar a irmã, mas por razões mais fortes que passavam pelos direitos de sucessão ao reino de Portugal e assim impedir qualquer veleidade de dona Maria. Mas esta via mais alto e não queria ir para Castela: o casamento com Fernando torná-la-ia imperatriz (em 1562, ainda: … falava-se em Castela do casamento da infanta dona Maria com o velho imperador, em que dona Joana não podia acreditar, pela diferença de idades, pela consideração dos filhos de Fernando I, por questões de dote, etc.; em Castela comentava-se tal notícia como resultante da vontade de dona Maria em ser imperatriz nem que fosse por uma hora; com base numa carta de dona Joana para Lourenço Pires Távora, de 17 de Janeiro de 1562), e o seu nome era apontado como legítimo herdeiro do trono português (podia ser chamada à coroa dona Maria, filha do casamento de Manuel I com dona Leonor de Áustria).
Dona Leonor, uma vez mais contrariada nos seus intentos, planeia então uma visita, breve, a realizar-se junto da raia portuguesa, onde veria a filha que deixara há mais de trinta anos. As rainhas dona Leonor e dona Maria partem para Badajoz ao encontro de Infanta. Não decerto por acaso, dona Maria tardou mais de dois meses a ir ao encontro da mãe, segundo o biógrafo da Infanta a demora tornou-se tão desagradável que dona Maria da Hungria chegou a querer partir (aliás, esta entrevista foi recheada de incidentes; a desconfiança dos portugueses em relação aos castelhanos reflectiu-se no comportamento da comitiva da Infanta e muitos castelhanos escusaram-se a acompanhar as rainhas até Badajoz). O atraso devia-se ao receio, decerto ardilosamente provocado pela Infanta (após a morte de João III e da designação não testamentária da rainha dona Catarina como regente, o Conselho, depois de reunir e deliberar pela justeza da medida, decide ouvir o parecer da cidade de Lisboa estabelecendo um laço jurídico entre o conselho e o poder da primeira cidade do reino, que representava os povos em cortes; dona Maria reedita este laço, usando a cidade e a sua legitimidade como demonstração do seu poder), que a câmara da cidade de Lisboa e a sua população tinham de que a Infanta não voltasse da estada em Badajoz. A solução encontrada foi um juramento público em como dona Maria regressaria da cidade estremenha. Dona Leonor pouco tempo resiste à separação, morrendo a 25 de Fevereiro de 1558, cerca de quinze dias depois de deixar a filha. No mesmo ano morrem Carlos V, dona Maria da Hungria e dona Maria Tudor, deixando Filipe de Castela viúvo pela segunda vez e candidato pela terceira à mão de dona Maria». In Carla Alferes Pinto, A Infanta Dona Maria de Portugal, o Mecenato de uma Princesa Renascentista, Fundação Oriente, 1998, ISBN 972-9440-90-5.

Cortesia da Fundação Oriente/JDACT