quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Tai-Pan. James Clavell. «… em chinês, significava chefe supremo. Numa companhia, exército, armada ou nação só há um homem desses, aquele que exerce o poder absoluto. Pois, disse Struan. Ele era o Tai-Pan da Casa Nobre»

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«Dirk Struan subiu à tolda do navio-chefe H.M.S. Vengeance e caminhou em direcção ao portaló. O navio de linha, de 74 peças estava ancorado a meia milha da ilha. Em torno estavam os restantes dos navios de guerra da esquadra, os navios para o transporte das forças expedicionárias, os navios de carga e os veleiros do ópio dos negociantes chineses. Amanhecia, naquela cinzenta e fria terça-feira, 26 de Janeiro de 1841. Enquanto Struan caminhava pelo convés principal, ia olhando para a praia e sentia a excitação fervilhar dentro de si. A guerra com a China fora como ele planeara. A vitória havia sido alcançada de acordo com suas previsões. O prémio da vitória, a ilha, era algo que ele cobiçava há vinte anos. Agora, ia desembarcar para presenciar a cerimónia de posse, para ver a ilha chinesa tornar-se uma jóia na coroa de sua majestade britânica, a rainha Vitória. A ilha era Hong Kong. Trinta milhas quadradas de pedra montanhosa, ao norte da embocadura do grande Rio Pérola, ao sul da China. A novecentos metros do continente. Inóspita. Árida. Desabitada, tendo apenas ao sul uma pequena vila de pescadores. Exactamente no caminho das monstruosas tempestades que explodiam todo ano, originadas no Pacífico. Limitada a leste e a oeste por perigosos baixios e recifes. Sem utilidade para o mandarim, nome dado a qualquer oficial do império chinês, em cujos domínios ficava. Mas Hong Kong continha o maior porto da terra. E era o trampolim de Struan para a China. Aguentem aí!, bradou o jovem oficial de vigia ao fuzileiro de capote vermelho. A embarcação do sr. Struan para o portaló dos oficiais. Sim, senhor! O fuzileiro inclinou-se por sobre a amurada e repetiu a ordem…
Struan era um homem gigantesco, com o rosto castigado por mil tempestades. A sua casaca azul tinha botões prateados e as calças brancas e apertadas estavam enfiadas, descuidadamente dentro das botas. Estava armado da maneira usual, uma faca na prega da casaca e outra na bota direita. Tinha quarenta e três anos, cabelos ruivos, olhos verdes-esmeralda. Struan olhou a ilha, por um momento. Depois, virou-se para o contramestre. Larga! Afinal, depois de tanto tempo, hein, Tai-Pan?, disse Robb. Tai-Pan, em chinês, significava chefe supremo. Numa companhia, exército, armada ou nação só há um homem desses, aquele que exerce o poder absoluto. Pois, disse Struan. Ele era o Tai-Pan da Casa Nobre.
Uma trampa p’ra esta fedorenta ilha, disse Brock, cujo olhar percorria a praia e se elevava pelas montanhas. A China inteira a nossos pés, e tudo que conseguimos é este rochedo estéril e inútil e encharcada. Ele estava na praia, acompanhado de dois de seus colegas negociantes na China. Espalhados em torno deles, havia outros grupos de negociantes e oficiais da força expedicionária. Estavam todos à espera de que o oficial da Marinha Real começasse a cerimónia. Uma guarda de honra de vinte fuzileiros encontrava-se formada em duas linhas bem arrumadas, junto ao mastro, o tom escarlate dos seus uniformes como um repentino salpico de cor. Perto deles, havia grupos desarrumados de marinheiros que haviam acabado de lutar para trazer aquele mastro e a sua bandeira até o solo pedregoso. Oito badaladas era a hora de içar a bandeira, disse Brock, com a voz rouca de impaciência. Já se passou uma hora. P’ra que raio é esta demora?
Dá má joss praguejar à terça-feira, sr. Brock, disse Jeff Cooper. Era um americano magro de Boston, com nariz adunco, e usava casaca negra e chapéu alto de feltro, com uma inclinação audaciosa. Muito má! O companheiro de Cooper, Wilf Tillman, ficou hirto ao sentir a intenção empertigou-se ligeiramente, sentindo as ocultas arestas dnos fazem falta, a voz nasalada do companheiro mais jovem. Era atarracado, rubicundo e natural do Alabama. Eu digo-lhe como é, toda esta estuporada caca de mosca é que dá má joss!, Brock. Joss significava em chinês Sorte e Destino e Deus e o Diabo ao mesmo retorquiu tempo. Infernalmente má. Melhor que não seja, senhor, disse Tillman. O futuro do comércio da China está agora aqui, com boa ou má joss. Brock olhou-o com firmeza. Hong Kong não tem futuro nenhum. Portos abertos no continente chinês é que precisamos, e vocês sabiam-no, c’os diabos!» In James Clavell, Tai-Pan, 1966, tradução de Maria Teresa Ramos, Editorial Ibis, Círculo de Leitores, 1982.

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